O livro “Impactos da Pandemia de Covid-19 no Mercado de Trabalho e na Distribuição de Renda no Brasil”, lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), reúne 28 estudos de pesquisadores da instituição e de outros órgãos parceiros que contribuíram com informações periódicas desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 deixou milhões de famílias desprovidas de renda advinda de atividades laborais. Além de apresentar impactos socioeconômicos no território nacional, a coletânea engloba artigos com análise de políticas públicas implementadas para minimizar os efeitos das desigualdades sociais impostas pela emergência sanitária.
O primeiro artigo, intitulado “Comportamento do Mercado de Trabalho Brasileiro em Duas Recessões: Análise do Período 2015-2016 e da Pandemia de Covid-19”, avalia o comportamento de distintos indicadores sobre as condições individuais em relação ao mercado de trabalho (ocupado, desocupado e inativo) e à remuneração no contexto dessas duas recessões, desagregando os dados, ainda, com base em algumas características dos trabalhadores, como gênero, idade, escolaridade.
Ao comparar os efeitos sobre o emprego em duas contrações recentes da atividade econômica, a recessão de 2015-2016 e o choque, em 2020, causado pelas medidas de enfrentamento da pandemia, os autores do primeiro capítulo chegaram à conclusão que ambas as crises resultaram em queda na parcela da população ocupada. Ainda assim, a mais recente crise destaca-se pela queda abrupta a partir do mês de março, resultando em uma diminuição de mais de 6 pontos percentuais na taxa de ocupação, passando de 53,5% no quarto trimestre de 2019 para 47,1% no segundo trimestre de 2020. Enquanto a primeira estendeu-se por um prolongado período, atingindo um pico negativo de -5,5% de variação do PIB no quarto trimestre de 2015, a segunda constitui um choque que levou a uma contração de 11,4% no segundo trimestre de 2020.
O capítulo seis, “Mortalidade por Covid-19 e Queda do Emprego no Brasil e no Mundo”, expõe os impactos da pandemia no Brasil, tanto na mortalidade quanto no mercado de trabalho, em uma perspectiva comparada com dezenas de outros países. A análise metodológica apontou para uma situação grave no caso brasileiro, uma vez que o Brasil estava entre os países mais afetados em ambos os indicadores. O estudo mostrou que o Brasil registrou, em proporção de sua população total, mais mortes por Covid-19 em 2020 do que 89,3% dos demais 178 países com dados compilados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). O risco de morrer de Covid-19 no Brasil em 2020, dados a idade e o sexo da pessoa, foi 3,9 vezes mais alto do que no resto do mundo, de acordo com os registros nacionais.
“Retrato dos Rendimentos e Horas Trabalhadas Durante a Pandemia: Resultados da Pnad Contínua do Terceiro Trimestre de 2021” é o título do artigo que avalia os impactos causados pela pandemia no mercado de trabalho, dando enfoque na desigualdade desses efeitos sobre os rendimentos do trabalho e as horas trabalhadas dos profissionais que permaneceram ocupados. Os autores utilizaram também informações sobre benefícios assistenciais nos primeiros meses da pandemia para verificar possíveis descolamentos da renda efetiva da renda habitual do trabalho.
De acordo com os dados da Pnad Contínua, no terceiro trimestre de 2021, as horas efetivamente trabalhadas e a proporção de afastados do trabalho não tiveram variações significativas – contudo, foi observada forte queda da renda habitual e efetiva no período analisado. Ainda que parte do resultado seja consequência do retorno de trabalhadores menos qualificados ao mercado de trabalho, tanto as rendas efetivas quanto a habitual ainda estão abaixo dos níveis anteriores à pandemia, havendo uma queda da renda em comparação com o terceiro trimestre de 2019.
Na seção sobre políticas de mitigação de impactos, o capítulo “Programas Federais de Manutenção de Empregos e Garantia de Renda no Contexto da Pandemia em 2020: Panorama Geral de Implementação e Cobertura” apresenta uma radiografia das principais ações tomadas pelo Executivo federal diante da pandemia. As análises se concentram nas formas de apoio econômico a cidadãos, famílias e empresas no contexto de crise sanitária, com destaque para o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda e para o Auxílio Emergencial.
Os autores observaram que o país valeu-se de um considerável rol de capacidades estatais já existentes para viabilizar a operacionalização de um repertório de ações complementares no momento de crise. Um dos benefícios emergenciais adotados chamou bastante a atenção pela magnitude de seus números, ao envolver mais de 68 milhões de beneficiários (32,1% da população em idade ativa nacional e 38,7% da população) e superar os R$ 230 bilhões de dispêndio (mais de 3,2% do PIB) em 2020. A organização do livro ficou a cargo dos pesquisadores do Ipea Carlos Henrique Corseuil, Joana Simões Costa e Sandro Pereira Silva. Acesse o livro, clique aqui