As famílias com rendimento de até dois salários mínimos (R$ 1.908,00) comprometiam uma parte maior de seu orçamento em despesas com alimentação e habitação do que aquelas com rendimentos superiores a 25 salários mínimos (R$ 23.850,00). Somados, os dois grupos representavam 61,2% das despesas das famílias com menores rendimentos, sendo 22,0% destinados à alimentação e 39,2% voltados à habitação. Entre aquelas com os rendimentos mais altos, a soma atingia 30,2%, sendo 7,6% com alimentação e 22,6% com habitação.
Para as famílias que formam a classe de maiores rendimentos, as despesas com alimentação (R$ 2.061,34) eram mais que o triplo do valor médio do total das famílias do país (R$ 658,23) e mais de seis vezes o valor da classe com rendimentos mais baixos (R$ 328,74).
Além disso, 23,9% das famílias que recebiam até R$1.908,00 contribuíam com apenas 5,5% do valor médio recebido no Brasil. Isso significa que, da média mensal de R$ 5.426,70, apenas R$ 297,18 vêm deste grupo. Já os 2,7% das famílias que recebiam mais de R$ 23.850,00 contribuíam com R$ 1.080,26 para a média global. Dessa forma, este grupo se apropria de quase 20% de todos os valores recebidos pelas famílias. É o que mostra a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018.
A pesquisa revela também que alimentação, habitação e transporte comprometiam, em conjunto, 72,2% dos gastos das famílias brasileiras, no que refere ao total das despesas de consumo. Considerando ainda a distribuição das despesas de consumo, no caso das da alimentação, a proporção nos gastos totais da situação rural (23,8%) superou a da urbana (16,9%), bem como as despesas com transporte (20% rural e 17,9% urbano). Educação (4,7%) foi o grupo que apresentou uma participação para as famílias de residência urbana (4,9%) o dobro da observada para aquelas de situação de residência rural (2,3%).
A participação da despesa com alimentação fora do domicílio na área urbana foi de 33,9% no total das despesas com alimentação. Na área rural, chegou a 24,0%, um aumento de 11 pontos percentuais em relação à POF 2002-2003. O valor médio da despesa com alimentação fora do domicílio na área urbana foi 87,1% maior que o da área rural. Já para a alimentação no domicílio, o valor médio da despesa das famílias em áreas urbanas foi 15% maior do que em áreas rurais.
Famílias brasileiras gastam em média R$ 4,6 mil por mês
A despesa total média mensal familiar no Brasil era de R$ 4.649,03 em 2017-2018, sendo 7,2% mais alta nas áreas urbanas (R$ 4.985,39) e 45,3% menor nas áreas rurais (R$ 2.543,15). Os maiores valores ocorreram nas regiões Centro-Oeste (R$ 5.762,12) e Sudeste (R$ 5.415,49). Norte (R$ 3.178.63) e Nordeste (R$ 3.166,07) ficaram abaixo da média.
As despesas correntes representavam 92,7% do total. Registraram-se também participações de 4,1% referentes ao aumento do ativo (aquisição de imóvel, reforma e outros investimentos) e 3,2% para a diminuição do passivo (pagamentos de empréstimos e prestações de financiamento de imóvel).
No que se refere às despesas totais, as despesas de consumo ficaram com 81,0% do total, fazendo parte desse grupo as despesas com alimentação, habitação, transporte etc., e 11,7% foram gastos com outras despesas correntes, como contribuições trabalhistas e serviços bancários, entre outras. As despesas correntes ficaram abaixo da média nacional nas regiões Centro-Oeste (90,8%) e Sul (90,4%).
As despesas de consumo eram 4,2 pontos percentuais maiores na área rural (84,9%) em relação à urbana (80,7%). Porém, as famílias que moram em áreas rurais gastavam 5,3 pontos percentuais a menos com outras despesas correntes (6,8% frente a 12,1% nas áreas urbanas). Tais diferenças são explicadas por gastos com impostos, contribuições trabalhistas e serviços bancários, principalmente, que têm maior incidência nas áreas urbanas.
No Brasil, as despesas monetárias (realizadas mediante pagamento em dinheiro, cheque ou cartão de débito ou crédito) representavam 81,9% do total, enquanto as despesas não monetárias (provenientes de produção própria, retiradas do negócio, troca, doação e outras formas de obtenção que não envolveram pagamentos monetários) representavam 18,1%. As despesas não monetárias tinham uma participação maior nas áreas rurais (22,5% contra 17,7% nas áreas urbanas). A região Centro-Oeste mostrou o menor percentual (15,9%), enquanto o maior foi registrado no Norte (19,0%).
Participação das despesas com aumento do ativo caíram 1,7 p.p em 10 anos
Comparando-se o Estudo Nacional de Despesa Familiar (ENDEF) 1974-1975 com as três edições da POF, nota-se um salto na participação das despesas correntes entre o primeiro e a última, passando 79,9% para cerca de 93% em 2017-2018. Entretanto, entre as edições da POF, houve estabilidade a partir de 2002-2003.
A participação das despesas registradas no aumento do ativo, como aquisição e reforma de imóveis, por exemplo, alcançou na POF 2017-2018 o valor de 4,1% em relação ao total das despesas. Este grupo teve forte queda ao longo dos quase 30 anos que se passaram entre o ENDEF e a POF 2002-2003. Para o período entre as POFs, o percentual vem apresentando menor variação.
Já a diminuição do passivo apresentou menores variações na tendência histórica. Após uma manutenção na participação em 2002-2003 e 2008-2009, o percentual apresentou-se um pouco maior para a POF 2017-2018, chegando a 3,2%. Este percentual aproxima-se do observado no período do ENDEF, quando representava 3,6% da despesa total.
Alimentação, habitação e transporte respondem por 72,2% dos gastos de consumo das famílias
A participação das despesas de consumo no total das despesas foi de 81,0% para o Brasil, com média mensal de R$ 3.764,51. O valor médio das despesas de consumo realizadas pelas famílias residentes em situação rural (R$ 2.158,83) correspondeu a 57,3% da média nacional e a 53,7% do gasto médio das famílias em situação urbana (R$ 4.020,98).
As despesas com alimentação, habitação e transporte corresponderam a 72,2% da despesa de consumo média mensal das famílias, o que representava 58,4% da despesa total.
Na alimentação, a proporção nos gastos de consumo da população em situação rural (23,8%) superou a da urbana (16,9%), bem como as despesas com transporte (20% rural e 17,9% urbano). Na habitação, essa relação se inverte, com a participação da urbana (37,1%) tendo suplantado a da rural (30,9%).
As despesas com habitação responderam pela maior participação nas despesas monetária e não monetária de consumo das famílias, tanto em nível nacional (36,6%) como regional. As regiões Sudeste (39,0%) e Norte (36,4%) apresentaram as maiores participações. Quanto ao transporte, as maiores participações ocorreram nas regiões Centro-Oeste (21,0%) e Sul (20,6%), ambas superiores à encontrada para o Brasil (18,1%). A menor participação deste grupo nas despesas de consumo ocorreu na região Nordeste (16,2%).
A terceira maior participação nos gastos nacionais com consumo ficou com o grupo alimentação (17,5%), resultado muito próximo a transporte (diferença de 0,6% p.p.). Esse quadro se repete na situação urbana, em que a participação de transporte (17,9%) supera a dos alimentos em 1,0 ponto percentual. Na rural, a proporção de gastos com alimentação (23,8%) é superior à de transporte (20,0%). As regiões Nordeste (22,0%) e Norte (21,0%) registraram participações mais altas que a média nacional. A região Sudeste apresentou o menor percentual para este grupo (15,8%).
Educação (4,7%) foi o grupo que apresentou a diferença mais relevante entre as participações da situação de residência urbana (4,9%) e da rural (2,3%).
Alimentação representa 22,0% dos gastos das famílias com rendimentos de até 2 salários mínimos
As famílias com rendimento de até dois salários mínimos (R$ 1.908,00) comprometiam uma parte maior de seu orçamento em despesas com alimentação e habitação do que aquelas com rendimentos superiores a 25 salários mínimos (R$ 23.850,00). A relação se inverte no que se refere às despesas com transporte e educação.
A assistência à saúde mostra percentuais próximos no orçamento doméstico, mas enquanto as famílias com menores rendimentos comprometiam 4,2% do orçamento com remédios, aquelas com maiores rendimentos gastavam 1,4%. Por outro lado, os gastos com planos de saúde eram de 0,4% entre a classe mais baixa de rendimento e de 2,9% na classe mais alta.
Gastos com saúde aumentam em todas as pesquisas desde 1974
O grupo alimentação mostrou queda de 2,3 p.p. entre as duas últimas edições da POF, passando de 19,8% para 17,5%. Habitação, educação e assistência à saúde tiveram aumentos em relação a 2008-2009, sendo que esta última mostra crescimento em todas as edições da pesquisa.
Despesa com alimentação fora do domicílio aumenta 11 p.p. na área rural
Entre a POF 2002-2003 e POF 2017-2018, houve aumento de 8,7 p.p. no peso da despesa com alimentação fora do domicílio no país. O crescimento do percentual na área rural, que foi de 13,1% em 2002-2003, aumentou 11 p.p., chegando a 24,0% em 2017-2018.
Os maiores percentuais com alimentação fora do domicílio em 2017-2018 ocorreram nas regiões Centro-Oeste (38,0%) e Sudeste (34,2%), que ficaram acima da média nacional (32,8%). O menor percentual ocorreu na região Norte (21,4%). Os maiores aumentos, entre as POFs 2002-2003 e 2017-2018, ocorreram nas regiões Centro-Oeste (13,5 p.p.) e Nordeste (12,8 p.p.).
A região Centro-Oeste registrou o maior valor da despesa média mensal familiar com alimentação fora do domicílio (R$ 277,68). Esse valor é 133,8% maior do que na região Norte (R$ 118,79), o menor do país.
Entre a POF 2008-2009 e a POF 2017-2018, a única região com queda no percentual da despesa média mensal com alimentação fora do domicílio foi a Sudeste: de 37,2% para 34,2%. O percentual da região Norte ficou inalterado no mesmo período (21,4%).
Despesa com alimentação no domicílio varia entre 49,7% e 79,4%
Na comparação entre as classes extremas de rendimento mensal familiar, as famílias com rendimentos mais baixos (até R$ 1.908,00) apresentaram uma proporção de 20,6% de despesa com alimentação fora do domicílio, contra 79,4% de despesa com alimentação no domicílio. Já para as famílias com rendimentos mais altos (acima de R$ 23.850,00), essa proporção, na alimentação fora do domicílio, foi de 50,3%, contra 49,7% de despesa com alimentação no domicílio.
O valor da despesa total com alimentação das famílias com rendimentos mais altos representou mais que o triplo do valor da média do total de famílias do país e mais de seis vezes o valor da classe com rendimentos mais baixos.
Já o valor da despesa com alimentação no domicílio na classe com rendimentos mais altos foi mais que o dobro da média nacional e quase quatro vezes maior que o valor na classe com rendimentos mais baixos. A diferença foi mais acentuada entre os valores correspondentes à alimentação fora do domicílio, que, na classe com rendimentos mais altos, foi de 4,8 vezes o valor da média nacional e 15,3 vezes o valor da classe com rendimentos mais baixos.
Carnes, vísceras e pescados são 20% das despesas de alimentação no domicílio
Nas despesas com alimentos para consumo no domicílio, a participação do grupo de Cerais, leguminosas e oleaginosas vem caindo ao longo do tempo: de 10,4%, em 2002-2003 para 8,0% em 2008-2009 e 5% em 2017-2018. Óleos e gorduras também seguem em queda: respectivamente 3,4%, 2,3% e 1,7%.
Carnes, vísceras e pescados continuam sendo o grupo de maior participação nas despesas (20,2%), com discreta perda em relação a 2008-2009 (21,9%).
A participação do grupo Bebidas e infusões vem aumentando: de 8,5% em 2002-2003 para 9,7% em 2008-2009 e 10,6% em 2017-2018. No mesmo intervalo, o grupo Alimentos preparados evoluiu de 2,3% para 2,9% e chegou a 3,4%.
No grupo Óleos e gorduras, houve queda de 1,7 p.p. na participação entre a POF 2002-2003 (3,4%) e a atual (1,7%). Legumes e verduras, frutas e panificados mantiveram estabilidade.
Famílias das áreas rurais ganham pouco mais da metade do recebido em áreas urbanas
O valor médio recebido pelas famílias, relativo ao rendimento mensal e à variação patrimonial (saques de poupança e vendas de imóveis, por exemplo), alcançou R$ 5.426,70 em 2018. Nas áreas urbanas, foi de R$ 5.806,24 enquanto em áreas rurais foi de R$ 3.050,49. Ou seja, as famílias em situação rural recebiam pouco mais da metade (52,3%) do valor recebido em áreas urbanas.
A maior participação no valor médio recebido pelas famílias (rendimento e variação patrimonial) veio do rendimento de trabalho (R$ 3.118,66), que representou 57,5% do total. Nas áreas urbanas, o rendimento de trabalho correspondia a 58,4% do valor recebido e, nas áreas rurais, a 46,8%.
A segunda maior participação veio das transferências (19,5%). Entre as transferências, as aposentadorias e pensões do INSS representaram 55,0% e os programas sociais federais, 5,4%. Nas áreas urbanas, as transferências ficaram com 19,0% do total recebido, enquanto nas áreas rurais chegavam a 25,3%.
Os rendimentos de aluguel (de bens móveis e imóveis) e as outras rendas apresentaram as menores contribuições na composição do valor médio recebido pelas famílias (1,6% e 0,7%, respectivamente), tanto nas áreas urbanas (1,7% e 0,7%, respectivamente) quanto nas rurais (0,9% e 0,9%, respectivamente).
Além disso, 14,5% do que as famílias recebiam foi não monetário, ou seja, valores referentes às aquisições pelas quais as famílias não precisaram pagar. Nas áreas rurais, o peso desse componente foi ainda maior (18,3%), enquanto nas áreas urbanas foi similar à média nacional (14,2%). Já a variação patrimonial representou 6,2%, com maior peso nas áreas rurais (7,9%).
Em todas as regiões, rendimentos de trabalho representam mais da metade dos valores recebidos
Em todas as regiões, o componente com a maior participação no total dos rendimentos das famílias foi o rendimento do trabalho, indo de 52,6% no Nordeste a 61,5% no Centro-Oeste. Já as transferências tiveram a maior participação no Nordeste (24,6%) e a menor, no Centro-Oeste (14,3%). No caso do rendimento não monetário, as regiões Nordeste e Norte tiveram participações acima da média nacional (15,7% e 15,6%, respectivamente), enquanto o Centro-Oeste teve a menor participação (12,8%).
O maior valor médio recebido pelas famílias foi no Centro-Oeste (R$ 6.772,86), correspondente a 124,8% da média nacional e, no Sudeste (R$ 6.391,29), equivalente a 117,8%. No Nordeste (R$ 3.557,98) e Norte (R$ 3.647,70), os valores corresponderam a 65,6% e 67,2% da média nacional, respectivamente.
O Sudeste foi a região com maior contribuição para valor médio total recebido pelas famílias, com R$ 2.789,94, mais da metade da média nacional (51,4%). A menor contribuição era dada pela região Norte, com R$ 265,09, ou 4,9%. O Centro-Oeste, embora apresentasse o maior valor entre as regiões, participava com apenas R$ 525,44 (9,7%).
Apenas 2,7% das famílias se apropriam de 20% da média global do país
A análise por classes de rendimento mostrou que 23,9% das famílias recebiam até R$ 1.908,00 (2 salários mínimos) e contribuíam com apenas 5,5% do valor médio recebido no Brasil. Ou seja, da média mensal global de R$ 5.426,70, apenas R$ 297,18 vêm deste grupo.
Considerando as famílias que viviam com até R$ 5.724,00 (6 salários mínimos), a contribuição foi de 36,1%. Assim, da média global de R$ 5.426,70, R$1.958,71 vêm deste grupo, ou seja, ¾ das famílias se apropriam de cerca de 1/3 da renda média.
Na última classe estão apenas 2,7% das famílias brasileiras, que recebiam mais de R$ 23.850,00 (25 salários mínimos). Este grupo contribuiu com R$ 1.080,26 para média global de R$5.426,70. Dessa forma, este grupo se apropria de quase 20% de todos os valores recebidos pelas famílias.
Rendimentos não monetários e transferências representam quase 60% dos valores recebidos pelas famílias de menor renda
Quando se analisa a origem dos valores recebidos por classes de rendimento, nas famílias que recebiam até 2 salários mínimos, 41% vinham do rendimento de trabalho; 28,8%, das transferências; 0,3%, dos aluguéis; 0,6%, de outras rendas; 28,2% era não monetário e 1,1% se referia à variação patrimonial.
Na outra ponta, nas famílias que recebiam mais de 25 salários mínimos, 60% vinham do rendimento de trabalho; 12,8% das transferências; 3,7% dos aluguéis; 0,2% de outras rendas; 7,9% era não monetário e 15,3% se referia à variação patrimonial.