O que falar daqueles pseudoclientes, ‘colegas’ e ‘parceiros’ que insistem em inventar historinhas mequetrefes para conseguirem consultoria gratuita ou obterem informação de mercado aos seus respectivos negócios/projetos?
É rasteiro! É nauseabundo! Absolutamente covarde. Amar a profissão não significa trabalhar de graça! Chega de graça! Trabalhar pressupõe uma relação financeira. Não existe almoço grátis, já aponta a expressão nascida na década de 1940.
Quem nunca passou – seja você uma agência, um consultor independente ou escritório de consultoria e treinamento de marketing (como eu e minha equipe) – por uma situação que acabou trabalhando de graça por confiar em quem não deveria? Oportunistas atrás de consultoria gratuita são muitos e representam o fim do mundo. Esse tipo de atitude, desrespeitosa, escatológica e medíocre, me causa um horripilante e desdenhoso sentimento de repulsa. É comportamento de profissional fraco, amorfo e hórrido. Escória. Alguém, por um acaso, meus prezados amigos, enche o carrinho de chocolates no supermercado e sai sem pagar? Há alguma possibilidade de comermos em um restaurante com a namorada ou noivo e pagar com um belo sorriso irônico? Não. Claro que não!
A analogia pode ser simples, mas é correta. Nós também não estamos disponíveis para um descompromissado happy hour que seria regado a valiosas dicas de marketing para qualquer pessoa ou empresa. Conhecimento merece respeito e dinheiro. E não que eu defenda que todos cobrem preços de serviço premium. Cada um sabe a real competência, prestígio, intelecto e talento que possui. E isso pode ser definido- aliás, só assim pode ser feito – pelo julgamento do mercado.
A palavra respeito vem do latim respectus, particípio passado de respicere: “olhar outra vez”. Empreendedores, executivos e afins (sem generalizações, pois me refiro à minoria), olhem outra vez e valorizem os serviços de consultores/profissionais de marketing. Caros colegas profissionais da ideologia da empresa moderna, por obséquio, também olhem outra vez, valorizem a si mesmos e seus colegas! Oras, verdade seja dita: agências de propaganda são as que mais sofrem com oportunismo vagabundo. Empresas levantam uma concorrência com dez agências. Assistem e anotam cuidadosamente à apresentação de todas. Contratam a mais barata e sugerem as ideias da que realmente merecia ganhar. Medonho, não é mesmo? É lastimável!
Colegas de profissão também precisam superar a Síndrome de Gérson (princípio em que determinada pessoa age de forma a obter vantagem em tudo que faz). Devem tomar uma injeção de bom-senso (eu admito que, privadamente, refiro-me a esses patifes malcriados furibundos em tons muito mais impróprios). Agências (sem generalizações, pois trabalhamos com muitas delas que são corretas), por exemplo, adoram tirar vantagem de consultores. Não faz tanto tempo vivi um indecoroso caso exatamente com essa característica. “Estamos no meio de uma concorrência, será que alguém do escritório de vocês pode vir até nós imediatamente para nos ajudar?”. Apesar de todos os deadlines e compromissos que, graças a Deus, nosso escritório, localizado na Av. Faria Lima em São Paulo, é bastante requerido a cumprir (nosso trabalho é sério), fomos até lá. Depois de um belo papo recheado de direcionamentos para ganharem (ou quase), a tal concorrência, proposta enviada… e nem um e-mail de agradecimento, feedback ou ligações atendidas (as desculpas mais estapafúrdias possíveis foram inventadas). Quando a idiotia encontra-se com a má fé e a estripulia moleca. O nome da agência é Doca8. Doca8. Doca8. Repetindo: Doca8. Doca8. Doca8. Doca8.
Mas há outras situações, claro. Ao menos duas estão fixas em minha mente, martelando nestes últimos dias. Situação 1: um possível concorrente (independente de ser mais bem estabelecido ou não no mercado) lhe chama para um almoço ou café para trocar ideias sobre a conjuntura mercadológica. Nada demais nisso, prática saudável. O problema é que só uma pessoa fala e a outra só escuta, um típico caso de averiguação. É patético, pois a pessoa trata quem tem boa fé como um tonto, chegando a acreditar que você não está ciente que está sendo averiguado. Situação 2: concorrente direto, na caricatura de um amigo, em conversas informais começa a formular quinhentas perguntas sobre sua empresa, praticamente querendo que você entregue os 5 Ps da sua estratégia de bandeja. Isso é bisonho. Que fique claro: Benchmarking e inteligência competitiva são disciplinas sérias e com nenhuma relação com esse show de horrores.
No conto infantil de Chapeuzinho Vermelho, a menina é seduzida pelo lobo e, logo depois, desonrada e usurpada. Nem Chapeuzinho Vermelho, nem Lobo Mau. Sejamos firmes. Vacinados. Justos. Sensatos. Profissionais. Não exercitemos a pistolagem rasteira e a cretinice. Não trabalhemos de graça. Não sejamos bananas coniventes com o desprestígio de nossa função. Não é justo com os clientes que nos pagam, acreditam, respeitam e nos prestigiam. Não é justo com nós mesmos! Repito: amar a profissão não significa trabalhar de graça.