O Grupo Carrefour Brasil enfrenta uma crise de fornecimento de carnes após grandes frigoríficos nacionais, como JBS, Marfrig e Masterboi, suspenderem a entrega de produtos para as unidades do grupo no país. O movimento ocorre em resposta à declaração do CEO global da empresa, Alexandre Bompard, de que as lojas do Carrefour na França deixariam de vender carnes oriundas do Mercosul. A interrupção no fornecimento atinge mais de 150 lojas, incluindo as bandeiras Carrefour, Atacadão e Sam’s Club.
Apesar da suspensão, as lojas do Carrefour Brasil ainda não enfrentam desabastecimento imediato, devido à existência de estoques. Contudo, fontes do setor apontam que os efeitos podem ser sentidos nos próximos dias, já que os estoques de carnes resfriadas e congeladas são limitados.
Em nota oficial de posicionamento, o Carrefour destacou que o caso não abrange o Brasil e Argentina: “O Carrefour França informa que a medida anunciada ontem, 20/11, se aplica apenas às lojas na França. Em nenhum momento ela se refere à qualidade do produto do Mercosul, mas somente a uma demanda do setor agrícola francês, atualmente em um contexto de crise. Todos os outros países onde o Grupo Carrefour opera, incluindo Brasil e Argentina, continuam a operar sem qualquer alteração e podem continuar adquirindo carne do Mercosul. Nos outros países, onde há o modelo de franquia, também não há mudanças.”
“O Brasil mantém relações comerciais com aproximadamente 160 países, atendendo aos padrões mais rigorosos, inclusive para a União Europeia, que há mais de 40 anos atesta a qualidade das carnes brasileiras”, afirmou o Mapa em nota.
A pasta também apontou que a fala de Bompard pode ter motivações protecionistas, alinhadas às resistências de setores franceses ao acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Especialistas alertam que o boicote pode impactar significativamente a imagem do Carrefour no Brasil, que é um dos principais mercados da rede fora da França. Além de ser uma das maiores compradoras de arroz no país, o grupo desempenha um papel estratégico na regulação de preços em diversas regiões através da marca Atacadão.
Se o boicote se prolongar, mercados menores podem ser afetados, com aumento nos preços da carne e possível alta inflacionária.
Para reverter a crise, analistas do setor varejista apontam que o Carrefour precisará de uma retratação pública contundente por parte de Bompard, reconhecendo que suas declarações não questionavam a qualidade do agronegócio brasileiro. Sem isso, a relação com fornecedores e consumidores pode ser prejudicada a longo prazo.
Enquanto isso, o Carrefour Brasil segue em uma posição delicada, tentando equilibrar sua relação com fornecedores locais e a política global da empresa, sob a pressão de uma possível retração de mercado e desgaste de sua marca no país.
No Brasil, a marca Carrefour já esteve envolvida em episódios graves que geraram ampla repercussão negativa, incluindo casos de maus-tratos e morte de animais, além de denúncias de racismo.
1. Maus-tratos e morte de animais:
Um dos casos mais emblemáticos ocorreu em 2018, em Osasco (SP), quando um segurança contratado por uma unidade do Carrefour foi acusado de agredir e envenenar um cachorro que frequentava a área externa do mercado. O animal, conhecido como Manchinha, morreu, e o episódio gerou indignação nacional, com manifestações em frente à loja e ações judiciais contra a empresa.
2. Racismo:
O Carrefour também foi associado a episódios de racismo em suas lojas. Um dos casos mais marcantes aconteceu em novembro de 2020, em Porto Alegre (RS), quando João Alberto Silveira Freitas, um homem negro, foi espancado até a morte por seguranças em uma unidade do supermercado. O crime ocorreu na véspera do Dia da Consciência Negra, aumentando a repercussão e levando a protestos em várias cidades do país. Quatro anos após assassinato no Carrefour, Justiça descarta motivação racial no caso
Esses episódios resultaram em críticas severas à empresa, ações judiciais, multas e medidas de reparação anunciadas pelo Carrefour. Apesar de declarações públicas e investimentos em programas de inclusão e responsabilidade social, esses casos continuam a marcar a percepção da marca no Brasil.