A Bombril, tradicional empresa brasileira de produtos de limpeza e higiene doméstica, anunciou nesta segunda-feira (10) que entrou com um pedido de recuperação judicial. A decisão envolve também outras sociedades do Grupo Bombril e ocorre devido a obrigações tributárias bilionárias com a Receita Federal.
Em comunicado ao mercado, a Bombril esclareceu que enfrenta “contingências tributárias relevantes”, em grande parte relacionadas a autuações da Receita Federal por suposta falta de recolhimento de tributos. O montante a ser renegociado gira em torno de R$ 2,3 bilhões.
A dívida está ligada a operações de aquisição de títulos de dívida estrangeiros (T-Bills), realizadas entre 1998 e 2001 pela companhia e por um veículo do grupo empresarial italiano Cragnotti & Partners, que na época era o controlador da Bombril. Recentes decisões judiciais desfavoráveis sobre essas autuações levaram a diretoria da empresa a optar pelo pedido de recuperação judicial.
Segundo a empresa, a decisão foi tomada para preservar a continuidade das operações e evitar impactos negativos na relação com fornecedores, financiadores e demais parceiros comerciais.
“A Diretoria considerou que o atual risco de perda nos Processos Judiciais representa
ameaça aos bons resultados contábeis que vêm sendo obtidos pela Bombril, expondo a
Companhia a riscos considerados elevados, relacionados à reavaliação da sua capacidade de adimplência por parte de fornecedores e financiadores e, no limite, à descontinuidade de determinadas relações comerciais e vencimento antecipado de dívidas.”, informou a empresa em comunicado.
Fundada em 1948 por Roberto Sampaio Ferreira, a Bombril consolidou-se como uma das principais fabricantes do setor de produtos de limpeza no Brasil. A empresa conquistou a preferência dos consumidores ao investir em inovação e marketing, sendo responsável pela icônica esponja de aço, presente em mais de 90% dos lares brasileiros.
Nas décadas de 1970 e 1980, a Bombril expandiu suas operações, diversificando seu portfólio de produtos e inaugurando unidades fabris estratégicas em São Bernardo do Campo (SP), Abreu e Lima (PE) e Sete Lagoas (MG). Além das esponjas de aço, a marca lançou produtos como detergentes, desinfetantes, saponáceos e amaciantes.
Um dos maiores marcos da empresa foi a campanha publicitária estrelada por Carlos Moreno, que interpretou o icônico “Garoto Bombril” em mais de 400 comerciais ao longo de décadas, garantindo um lugar no Guinness World Records como a campanha publicitária de maior tempo de exibição na televisão.
Na década de 1990, após o falecimento do fundador, a Bombril passou a ser controlada pelo grupo italiano Cragnotti & Partners. No entanto, a gestão estrangeira enfrentou desafios financeiros e administrativos, resultando em dificuldades que culminaram na atual situação de endividamento da empresa.
O nome Bombril tornou-se sinônimo de palha de aço graças a um branding poderoso e consistente ao longo dos anos. Quando uma marca se posiciona estrategicamente, investe em publicidade massiva e constrói uma identidade forte, ela se fixa na mente dos consumidores a ponto de seu nome representar toda a categoria de produtos. Esse fenômeno também ocorreu com marcas como Gillette, referência em lâminas de barbear, Cotonete, amplamente associado a hastes flexíveis, Xerox, que virou sinônimo de fotocópia, e Danone, lembrada como representante dos iogurtes. Essa consolidação não apenas fortalece a presença de mercado dessas empresas, mas também reforça a confiança e a lealdade do público.
No caso da Bombril, sua campanha publicitária icônica, aliada à qualidade do produto e à forte presença nos lares brasileiros, consolidou seu nome como líder absoluto no segmento de palha de aço. Quando um consumidor chega a um ponto de venda e pede um “Bombril”, independentemente da marca disponível, é um sinal claro do sucesso da empresa em se tornar referência máxima no setor. Essa força de marca não é construída da noite para o dia, mas sim por meio de consistência, inovação e uma comunicação bem planejada, garantindo que a marca permaneça viva na memória e no vocabulário do consumidor.
A Bombril não era apenas sinônimo de palha de aço, mas também de versatilidade, carregando o icônico slogan “1001 utilidades” que marcou gerações. A expressão, amplamente difundida em suas campanhas publicitárias, reforçava a ideia de que o produto ia muito além da limpeza de panelas, podendo ser usado para polir metais, lustrar sapatos, remover ferrugem e até em soluções criativas no dia a dia. Esse posicionamento ajudou a consolidar a marca como indispensável nos lares brasileiros, tornando-se referência absoluta no segmento de higiene e limpeza doméstica.
A recuperação judicial da Bombril será um teste para a resiliência da marca e sua capacidade de reestruturação diante de um mercado cada vez mais competitivo. O futuro da empresa dependerá da renegociação das dívidas e da manutenção da confiança de investidores e consumidores. O trabalho de assessoria jurídica é acompanhado pelo escritório E.Munhoz.
