Não importa a filiação partidária, os interesses ou até os pontos de vista. A maioria dos políticos ainda peca na maneira anômala de tratar o eleitor antes e depois da eleição. Na área de comunicação, são eles aprendizes de Jano, o deus romano que deu origem ao nome do mês de janeiro, conhecido por ter duas faces, uma olhando para a frente e outra para trás. Eles mudam de uma posição democrática de trocas de ideias com a população para uma atitude de reclusão cercada de poder. A comprovação pode ser aferida pela mudança de postura nos canais de comunicação com a população. Tal quadro vem melhorando. João Dória (até o momento) e ACM Neto são boas surpresas. Mas ainda é pouco. Muito pouco.
Até outubro, ou no máximo novembro, políticos são entusiastas da internet. Sites, blogs, redes sociais… mantêm diversas formas de chegar ao eleitor, e de receber dele sugestões e reclamações. Eleições ganhas, fim dos canais de comunicação. O Twitter, por exemplo, fica desativado desde que são eleitos. E não há qualquer explicação a seus milhares de seguidores.
A situação não é nova, é verdade. A presidente impichada Dilma Rousseff foi a primeira a abandonar o Twitter dias depois de sua eleição. Desde 2010, após pedidos de apoio para chegar à Presidência da República, não foi foi capaz de postar qualquer dado, informação na rede. E olha que lá está uma mensagem clara, de 16 de novembro de 2010: “Vamos continuar conversando aqui de vez em quando. Aproveito p/agradecer as muitas mensagens de carinho de vcs (sic). São um grande estímulo”. Infelizmente, a promessa não virou realidade.
Dilma é apenas um exemplo emblemático do que não se deve fazer na internet – principalmente por ser pessoa pública. Os políticos ainda tratam as redes sociais como uma brincadeira passageira, algo que pode ser abandonado da noite para o dia, como uma ferramenta para ganhar votos, nada mais. Falta olhar para a web como um canal revolucionário de comunicação direta com milhões de pessoas. Não é possível ter uma face antes do voto e outra depois.
Um exemplo interessante é o do ex – vereador de São Paulo e agora Secretário do Desenvolvimento Social Floriano Pesaro. Em seu site o cidadão pode opinar sobre diversos assuntos de interesse. Quando Pesaro foi vereador, era possível “votar” nas propostas enviadas por ele à Câmara, antes mesmo que os próprios parlamentares paulistanos o façam. O visitante ainda podia conferir todas as despesas do gabinete, mês a mês, e fazer sugestões para seu mandato. Além disso, o Secretário atualmente mantêm suas redes sociais constantemente atualizadas. Não o conheço, mas cito o caso exatamente pela boa inciativa.
Outro caso promissor, como citado anteriormente, é o do prefeito baiano ACM Neto. Ele atualiza frequentemente o Twitter com informações sobre seu trabalho cotidiano na Prefeitura, além de responder a algumas das mensagens que lhe são direcionadas. Sua atividade, que já é bastante alta, foi ainda maior na época das eleições, período em que ele respondia a boa parte dos eleitores.
Segundo as mais recentes pesquisas, o Brasil tem hoje mais de 100 milhões de internautas. A maioria com idade acima de 16 anos. Levando-se em conta que o País tem cerca de 144 milhões de eleitores, os números são expressivos e por si só já mostram a importância da web para o candidato que deseja se destacar na eleição. Mas a relevância não para no candidato. Continua, sim, para o eleito, o representante da sociedade à frente do poder público.
Quem desejar ter sucesso na carreira política precisa ser humilde, não apenas na aparência. O eleitor conhece mais de internet do que os candidatos ou os partidos. As “marcas” políticas não podem menosprezar este conhecimento e devem apresentar novas formas de comunicação, antes, durante e depois da eleição. Abandonar o eleitor após o objetivo conquistado contribuiu apenas para aumentar a antipatia do cidadão em relação à política.
Já se vão aproximadamente 25 anos do surgimento efetivo da internet no Brasil. Porém, ainda falta um trabalho estratégico bem elaborado, sério e profissional por parte da maioria dos políticos. A internet não é brinquedo que pode ser abandonado pela criança quando se ganha um novo.