O Brasil persegue a meta de ter todas as crianças e os jovens matriculados, mas frequentar o ambiente escolar não é sinônimo de aprendizagem. Em entrevista ao UM BRASIL, a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe), Claudia Costin, lembra do alto índice de analfabetos funcionais (incapacidade de interpretação de textos) entre os alunos do quarto ao sexto anos da rede pública do Rio de Janeiro.
Um teste aplicado aos estudantes quando ela esteve à frente da Secretaria Municipal de Educação (de janeiro de 2009 a maio de 2014) constatou que 28 mil deles não tinham sido alfabetizados – ou foram de forma inadequada. Diante dessa realidade, a ex-diretora global de Educação do Banco Mundial decidiu capacitar os professores em uma metodologia para realfabetizar alunos mais velhos.
Na conversa com Leandro Beguoci, Claudia desaprova o modo como parte das instituições ensinam a ler e escrever. “Infelizmente, as escolas continuam produzindo no Brasil analfabetos funcionais porque esse trabalho é artesanal, cada um aprende de maneira diferente. Não adianta escrever no quadro e pedir para que copiem no caderno e fazer isso de forma massiva. Educação é um processo que demanda personalização, e a alfabetização é um tópico que exige um professor que não aprendeu só teorias, mas também a alfabetizar”, explica.
A entrevista integra a série “Brasil, ponto de partida?”, uma produção do UM BRASIL e o Centro de Liderança Pública (CLP), com base no estudo Visão Brasil 2030, que traçou um diagnóstico detalhado da situação atual do País e das aspirações coletadas ao longo da construção do trabalho, com o objetivo de estabelecer uma estratégia de longo prazo para que o Brasil se torne uma nação desenvolvida.
Avaliação dos alunos
Claudia enfatiza que o processo de avaliação dos alunos é essencial para traçar as políticas públicas necessárias para a qualidade educacional. Apesar da sua eficácia, Estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais deixaram de avaliar o desempenho dos jovens.
“A avaliação é muito importante porque ela traz elementos para uma prática educacional baseada em dados, e não em achismos ou modismos. A interrupção de avaliações por parte de alguns Estados se deve a reações equivocadas a problemas fiscais mais agudos, mas não se deve economizar em educação naquilo que vai garantir a qualidade, que é a informação sobre o que não estamos ensinando ou aprendendo direito. Saber usar esses dados vai nos ajudar a superar inúmeros problemas de aprendizagem.”
Formar para o mercado e para a vida
Para Claudia, outra dificuldade enfrentada na rotina da escola é a visão equivocada do seu papel na formação do aluno. A especialista entende ser comum as instituições escolherem entre preparar o aluno para o mercado de trabalho ou para a vida.
“Temos de formar um ser humano integral, ou seja, um indivíduo autônomo capaz de fazer suas próprias escolhas, sustentar-se e ser um bom cidadão. As duas coisas não são incompatíveis. A vida de um adulto é de alguém que participa de forma integral na sua comunidade. Ele vai ter uma profissão ou ser um empreendedor, e o desafio de formar para tudo isso é grande. Por isso, a profissão de professor não é para amadores. Precisa entender a integração dessas duas questões”, conclui.
CidadeMarketing com informações da FecomércioSP