Tendência no mercado mundial, as boas práticas de sustentabilidade também fazem parte do planejamento das empresas de bebidas alcoólicas no Brasil, com definição de metas e concretização de iniciativas relacionadas ao tema. É o que apontam os Indicadores Setoriais de Sustentabilidade da Associação Brasileira de Bebidas – ABRABE, instituição que reúne todas as categorias de bebidas alcoólicas e trabalha, desde 1974, pelos interesses setoriais de fabricantes e importadores no país. Os dados indicam que 57% das empresas de bebidas alcoólicas já apresentam iniciativas ou práticas relativas às políticas de meio ambiente e sustentabilidade e 69% trabalham com a redução de resíduos sólidos, números expressivos, visto que as práticas de ESG ainda estão engatinhando dentro do setor privado.
Com base no trabalho realizado em parceria com a KPMG, o “Primeiro Relatório Sustentabilidade ABRABE” vem complementar o diagnóstico setorial realizado em 2019, que consistiu em um estudo de mercado do setor de bebidas alcoólicas. Este ano, a instituição inova com a inclusão de temas e indicadores de governança ambiental, social e corporativa pela primeira vez. Com isso, além de apresentar o cenário econômico de volume de vendas, volume de produção, faturamento, importação, exportação, distribuição e empregos, a ABRABE traça um panorama com as perspectivas sobre o tema da sustentabilidade no setor.
Acesse o relatório:
https://www.abrabe.org.br/relatorio-de-sustentabilidade/
“Esse estudo é um marco inédito para o setor, afinal, é a primeira vez que a ABRABE reúne indicadores de sustentabilidade em um documento setorial. Além de uma importante referência para o mercado, é uma ferramenta poderosa de medição para que o setor planeje sua rota e continue evoluindo suas práticas no objetivo de ambiente mais sustentável e cada vez mais conectado com as demandas da sociedade e do planeta”, ressalta Cristiane Foja, presidente- executiva da ABRABE.
De acordo com dados do Banco Mundial, em 2050, o mundo deve gerar mais de 3 bilhões de toneladas de resíduos. Como forma de conter e reduzir esse número, organizações têm adotado a economia circular, processo que visa o desenvolvimento econômico sustentável por meio da redução, reutilização e reciclagem do produto de modo repetido no ciclo de produção como forma de estender a sua vida útil. Indo ao encontro da tendência de adoção da economia circular, cerca de 73% das embalagens de bebidas alcoólicas na ABRABE são de vidro, resíduo infinitamente reciclável, já que uma garrafa pode se transformar em outra, gerando um ciclo de sustentabilidade e, também, encaixam-se no conceito de reuso. Entre as empresas que participaram da pesquisa, 31% adotam embalagens retornáveis de vidro em seu portfólio de produtos, variando a taxa de reutilização entre 53% e 100%.
Destaque também para a adesão cada vez maior pelas associadas por iniciativas para reduzir ou eliminar resíduos sólidos em suas operações, com 69% das empresas com alguma iniciativa, sendo a reciclagem a prática mais utilizada entre elas, com adesão de 83%, seguida pela reutilização, com 50%, e compostagem, com 46%. Das empresas que têm meta de redução de resíduos em suas operações, três empresas já conseguiram atingir a meta de Aterro Zero, três estão próximas de conseguir, e as restantes devem alcançar até 2023.
A ABRABE atua na reciclagem do vidro por meio do ‘Glass is Good’, programa pioneiro de logística reversa do vidro que envolve toda a cadeia. Com a reciclagem das embalagens de vidro, há menos consumo de energia, redução na extração de matéria-prima e emissões de CO2 na atmosfera durante a produção, além de diminuir o depósito de resíduos de vidros nos aterros sanitários, onde ficariam ocupando espaço, já que o material não se decompõe como os produtos degradáveis. Há também o Ecogesto, focado em cooperativas, atuando nos pilares ambiental, social e econômico. Juntos, os dois programas recuperaram, em 2020, 77 mil toneladas de embalagens pós-consumo, junto a 150 parceiros em 18 estados e mais o Distrito Federal.
Clima e energia
Outras estratégias inseridas no processo para minimizar impactos negativos ao meio ambiente estão relacionadas ao clima e energia. 46% das associadas têm projetos nessa esfera, sendo que, destas, 88% possuem iniciativas de redução e gestão de consumo de energia, 56% trabalham na redução e gestão de emissão de gases do efeito estufa. Entre as associadas, 14% também têm metas de reduzir a emissão de gases nocivos ao meio ambiente.
A prática de redução de consumo de energia é adotada, na maioria dos casos, através da migração para outras fontes de energia renovável, com instalação de placas solares, parques eólicos e caldeiras de biomassa; substituição no tipo de iluminação com maior utilização de LED e sensores de presença; além de projetos arquitetônicos que privilegiam a utilização de luz natural e pouco uso de ar-condicionado. Já as práticas para menor emissão de gases envolvem o consumo e geração de energia renovável; substituição de frota; substituição de matéria-prima; compensação de emissões; identificação de riscos relacionados às mudanças climáticas; e precificação de carbono.
Diversidade no setor de bebidas alcoólicas
No campo da diversidade, dobrou o número de empresas com metas entre 2019 e 2020: atualmente, 23% das associadas têm iniciativas para ampliação da diversidade em seu quadro de colaboradores, enquanto 20% têm essa esfera como meta, porcentagem que era de apenas 9% em 2019. Entre as iniciativas realizadas, estão a realização de palestras, participação em eventos de combate à homofobia e o preconceito de raças. Entre as metas citadas pelas companhias, estão: dobrar a participação feminina em posições de liderança; elevar a representação de líderes de origens étnicas diversas para 45% até 2030; e ter 50% de todas as posições de liderança ocupadas por mulheres.
A ABRABE também se preocupa com a questão da diversidade, já que a mão de obra das cooperativas de vidro é composta, em sua maioria, por mulheres. Esse dado é importante visto que 34,4 milhões de pessoas do sexo feminino são responsáveis financeiramente pela família, ou seja, quase metade dos domicílios brasileiros é comandado por mulheres, de acordo com levantamento da IDados, com base nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Contudo, a maior parte da força de trabalho feminina das cooperativas está na produção e não exatamente na liderança. Inspirada na realidade do Glass Is Good, universo da reciclagem do vidro no qual 57% da liderança é feminina, a ABRABE criou um programa de diversidade de gênero para influenciar as demais cooperativas parceiras no empoderamento feminino. Definiu-se para a ABRABE a meta de influenciar suas cooperativas parceiras para que alcancem 50% de liderança feminina em nove anos.
Produção e gestão sustentável
Além de ser fundamental para a vida, a água é um dos principais ingredientes das bebidas alcoólicas. Por isso, é importante pensar um processo produtivo para minimizar os impactos ambientais gerados por sua utilização. O relatório apresentado mostra a preocupação das empresas associadas com o consumo responsável de água ao apontar que 34% apresentam meta de redução de consumo, como a recuperação de 60% da água de lavagem dos vasilhames. O tema consumo de água ainda aponta que 51% das associadas abraçam práticas relacionadas à redução de consumo – destas, 72% têm iniciativas de reuso.
O trabalho ainda encontrou diversas referências ao fortalecimento de estruturas internas relacionadas ao ESG, mostrando que esse pilar é uma prioridade da agenda: 31% das empresas responderam que publicam relatório anual de sustentabilidade e 37% levam em consideração os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU durante a elaboração de políticas corporativas. Em 2019, esses números eram de 26% e 31%, respectivamente. Além disso, 50% das empresas respondentes já possuem sistema de gestão ambiental (SGA), isto é, estrutura organizacional que atua auxiliando a empresa na avaliação e controle de impactos ambientais de suas atividades. E, entre essas, 47% também dispõem de certificação de qualidade ISO.
Mercado de bebidas alcoólicas
Quanto aos números coletados relacionados ao mercado de bebidas alcoólicas no Brasil, o documento aponta um aumento de share em volume no universo ABRABE. Em 2019, juntas, as associadas representavam cerca de 30% de todo volume de bebidas alcoólicas comercializado no país. Passados dois anos, o indicador subiu para 34%. O faturamento bruto também cresceu: foi de R$ 32,2 bilhões em 2020, enquanto esse valor era de R$ 29,7 bilhões em 2019, um crescimento de quase 40% em relação à primeira medição, e geração de 21.183 mil empregos diretos no ano passado.
Em 2020, comparado a 2018, houve um aumento em empregos diretos em 12% nas associadas da ABRABE. Além disso, as empresas foram responsáveis por 29% do volume de bebidas alcoólicas produzidas pelo setor em 2020, representando um aumento de 20% comparando com 2018. Houve um incremento no número de centros de distribuição, de 73 para 78, e de unidades fabris, de 48 para 49. Naturalmente, com a pandemia, houve uma mudança significativa no volume comercializado nos diferentes canais. Em 2018, o volume on-trade representava 59% do todo. Hoje representa apenas 47%.
Metodologia da pesquisa
O projeto “Associadas ABRABE em números” surgiu em 2019 com o objetivo de realizar um levantamento dos indicadores das empresas associadas, além de fornecer informações sobre o setor de bebidas alcóolicas no Brasil. A continuidade da medição mostra a importância de se ter uma visão perene sobre o setor de bebidas alcoólicas, e o entendimento sobre sua relevância para o país. O levantamento dos números se iniciou com uma pesquisa primária realizada entre março e abril de 2021. Em seguida, foi enviado questionário online para as associadas da instituição no início do mês de junho, respondido por 95% do total das empresas. As corporações tiveram quatro meses para responder às 32 questões, que geraram informações sobre indicadores financeiros, operacionais e de ESG.
Lançamento
O estudo “Primeiro Relatório Sustentabilidade ABRABE” foi lançado nesta terça-feira, 07, durante o evento virtual “Perspectivas da Sustentabilidade no setor de bebidas”, que teve transmissão pelo YouTube, Instagram e LinkedIn. Entre outros nomes, a ocasião teve a participação da presidente- executiva da associação, Cristiane Foja, com mediação da jornalista Rosana Jatobá.
Acesse o relatório: “Primeiro Relatório Sustentabilidade ABRABE”
Confira o evento: