Há poucos dias recebi uma mensagem de um leitor bastante preocupado com a relevância que o tema ‘empreendedorismo’ vem ganhando em todas as esferas. De fato, se prestarmos atenção, veremos que o empreendedor é uma figura que alçou o posto de ‘salvador da pátria’, a economia precisa de empreendedores, os líderes precisam ser empreendedores, candidatos a prefeito adotaram o termo em seus discursos para conseguir votos, passando pelo mundo da moda, pelos esportes, pela arte e na família, todo mundo tem que ser empreendedor.
A apreensão surge ao fazer qualquer tipo de teste de perfil empreendedor. Quando os resultados indicam que a pessoa não gosta de mudanças, não aceita correr riscos, não vislumbra um futuro muito além do mês seguinte, não é comunicativo nem espontâneo, não é criativo, tem péssimo faro para oportunidades e é pouco organizado, o que se pode fazer? simplesmente não há espaço para ele neste mundo de empreendedores?
Bem, a minha resposta é a seguinte: Não se desespere, pois o mundo não vai acabar para você por não ter as características do empreendedor de sucesso. A Terra continuará a girar, o Sol continuará a se por ao final de cada dia, as empresas continuarão suas atividades mercantis e as pessoas continuarão as mesmas por um longo tempo. Em primeiro lugar, precisamos nos anestesiar um pouco da disseminação imprópria do termo ‘empreendedorismo’ pelo mundo afora. O perfil empreendedor representa aquilo que sempre se valorizou em mercados competitivos no mundo inteiro, simplesmente acharam um termo que explica o que todo mundo já sabia: As pessoas precisam ter iniciativa e assumir a responsabilidade pelas realizações que trarão benefícios para si e para a comunidade. A popularização e massificação de expressões como esta refletem os ‘modismos’ empresariais que ajudaram a vulgarizar muitas das conhecidas ‘buzzwords’ como liderança, teamwork, inovação, qualidade, entre tantas outras. As mais recentes são resiliência e assertividade.
Em segundo lugar, os não-empreendedores também são importantes. A despeito dos avanços na tecnologia, as atividades rotineiras ainda fazem parte de qualquer trabalho. Ainda vamos precisar de pessoas que, sem criatividade, ajudem a ‘carregar o piano’. Ainda precisaremos de pessoas que vejam sentido no lado bom da burocracia, que pode ser traduzido por ‘Organização’. De forma alguma poderemos dispensar aqueles que se satisfazem em cumprir o seu horário de trabalho e fazem aquilo que foi determinado na sua descrição de cargo. O problema é que antes do ‘boom’ sobre o assunto, os empreendedores estavam, dentro das empresas, no mesmo nível que os demais ‘mortais’ e seu potencial estava se neutralizando por conta dos paradigmas corporativos que impediam, e impedem, a manifestação deste tipo de talento.
Em terceiro lugar, já pensou uma seleção brasileira só de Ronaldos? Um time só é completo e efetivo se tiver bons goleiros, bons atacantes, bons zagueiros, bons pontas, bons meios-de-campo, com habilidades distintas. Um bom finalizador geralmente é péssimo na marcação. Excelentes armadores de jogadas podem ser uma negação ao orientar a defesa. O que quero dizer é que existem diversos tipos de empreendedores, tudo depende da habilidade necessária para o projeto. Por isso, antes de assumir que você não é empreendedor, procure saber que TIPO de empreendedor você não é e de repente você pode até descobrir que pode ser OUTRO tipo de empreendedor. Não existe o empreendedor completo, o super-homem que possui todas estas propaladas qualidades. O que existe é um rol de habilidades utilizadas para determinadas necessidades. Um cara criativo, junto com um bom administrador, assessorado por um especialista no assunto, formam uma Equipe Empreendedora. E, no final das contas, é isso o que conta e não um único responsável por tudo.
Por último, só porque você não tem um perfil empreendedor, não quer dizer que não possa adquirir este perfil. Existem várias escolas que estudam o empreendedorismo, algumas dizem que o empreendedorismo é inato, outras dizem que pode ser desenvolvido. Eu, conhecendo todas as escolas, digo que todas estão certas. Algumas características/comportamentos são inatas, mas outras habilidades podem ser desenvolvidas, dadas as devidas condições. Independentemente da origem cultural, formação educacional ou experiências vividas, qualquer pessoa pode aprender a empreender. Criatividade pode ser treinada, técnicas de gestão podem ser aprendidas, relacionamento pessoal pode ser desenvolvido. O importante é saber qual o seu potencial empreendedor, que habilidades você tem mais suscetibilidade para desenvolver. O processo de auto-conhecimento é fundamental para definir a linha de formação. Conhecendo seus pontos fortes e fracos, seus desejos e expectativas, suas experiências positivas e negativas, seus prazeres e desprazeres, você terá como traçar um plano de desenvolvimento de algum dos vários perfis empreendedores que existem.