O ano de 2025 começa com um cenário de pressão no mercado brasileiro. A disparada do dólar, que fechou 2024 como a moeda de maior valorização frente ao real — um aumento de 27% —, está afetando profundamente os preços de produtos e serviços essenciais, como pão francês, gasolina, vinhos, passagens aéreas, fretes, carnes bovinas, eletrônicos, smartphones e medicamentos.
Em dezembro de 2024, o dólar atingiu repetidamente seu maior valor nominal da história registrando o valor de R$ 6,19 em 31 de dezembro de 2024, segundo dados do Banco Central. Essa valorização impactou não apenas a economia doméstica, mas também posicionou o real como a moeda de pior desempenho entre as 20 principais divisas globais, ampliando a pressão sobre o orçamento de empresas e consumidores.
Pão francês e outros alimentos
Produtos como pão francês são diretamente afetados pelo dólar devido à importação de trigo, um insumo essencial para a produção. Com cerca de 50% do trigo consumido no Brasil vindo do exterior, o aumento do dólar eleva os custos de produção, repassados integralmente ao consumidor. Em novembro de 2024, foram importadas 427.530 toneladas de trigo, um volume 33% superior ao registrado no mesmo período de 2023. Desse total, 79,5% tiveram origem na Argentina, representando o maior volume importado do país nos últimos seis meses, conforme dados da Secex. Carnes bovinas, que dependem de ração animal à base de grãos como milho e soja — também cotados em dólar —, sofrem reajustes contínuos.
Combustíveis e passagens aéreas
A gasolina, outro item essencial, é impactada devido à cotação internacional do petróleo em dólar. Isso também encarece os fretes e o transporte de mercadorias, pressionando preços em toda a cadeia produtiva. As passagens aéreas, que dependem de combustível de aviação (QAV), que representa aproximadamente 40% dos custos operacionais das companhias aéreas e manutenção de aeronaves, também registram alta, dificultando o acesso às viagens para o consumidor médio.
Eletrônicos e smartphones
Eletrônicos e smartphones são itens majoritariamente importados ou produzidos com componentes externos. Com a valorização do dólar, os custos de importação sobem, tornando esses produtos significativamente mais caros. A indústria local, por sua vez, enfrenta dificuldades em manter preços competitivos.
Vinhos e medicamentos
O segmento de vinhos, especialmente os importados, sentiu um impacto direto, tornando o consumo mais seletivo. Medicamentos, cuja maioria dos insumos ativos é importada, também registraram aumento significativo, elevando os custos para consumidores e hospitais.
O varejo enfrenta o desafio de ajustar preços sem perder competitividade, enquanto a indústria lida com aumento nos custos de produção e insumos importados. Pequenas e médias empresas, em especial, sofrem com a volatilidade cambial, pois possuem menos margem para absorver reajustes.
No Varejo:
Os lojistas enfrentam o desafio de repassar os aumentos ao consumidor, especialmente em um cenário de renda estagnada. Isso pode levar a um desaquecimento das vendas, especialmente de itens não essenciais, como eletrônicos e vinhos.
Na Indústria:
Setores dependentes de insumos importados enfrentam margens de lucro reduzidas, aumento de custos operacionais e, em alguns casos, dificuldades em manter a produção. O agronegócio, por exemplo, pode se beneficiar nas exportações, mas enfrenta custos mais altos em insumos agrícolas.
Para o Consumidor:
O brasileiro, já habituado a driblar a inflação, agora precisa lidar com preços ainda mais altos em bens de consumo e serviços essenciais. A classe média, em especial, sente o impacto, com aumento de custos em lazer, transporte e itens básicos.
Economistas alertam que a volatilidade cambial continuará impactando os preços e pressionando a inflação. Enquanto isso, o consumidor brasileiro precisará redobrar os cuidados no planejamento financeiro, buscando alternativas locais para amenizar os impactos dessa escalada cambial no orçamento.