Uma pesquisa inédita do RADAR FEBRABAN, realizada pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (IPESPE) com o apoio da Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF) e da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), trouxe à tona um panorama alarmante sobre a percepção e os impactos das apostas esportivas online no Brasil. O estudo revelou que a maioria da população (59%) defende uma regulação mais rígida e uma atuação firme do governo frente à proliferação de sites de apostas no país, além de mostrar uma desconfiança generalizada em relação a essas empresas.
Os dados indicam que 85% dos brasileiros não confiam nos sites de apostas online, enquanto 59% se posicionam contra esse tipo de atividade. Para muitos, as apostas são vistas como uma prática que acarreta prejuízos sociais e econômicos, e 60% defendem limites claros para seu uso, incluindo a proibição de destinar recursos do Bolsa Família para esse fim.
“Temos nesse estudo um material aprofundado para que Governo e sociedade reflitam e debatam o tema, de modo a planejar estratégias que combatam o vício e protejam a população”, afirmou Marcelo Garcia, especialista em Gestão de Políticas Sociais e consultor da CNF.
A pesquisa apontou que 40% dos entrevistados têm familiares ou pessoas próximas que contraíram dívidas devido às apostas, e 45% dessas famílias relataram piora na qualidade de vida. Além disso, 41% afirmaram que o valor gasto com apostas comprometeu outros compromissos financeiros, como a compra de alimentos (37%) e o pagamento de contas básicas (36%).
O estudo traçou o perfil de quem aposta no Brasil:
24% jogam diariamente.
52% jogam entre uma e seis vezes por semana.
O gasto mensal com apostas varia de R$ 30 a R$ 500 para 52% dos apostadores.
A forma de pagamento predominante é o Pix, utilizado por 79% dos apostadores. Outros métodos incluem cartão de crédito (24%) e cartão de débito (18%).
Apesar da frequência com que apostam, 56% dos jogadores afirmam que o valor gasto faz falta no orçamento, enquanto 53% temem se endividar ainda mais. Para 52% dos entrevistados, as apostas geram mais perdas do que ganhos, com apenas 6% relatando ganhos constantes.
A pesquisa também destacou os impactos das apostas na saúde mental. Segundo o levantamento, 69% acreditam que os jogos online causam dependência, 61% apontam para endividamento e perdas financeiras, e 42% afirmam que as apostas levam a problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade e depressão.
O desejo por uma regulação mais firme é evidente. Entre as propostas mais citadas para o governo estão:
Combate a fraudes e lavagem de dinheiro (35%).
Limitação da publicidade das empresas de apostas (28%).
Proibição do uso de cartões de crédito pelos apostadores (26%).
Proteção à saúde mental e física dos jogadores (26%).
Além disso, 66% dos entrevistados apoiam a proibição de propaganda de apostas no Brasil, semelhante à restrição existente para o cigarro.
Metade dos brasileiros considera que o endividamento gerado pelas apostas online é um problema público, enquanto 47% classificam a dependência no jogo como uma questão de saúde pública. A rejeição também se estende a outros tipos de jogos de azar, como cassinos, bingos e jogo do bicho, com apenas 33% favoráveis à legalização dessas modalidades.
O estudo RADAR FEBRABAN apresenta um alerta importante para o Brasil, destacando a necessidade de ações coordenadas entre governo, empresas e sociedade civil para enfrentar os desafios trazidos pelas apostas esportivas online.
Marcelo Garcia enfatizou que a pesquisa deve servir como ponto de partida para a formulação de políticas públicas que protejam a população mais vulnerável, promovendo um debate amplo e responsável sobre os limites e responsabilidades no mercado de apostas. A regulação não só pode mitigar os impactos financeiros e sociais das apostas, mas também proteger a saúde mental e o bem-estar de milhares de brasileiros afetados por essa prática em rápida expansão.
Confira o estudo completo “Percepções e atitudes sobre apostas esportivas online“.