Inspirada nas suas 23 anotações para 2023, o pesquisador Silvio Meira atualizou suas projeções para o ano que está terminando e trouxe para a audiência da HSM+, que se encerrou nesta quarta-feira, dia 29/11, novas perspectivas para 2024.
Partindo da premissa de Ariano Suassuna de o pessimista é um chato, Meira prefere a visão do realista esperançoso, segundo a qual podemos trabalhar para interferir na resolução de um conjunto de problemas que está a nosso alcance. Seu objetivo, assim, é ajudar empresas e pessoas a interpretarem cenários para aplicar nos negócios e nas suas vidas.
Meira trouxe uma visão de que estamos cercados por plataformas e, para as empresas tirarem proveito disso para ter competitividade, precisam rever a estratégia como um conjunto de processos. “Quando a empresa declara a estratégia é porque ela já está obsoleta. Por isso, a estratégia deve ser um processo contínuo integrado ao figital, que une o físico, o digital e o social”.
Ele esclarece ainda que o Marketing não pode mais ser tratado por canais. “Isso é algo de 1948. Não funciona mais. Hoje tudo se dá por fluxos que se combinam em rede. A palavra-chave do futuro é ecossistema. As empresas serão organizações em rede, com comunicação descentralizada e não mais a estrutura hierárquica, onde tudo acontece nas reuniões”.
Neste cenário, precisamos entender como a transição econômica impacta modelos de negócios criando cadeias de redes de valor. “Isso significa não mais só fazer, mas sim aprender e reaprender. Significa competir em rede, e não mais em silos, e onde tudo está baseado em plataformas”. E, neste ponto, precisamos entender a IA em suas múltiplas facetas. Não como plataforma, mas como uma combinação de fatores que exige inovação e rupturas, inclusive da visão de mundo.
Entre as 24 tendências para 2024, Meira trouxe uma perspectiva importante sobre a desigualdade que pode se acentuar com as mudanças. Por exemplo, o maior acesso a tratamentos e diagnósticos pode ter uma efetividade na saúde, mas pode causar também uma maior distância em relação a quem tem acesso e quem não tem.
Outro exemplo da tecnologia na vida das pessoas é a impressão 3D. “Este é um espaço inexplorado para desenvolver órgãos para transplante e não mais depender de doação. E isso cria uma nova preocupação sobre o que é natural, pela possibilidade de inferir modificações nestes órgãos, com vários impactos”, instiga Meira.
Entre seus apontamentos, Meira trouxe a perspectiva da internet das coisas, da comida artificial e da transição energética – como iremos como armazenar energia, por exemplo – e os efeitos do clima sobre as decisões dos governos. “A escassez de água em algumas regiões já impacta migrações globais, com consequência para o acirramento das tensões políticas”. Na área da tecnologia ainda, trouxe a visão do monitoramento das pessoas, que pode ser bom ou ruim. “Depende do tipo de uso”.
No mundo do trabalho e da educação vivemos processos de disrupção. “A IA vai causar a obsolescência do profissional repetitivo – tudo que pode ser recriado artificialmente pode ser substituído e eliminado”. E alerta que isso pode criar mais espaços de desigualdade do ponto de vista social. “Há uma demanda urgente por políticas públicas para proteger as pessoas e isso só conseguimos com uma revolução da educação, que tem um custo alto”. A lógica que deve guiar esta revolução é saber usar plataformas e transformar diplomas em capacidades para criar impacto.
Meira trouxe ainda a perspectiva da insegurança global da informação porque, segundo ele, “precisamos de uma revolução no marketing político que hoje só causa um ambiente de apatia, cinismo e polarização”. Outra anotação para ficarmos atentos em 2024 é a epidemia de saúde mental.
Para finalizar as tendências, Meira faz um alerta de que precisamos parar de pensar que o Brasil é o país do futuro. “O Censo de 2023 identificou que deveríamos ter mais filhos. Somos 203 milhões de brasileiros e não mais 213 milhões. A população brasileira já começou a decrescer e isso tem impactos em todo o mercado de trabalho e previdência. Temos um problema de produtividade há 60 anos que só será resolvido com educação para aumentar a eficiência. Do contrário vamos continuar estagnados e isolados”, finaliza Meira.