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Não é fácil ser intraempreendedor

Algumas das dificuldades que certamente o intraempreendedor enfrentará está no processo de implementação de uma inovação no processo ou no produto.

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Um dos motivos pelos quais o empreendedorismo não ganha mais força dentro das organizações é que a empresa quer proteger demais seus funcionários. Na ânsia de buscar maior produtividade através da satisfação do funcionário, ela acaba por paparicar demais as pessoas e gera condições que acabam por incentivar mais a lassidão do que o empreendedorismo. Aliás, para falar honestamente, tenho encontrado mais intraempreendedores em empresas tradicionais, burocráticas e arcaicas do que nas empresas modernas e inovadoras.

 

Parece uma contradição, e é mesmo. O verdadeiro intraempreendedor surge normalmente em situações de adversidade, ambientes hostis e agressivos às iniciativas empreendedoras. Como o intraempreendedor é movido a desafio, ele encontra nestes ambientes a provocação que o desafia a levar adiante sua ideia. Ser um intraempreendedor em uma empresa moderna é relativamente fácil, pois a empresa procura criar as condições para que eles se manifestem. Eles contam com toda uma estrutura mobilizada para favorecer a implantação de suas ideias.

 

As empresas reconhecidamente orientadas ao comportamento empreendedor criam condições diferentes para ‘forjar’ verdadeiros intraempreendedores. Quando um funcionário tem uma boa ideia, a empresa não deve bancar sozinha a ideia e assumir os riscos inerentes ao empreendimento. O intraempreendedor também tem que correr riscos. Ao invés de entregar os recursos de ‘mão beijada’ para os funcionários com boas ideias inovadoras, elas colocam empecilhos e dificuldades, do tipo: ‘Faça uma projeção da relação custo/benefício da ideia proposta’ ou ‘Descreva todos os componentes da equipe que serão envolvidos no projeto’. Desta forma, o intraempreendedor precisa se esforçar para trazer argumentos concretos de que vale a pena investir em sua ideia. Outros funcionários desistiriam logo de cara, reclamando que o processo é muito ‘burocrático’.

 

Outra forma é exigir do intraempreendedor uma contrapartida ao risco financeiro assumido pela empresa para o projeto proposto. O pressuposto é que o intraempreendedor de verdade precisa correr algum grau de risco, não necessariamente financeiro. Esta contrapartida pode ser na forma de dedicação de horas extras ao projeto, sem remuneração ou alocação de recursos pessoais como contatos ou conhecimento e sem nenhuma garantia que haverá uma recompensa no final do processo.  De uma forma geral, apesar de estar, aparentemente, ‘protegido’ pela estrutura corporativa, o intraempreendedor não deve achar que pode se dar ao luxo de errar só porque não são seus bens que estão em jogo. Normalmente, as empresas entram com recursos financeiros e proporciona a estrutura para atender as necessidades do projeto. Mas é exigido do empreendedor uma certa dose de dedicação além das responsabilidades do cargo e além dos limites de horário e local de trabalho. O empreendedor investe o seu conhecimento e o seu tempo nestes projetos. Quanto maior o comprometimento que ele demonstra, maior é a credibilidade sobre o seu projeto e maior é a contrapartida de envolvimento da empresa.

 

Algumas das dificuldades que certamente o intraempreendedor enfrentará está no processo de implementação de uma inovação no processo ou no produto. Cada mudança representa uma ameaça para as pessoas, sobretudo porque faz parte da natureza humana manter o status quo, manter a situação atual. Mudança, para a maioria das pessoas gera desconforto, desequilíbrio, novas reações, pensamentos, opiniões, a necessidade de se esforçar para se adaptar. E é por isso que as pessoas resistem ao processo de mudança, não querem mudar para não ter que aprender de novo, mexer no que está funcionando, encarar a incerteza.

 

Os gerentes, por sua vez, também têm motivos para não apoiar os empreendimentos individuais:
– Mesmo que não queira, o intraempreendedor possui um brilho próprio, por suas próprias características, que ofusca o gerente. Quanto maior for a diferença em termos de níveis hierárquicos entre o funcionário e o gerente, maior é este sentimento de inferioridade e insegurança do gerente.
– O intraempreendedor assume, com a empresa, riscos sobre o projeto, o gerente fica no meio do caminho, sem poder assumir riscos, nem paternidade, nem as glórias eventuais do projeto. Por isso, ele não quer se envolver, não quer assumir as responsabilidades inerentes ao cargo e nível de supervisão que ele exerce sobre seu funcionário empreendedor.
– O gerente perde poder com o intraempreendedor. Adquirir o status de empreendedor é ter as portas abertas mais facilmente, o que acarreta num nível de independência com relação ao chefe que o leva novamente a sentimentos de insegurança e inveja.
– Prioridades departamentais, de responsabilidade do intraempreendedor, são relegadas a segundo plano, comprometendo os objetivos corporativos do gerente, que, obviamente, não fica satisfeito com esta perda de controle.
– O gerente tem, invariavelmente, dificuldade em lidar com falhas e erros de seus subordinados, pois no final, a responsabilidade pelas falhas acaba sendo sua. Isso o torna mais intolerante com seus funcionários.empreendedores.

– As relações hierárquicas ficam comprometidas. O intraempreendedor tem compromisso dividido entre o seu projeto e o seu chefe, o que gera alguns conflitos difíceis de serem controlados pelo gerente.

 

Ser um empreendedor tradicional, abrindo um próprio negócio tem suas dificuldades e problemas, é claro, mas ser um empreendedor interno também tem suas dificuldades. Não são as mesmas, mas são tão difíceis de se lidar quanto os outros.

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Marcos Hashimoto
Professor de Empreendedorismo da Universidade de Indianapolis e co-fundador da Polifonia, escola de Protagonismo Criativo de São Paulo. Consultor e palestrante. Exerceu cargos executivos em multinacionais como Citibank e Cargill Agrícola. Autor dos livros - Espírito Empreendedor nas Organizações e Lições de Empreendedorismo. Autor do software de plano de Negócios SP Plan. Professor visitante da Universidade do Texas em San Antonio e professor mentor do programa REE Fellows da Universidade de Stanford

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