As complexidades da desigualdade racial no Brasil foram debatidas na tarde desta quarta-feira (1/9) em webinar promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Rafael Osorio, pesquisador do Ipea e do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), apresentou dados que mostram como a renda média dos brancos permaneceu o dobro daquela dos negros de 1986 a 2019. “Em 2014, quando a renda média dos brancos chegou a US$ 24 por dia, a dos negros ultrapassou o mínimo histórico dos brancos, de US$ 12 em 1992. Já em 2019, a maior renda média dos negros só superava a dos brancos nos dois piores anos, 1992 e 1993”, declarou.
Osorio detalhou parte de seu estudo A Desigualdade Racial no Brasil nas Três Últimas Décadas e indicou que a redução da desigualdade racial de renda pode ser considerada irrisória no Brasil. “A contribuição da desigualdade entre os negros para a desigualdade brasileira aumentou. Na prática, pouco mudou a concentração dos negros nas camadas de baixa renda”, disse.
O pesquisador destacou que a desigualdade racial e de renda são faces da mesma moeda, não sendo possível vencer uma sem atacar a outra. “A inércia provocada pelo regime de baixa mobilidade de renda, por si, garante a transmissão da desigualdade racial por muitas gerações. A valorização da negritude e as políticas para a população negra, dissociadas do combate às desigualdades socioeconômicas e regionais que afetam a todos, não resultarão em grandes reduções da desigualdade racial em poucas décadas”, pontuou.
Por sua vez, o coordenador do Núcleo de Estudos Raciais do Insper, Michael França, analisou o desempenho educacional e como esse fator influencia a desigualdade racial. Segundo ele, o diagnóstico, no exemplo norte-americano, tem convergido para o argumento de que é importante diminuir o fosso educacional (na performance educacional entre brancos e negros) para impactar variáveis em curto, médio e longo prazos. “Roland Fryer, grande especialista na área, argumenta que o principal problema racial americano recente é procurar diminuir a lacuna na performance educacional, porque o desempenho educacional apresenta efeitos sobre os rendimentos, desemprego, o encarceramento e a saúde”, destacou.
No que se refere à aprendizagem e à questão educacional, França explicou que existe uma correlação entre a renda domiciliar e o desempenho de um indivíduo. “Crianças que vivem em ambientes desfavorecidos vão entrar em contato com um vocabulário significativamente menor, o que gera um impacto no desempenho escolar da criança”, ponderou.
Para o pesquisador do Insper, o viés racial é o pressuposto central de qualquer debate racial, ou seja, a cor da pele ou fisionomia de uma pessoa vai causar uma diferenciação na percepção que pode levar a uma distinção no tratamento. “Tivemos um período histórico da construção de uma imagem negra mais desvalorizada, com uma série de preconceitos, com manifestações racistas mais explícitas e discriminatórias. Com o passar do tempo, isso diminuiu, com uma conscientização da sociedade, mas uma porção considerável desse viés racial permaneceu nas nossas instituições”, concluiu.
CidadeMarketing com informações da IPEA.