Início Artigos Marcos Hashimoto Empregado ou empresário?

Empregado ou empresário?

Ser dono de um negócio ou perseguir uma carreira executiva?

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Até pouco tempo atrás jovens em idade de escolher carreira só viam pela frente duas perspectivas: Fazer faculdade e fazer carreira executiva ou técnica em uma grande empresa ou se tornar um profissional autônomo, como médico ou advogado. Abrir um negócio próprio não era uma opção para quem escolhia prosseguir os estudos na universidade. Famílias tinham preconceito contra empreendedores porque estes escolhiam o caminho mais ‘fácil’, afinal, ter um negócio próprio não exige qualificação e todos os negócios eram de pequeno porte e de subsistência.

 

Esta visão felizmente mudou de alguns anos para cá. Histórias de empreendedores bem sucedidos, que criaram negócios inovadores e atingiram rapidamente o sucesso financeiro começaram a se disseminar com facilidade e ajudaram a desmistificar a idéia do negócio de subsistência. No final dos anos 90, com a onda das empresas de internet, a chama do empreendedorismo acendeu de vez entre os jovens que pensavam em seus rumos de carreira, gerando uma dúvida saudável sobre suas opções de futuro.

 

Ser dono do próprio nariz! Não precisar dar satisfação a ninguém sobre seus atos. Ter a liberdade de trabalhar quando quiser e fazer seu próprio horário. Comandar, ao invés de ser comandado. Poder criar, inventar, experimentar, aprender, até mesmo errar e aprender com os próprios erros, algo impensável na situação de empregado. A satisfação de superar os desafios, de construir algo para si, para a vida e para as futuras gerações. O status de ser empresário, o prazer de trabalhar em algo que gosta, além de, é claro, os ganhos financeiros cujo céu é o limite! São tantos benefícios em ser empreendedor que não dá para entender porque as pessoas ainda querem ser empregados, não é?

 

Bem, na verdade o céu dos empreendedores não é tão azul e brilhante assim. Todos os dias vemos novos negócios pipocando pela cidade. Todos os dias vemos empresas fechando na cidade. Esta é a dura realidade. Para cada 100 novas empresas abertas, 56 não chegam a completar sequer 4 anos de vida, segundo estudo do Sebrae. Esta alta taxa de mortalidade se deve a vários fatores, mas um dos principais é a má preparação dos empreendedores. A maioria tem até boas idéias, mas não sabe estruturá-las na forma de um plano abrangente, real e eficaz. Muitos são excelentes planejadores, mas não conseguem colocar seus planos em ação, ficam fazendo planos, levantando dados, buscando melhorar ainda mais seu plano e adiam o primeiro passo indefinidamente. Há ainda os que têm tudo para conduzir um bom negócio, mas carecem dos recursos financeiros para tal empreitada.

 

Somente quem se aventura a iniciar um negócio próprio tem idéia das dificuldades que surgem no caminho. Problemas com empregados, problemas com sócios, problemas de decisões de investimento com base em poucas informações ou informações não confiáveis, problemas com fornecedores, problemas com o mercado que não atende suas expectativas, problemas financeiros, etc. Isso sem contar que aquela tão propalada imagem de fazer o próprio horário e trabalhar apenas quando quiser está longe da realidade da maioria dos empreendedores. A prática mostra que empreendedores acabam se dedicando até mais do que quando eram empregados. Eu já tive a satisfação de conhecer alguns destes pequenos empresários e ouvir seus testemunhos sobre estes e outros problemas. Posso assegurar que eles representam uma categoria de profissionais que podem ser considerados verdadeiros ‘heróis’ por suas conquistas e determinação.

 

Então, você chegou à conclusão que não tem vocação para herói, não é? A alternativa de ser empregado até que não é ruim, você tem um salário que cai na sua conta todo mês, perspectivas de carreira que o permitem sonhar com cargos executivos, vários benefícios, sendo alguns assegurados pela legislação trabalhista e, dependendo do empregador, alguns específicos bastante interessantes como assistência médica, previdência privada, creche, restaurante, vale-transporte, convênios, entre outros. Além disto, você recebe toda a estrutura que precisa, desde móveis e espaço físico até computador e celular. Isso sem falar nas possibilidades de receber parte dos lucros da empresa e na segurança que representa um emprego.

 

Eu disse ‘Segurança no emprego’? Ora, mas onde estou com a cabeça! Será que alguém ainda acredita que existe ‘segurança no emprego’? Ou será que a situação econômica na qual o país e o mundo se encontra e as ameaças que não tem nada a ver com a empresa que nos emprega? Não, não dá para pensar que ainda existe segurança no emprego nos dias turbulentos de hoje. Eu também falei em perspectivas de carreira? Não vamos nos iludir, grandes empresas se tornam cada vez maiores, aumentando a competição para chegar ao topo. Salvo organizações em mercados francamente em desenvolvimento, nas demais, este caminho rumo ao topo é lento e cheio de obstáculos. Garantia de salário também pode ser outra armadilha, pois ele continua sendo fixo. As perspectivas de remuneração, na grande maioria das empresas, não é muito grande, pois caminham sempre em faixas ou bandas compatíveis com promoções para cargos maiores. Além de tudo, trabalhar sob o jugo de um chefe, não ter autonomia para tomar decisões ou fazer coisas diferentes e estar amarrado a uma descrição de cargo são fatores relevantes para quem tem necessidade de liberdade.

 

E então, qual é a resposta correta? É melhor ser empresário ou empregado? Ser dono de um negócio ou perseguir uma carreira executiva? Acho que podemos chegar à conclusão que ambas as alternativas têm pontos positivos e negativos. A questão é até que ponto os pontos positivos e negativos estão alinhados com seu perfil pessoal. Até que ponto estes aspectos representam alguma aderência com seus próprios princípios, valores e crenças. Quando se é jovem, este tipo de análise não é fácil, as coisas não são tão claras e a dúvida é sempre difícil de resolver.

 

Felizmente esta decisão não precisa ser tomada no momento de escolher a profissão. E a escolha da profissão pode ser feita com os mesmos critérios que sempre foram tomados: em termos de vocação profissional. A carreira, por outro lado, pode ser escolhida depois, mesmo depois de formado e até já empregado em alguma empresa. Com alguma maturidade e experiência fica mais fácil fazer a análise dos prós e contras entre as duas opções de carreira. Depois de alguns anos atuando na profissão também é possível mapear melhor o perfil empreendedor para saber se este caminho é o mais recomendável.  Ou seja, ser empreendedor pode ser uma decisão tardia e eu diria mais, é mais fácil começar como empregado e depois mudar para empresário do que começar empresário e depois tentar entrar no mercado de trabalho. Embora a sociedade já veja o empreendedor com olhos menos preconceituosos, os departamentos de recrutamento e seleção das empresas ainda não estão acostumados a encarar um currículo de um empreendedor de forma positiva. Ainda!

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