O tiro no pé de Bel Pesce transpareceu as intenções de alguns empreendedores sem autenticidade. Embora nem tudo seja uma farsa, é importante entender como o setor do sonho funciona – e não é com fórmulas genéricas e preguiçosas
Empreender no Brasil é coisa para malucos, brigadores, atletas, fênix, sofredores de insônia, masoquistas ou um pouco de todos. Muito se apanha nesse meio e no fundo é cada um por si mesmo. O Brasil é sem dúvida um dos lugares mais inóspitos do mundo para empreender, além de ingrato. E ainda há cretinos que criticam essa classe por razões políticas. Alguém, com o emprego garantido em algum órgão estatal e o discurso vetusto contrário ao capital, quer trocar comigo por uma semana? Duvido! Bom, isso é tema para um outro artigo…
O mercado é uma selva. Aliás, existe uma parva gourmetização do empreendedorismo brasileiro. Declamam o sucesso e fómulas mágicas. Irresponsáveis, para dizer o mínimo. Nunca foram nem síndicos de prédio, ainda assim eles conseguem iludir milhares de pessoas usando artifícios ardilosos, historinhas bonitinhas: competências sob hipérboles. É deprimente!
Fala-se muito sobre Bel Pesce. Seu tiro no pé foi a criação de um crowdfunding para o financiamento de um novo empreendimento em parceria com o blogueiro Zé Soares e o último vencedor do programa Master Chef, Leonardo Young. A sociedade era em pró da Hamburgueria Zebeléo e a meta eram 200 mil reais: seria lindo se não fosse criado por pessoas que não precisam pedir dinheiro para investimentos.
Nunca tive muito contato com o trabalho de Bel Pesce como empreendedora, nem palestrante, mas certamente deve ter qualidades pelo destaque que vem recebendo na mídia. Desconfia-se ainda que Pesce maquiou o próprio currículo, entre outras coisas. Oras, há boas possibilidades dela se enquadrar no objeto de análise deste artigo. Mas não me sinto confortável em usar um “boi de piranha” para fortalecer uma ideia e posicionamento. Quero ir contra essa mania das pessoas excessivamente conectadas que agem com histeria coletiva. Alguém acredita que pode melhorar a própria empresa criticando a moça? Não se locupletem com o fracasso alheio. Não se desnudem. É válido e corajoso compartilhar conhecimento, seja através de palestras, e-books ou diferentes meios, o problema acontece quando determinadas figuras utilizam esses artíficios para reproduzir conteúdos que são falácias genéricas. Idiotia sob esteróides.
Esqueça 90% do que você lê pela web sobre empreendedorismo. Esqueça 99% do que você ouve em palestras de empreendedores de palco, boa parte deles nem ao menos chegou a ser síndico de prédio. Para aprender a lidar com esse meio de verdade, é necessário estar preparado para errar e perseverar. Empreendedorismo é, antes de tudo, sentir dor! Ademais: leia conteúdo de qualidade diariamente e vorazmente (seja um animal disciplinado nesse campo), desenvolva uma casca grossa e queixo duro, pois o mercado não brinca. Aprenda a bater também, não seja bobinho e coloque a barriga no balcão e o pé no barro. Se acomodar é ruim em qualquer área, mas nessa, significa cair de uma vez.
Fique ao lado de pessoas que lhe motivam e respeitam seus limites. Empreendedores têm um milhão de desafios, possuem lutas internas, externas, limitações, medos, monstros e pressão surreal contínua. Estes precisam de gente que motive, respeite e principalmente não coloque “água no chopp”. Se estiver determinado a permanecer e crescer empreendendo no Brasil, é essencial se cercar de pessoas que estejam dispostas a não atrapalhar, uma vez que o próprio negócio já é difícil o suficiente.
Não se contamine com livrecos e cursos bucéfalos que prometem fórmulas feiticeiras de sucesso no empreendedorismo. A mais importante regra deste negócio é a seguinte: nenhum projeto prospera sem renúncias e MUITO trabalho, seja focado e determinado. Faça e lembre-se: nenhuma empresa é mais forte que o mercado e a conjuntura. Pense em janelas ao invés de espelhos.