O mercado brasileiro de orgânicos faturou no ano passado R$ 4 bilhões, resultado 20% maior do que o registrado em 2017, segundo o Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), que reúne cerca de 60 empresas do setor.
Já o mercado global de orgânicos, sob a liderança dos Estados Unidos, Alemanha, França e China, movimentou o volume recorde de US$ 97 bilhões, em 2017. O balanço foi feito pela Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica (Ifoam) e divulgado em fevereiro.
De acordo com a federação internacional estão identificados cerca de 3 milhões de produtores orgânicos em um universo de 181 países. E a agricultura orgânica cresceu em todos os continentes atingindo área recorde de 70 milhões de hectares, aproximadamente.
O Brasil é apontado na pesquisa como líder do mercado de orgânicos da América Latina. Contudo, quando se leva em consideração a extensão de terra destinada à agricultura orgânica, o país fica em terceiro lugar na região, depois da Argentina e do Uruguai, e em 12º no mundo.
Na América Latina, a produção se estende por oito milhões de hectares, o que corresponde a 11% da área mundial destinada aos orgânicos. Em extensão de terra, o Brasil cresceu mais de 204 mil hectares em dez anos, atingindo, em 2017, de 1,1 milhão de hectares.
Crescimento
A empresária Clevane Pereira, uma das proprietárias da Fazenda Malunga, empreendimento pioneiro em Brasília na produção e comercialização de orgânicos, destaca as mudanças ocorridas no setor nas últimas décadas.
“Começamos em 1998. No início, era bem difícil porque as pessoas não sabiam o que era orgânico. Hoje, melhorou a divulgação, inclusive com apoio do Ministério da Agricultura que foi muito bom nas campanhas. Nas Semanas dos Orgânicos (realizada anualmente), a gente conseguiu mostrar para o cliente o que era o produto”, comenta Clevane.
Com o desenvolvimento do setor na capital, incluindo o ingresso de indústrias no processo, o grupo conseguiu montar lojas que vendem praticamente 100% de produtos orgânicos, principalmente na parte vegetal de legumes e verduras, além dos laticínios produzidos na fazenda Malunga.
O desafio agora, segundo Clevane, é melhorar o abastecimento de frutas orgânicas e desenvolver os produtos de origem animal. “Eu acho que precisa mais pesquisa e há dificuldade no que diz respeito à parte animal. A parte vegetal já tem muitos produtos disponíveis no mercado e fazem com que o produtor tenha mais acesso à tecnologia”.
Perfil do consumidor
A escolha dos brasileiros pelos orgânicos é justificada com mais força pela questão da saúde, principalmente por pessoas com 55 anos ou mais. É o caso de Sara Agra, bacharel em Turismo de Brasília, que compra orgânicos desde 2012, depois que foi diagnosticada com um câncer.
“Para ter um melhor tratamento, eu busquei produtos orgânicos. Folhagens, frutas, ovos, sementes, todos orgânicos. Meus exames melhoraram bastante e noto também que tenho mais força, mais ânimo”, relata.
Sara afirma que percebeu melhora no acesso aos produtos orgânicos nos últimos anos, e a ampliação da oferta de carnes orgânicas, como frango e peixe. Mas, ela ainda enfrenta dificuldades para encontrar as frutas.
“Um vasto número de frutas, realmente, não se encontra. Quando é uma fruta com casca, eu arrisco a comer, como melancia, melão. Mas, os outros eu prefiro comer o orgânico”.
Segundo a Organis, o percentual de consumo de produtos orgânicos no Brasil é de 15%. O Sul e o Centro Oeste foram as regiões apontadas como maiores consumidoras de orgânicos no país e o Sudeste apresentou o menor percentual de consumo, 10%. Os dados são de 2017, quando foi divulgada a única pesquisa feita sobre a percepção do consumo de orgânicos no Brasil.
De acordo com o estudo, as verduras lideram entre os alimentos orgânicos mais consumidos no país, com destaque para alface, rúcula e brócolis. Em seguida, os consumidores também preferem opções orgânicas de legumes, frutas (como banana e maçã) e cereais, como o arroz.
Mais de 60% compram os produtos orgânicos em supermercados, 26% preferem ir às feiras, 4% buscam em lojas de produtos naturais e 3% compram diretamente do produtor rural. Cerca de 40% apontaram que os preços representam a principal barreira para o baixo acesso aos orgânicos e 84% manifestaram intenção de aumentar o consumo de orgânicos.
A pesquisa da Organis também mostra que a população de menor renda e com pouca escolaridade é a que menos consome orgânicos. Apenas 9% dos que pertencem às classes de menor poder aquisitivo e 8% dos que possuem ensino fundamental incompleto tendem a consumir os produtos orgânicos, enquanto que a média nacional é de 15%.
Sobre a procedência dos produtos, apenas 8% dos consumidores baseiam sua decisão de escolha a partir da identificação no rótulos do selo orgânico federal, concedido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) aos produtores que atendem os requisitos da legislação.
“Eu acho que a pesquisa da Organis trouxe um olhar muito interessante sobre a relação do consumidor com o produto. É uma percepção que ainda cabe para avaliarmos nossas políticas e a nossa abordagem”, comenta Virgínia Lira, coordenadora de Produção Orgânica do Mapa.
Em outra pesquisa feita há quatro anos pelo Data Popular sobre as principais demandas dos brasileiros ao Ministério da Agricultura, os consumidores relatam que enfrentam dificuldades para encontrar orgânicos e ter acesso a esses alimentos a um preço mais em baixo.
Apesar da demonstração de interesse unânime pelos alimentos, na pesquisa os consumidores também destacaram que querem mais informações sobre a procedência dos produtos e garantias de que são, de fato, orgânicos. E defendem que deveria haver mais ações de promoção aos orgânicos.
“Acho que deve haver mais incentivo do governo nesse sentido com a agricultura familiar, porque a gente tem que ter uma vida saudável e com qualidade”, avalia Sara.
O Mapa, em parceria com outros ministérios, está preparando uma série de atividades de fomento à produção de orgânicos. Na última semana de maio, será realizada a 15ª edição da Semana Nacional dos Orgânicos. O tema da campanha deste ano é “Qualidade e Saúde: do Plantio ao Prato”.