Início Artigos Gabriel Rossi Sociografia: um novo conceito de análise para as marcas

Sociografia: um novo conceito de análise para as marcas

Com a análise sociográfica é possível analisar como os consumidores se relacionam uns com os outros.

0

Um pouco mais de 50 depois de Theodore Levitt escrever o artigo Miopia em Marketing e nos ensinar a jogar fora os velhos espelhos e olhar pela janela, baseando as ações com base no mercado e no cliente, a sociedade e o contexto do consumo mudaram completamente. Hoje, estamos conectados globalmente graças à internet. Este cenário recente, de conjuntura dinâmica e de pessoas conectadas, apresenta um desafio para empreendedores, governos e os profissionais de marketing, que demandam de uma necessidade cada vez mais urgente de entender seu público: Agora, no mundo virtual, devemos falar em Sociografia – estudo e pesquisa do comportamento do internauta.

 

Toda essa conexão global e ágil, que diminui distâncias e propicia uma grande aldeia virtual, não significa a unificação de pensamentos nesta teia de informações. Pelo contrário. Por mais que as empresas e seus departamentos de marketing digital tentem influenciar os seus stakeholders, cada um deles tem perfil, motivações, hábitos e desejo próprios. Compreender estas diferenças, nuances e, principalmente, necessidades é uma parte crucial de qualquer estratégia. É também justamente onde muitos pecam, inclusive o marketing digital.

 

Há certa euforia causada pela evolução tecnológica e a novidade da mídia social. As empresas e boa parte dos ‘especialistas’ de marketing ainda estão com a visão turva, preocupados em identificar as tecnologias sociais utilizadas pelos consumidores, mas não o seu comportamento online, que deveria ser o centro da questão. Toda estratégia sólida na web social começa com pesquisa e aprendizado. É impossível desenvolver uma análise coerente sem traçar, por exemplo, o perfil sociográfico do seu público – alvo, ou seja: Onde ele está? Quem ele influencia e por quem é influenciado? Como ele usa as tecnologias emergentes no ponto de vista da marca e do produto?

 

Até agora, as marcas e empresas, quando se dispõem a entender seu público-alvo, se limitam aos aspectos geográficos (onde o cliente mora), demográficos (idade, gênero, etc.) e psicográficos, ou seja, o que importa para ele. Só que isso não é mais suficiente: Neste mundo digital, onde online e offline são cada vez mais indivisíveis, faz-se necessário estudar também o comportamento do internauta. Por isso, a Sociografia desponta como um fator de peso: Sem ela as estratégias correm o risco de ficar desconexas da realidade, estéreis e míopes.

 

É preciso considerar que nas redes sociais este consumidor pode ser um observador, um compartilhador de conteúdo, um comentarista, um criador ou um curador (não um fã da marca, mas, sim, um conselheiro). O conjunto destes perfis, que podem ser visualizados com um nível de abrangência dos internautas respectivamente menor de um para o outro, é a chamada pirâmide de engajamento. Com a análise sociográfica é possível analisar como os consumidores se relacionam uns com os outros e em que patamar da pirâmide está cada um, direcionando a análise e, assim, melhorar a estratégia.

 

Necessário também é desconfiar dos especialistas em Twitter, blogs e afins. Não se constrói nenhuma estratégia ao redor de ferramentas, pois elas são justamente uma etapa posterior neste processo. Hoje, o consumidor quer ser surpreendido no bom sentido, quer ser levado para novos territórios. Para atender a estes anseios as marcas precisam se mexer, evoluir e injetar dinamismo e criatividade nas suas estratégias, que só terão sucesso efetivo se a pesquisa acima for adotada.

Antes de tudo, busque relevância e o que realmente fará diferença, que encantará seu público, de acordo com os seus objetivos. E, nisto, a análise sociográfica é essencial, pois trata-se de escutar o consumidor de modo mais refinado. Para o pessoal que costuma enxergar de dentro pra fora, tendo a web e o marketing como nada mais que uma caixa de ferramentas, há duas escolhas: abster-se de estudar o comportamento do consumidor online e assim correr o sério risco de assistir o julgamento de sua negligência em praça pública, ou redimensionar sua estratégia atual, evitando desperdícios e verdadeiramente ouvindo seu público -alvo. Você continuará com seus espelhos ou começará a olhar pela janela?

Artigo anteriorA “venda consultiva” contraria o Marketing e decreta o fim do negócio
Próximo artigoMarcas são verbos
Gabriel Rossi
Palestrante profissional em marketing, estrategista especializado na construção e gerenciamento de marcas e reputação, e diretor-fundador da Gabriel Rossi Consultoria, com passagens por instituições como Syracuse/Aberje, Madia Marketing School, University of London e Bell School. Especialista convidado para lecionar no curso de extensão da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP) e na Pós Graduação de Marketing da USP. Referência de mercado, Gabriel é atualmente o profissional no país mais requisitado pela grande mídia (mainstream) para falar sobre marketing. Escreve e é citado extensivamente, sendo colunista de portais de destaque como Observador Político, possui diversos artigos e estudos publicados no Estadão, o Globo, Brasil Econômico, Correio Braziliense, JT, UOL, HSM e colabora com veículos como Bandnews TV, Folha de São Paulo, Revista Nova, Veja, Portal G1 , entre inúmeros outros. Rossi e sua equipe atuam tanto no campo político como no empresarial. Eles trabalham com empresas internacionais como Petrobrás, The Marketing Store e Tetra Pak, além de candidatos ao Senado Federal. Rossi participou de momentos históricos importantes, sendo comentarista especial da TV Estadão no primeiro e segundo turno das eleições 2010 e comentarista oficial durante a posse da presidente Dilma Rousseff para a rádio Eldorado.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui