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Marketing de Serviço: Consulta médica marcada para 2035

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O paciente entra no consultório: “Boa tarde, tudo bem? Gostaria de marcar uma consulta com o Dr. Juvenal – Cardiologista”.
A atendente: “Para quando senhor!?”.
O paciente: “Estou com umas dores no peito e gostaria de verificar se existe uma vaga para próxima semana”.
A atendente: “Qual o convênio, senhor”.
O paciente: UNIMED!.
A atendente: “Senhor, deixe-me verificar – olha… para UNIMED.. UNIMED…só mais um momento… só vamos ter disponibilidade em Janeiro de 2035”.
O paciente: “Como assim para 2035!?”.

A atendente: “Sim, senhor essa é a disponibilidade do médico. Próximoooooooooooooo! O senhor é particular, sente ali que o médico já já vai atendê-lo.”.

* Esse colunista é cliente da UNIMED e já vivenciou momentos semelhantes ao ilustrado – morosidade ou impossibilidade para aprovação de procedimentos médicos e negação de cobertura ou reembolso; Para o atendimento nos consultórios médicos é uma raridade encontrarmos atendentes dispostos a manter um relacionamento respeitoso com os consumidores – geralmente essas pessoas são mal humoradas, sem sorriso e despreparadas.

Todos os usuários de planos e seguros saúde no Brasil estão vivendo momentos de angústias. É visível o descaso dessas empresas com os médicos, clientes e todos os outros interessados. Os médicos estão sendo tratados de forma aviltada – com pagamento de valores insignificantes por consultas e procedimentos cirúrgicos descaracterizando uma relação digna entre o profissional e o serviço prestado. Dentro desse cenário não adianta a Agência Nacional de Saúde aplicar normas estimulando as operadoras de planos de saúde a promover o credenciamento de prestadores de serviços, inclusive médicos, que fazem parte de área de cobertura acordada com os clientes – tentando assim garantir que o beneficiário tenha acesso a pelo menos um prestador de serviços da especialidade que necessita, em tempo determinado. As medidas da ANS não minimiza a relação entre paciente-médico.

Os contratos entregues por estas empresas para seus clientes e médicos são extensos e carregam uma relação unilateral – mesmo com a clareza da lei, as operadoras são conhecidas pelas práticas irresponsáveis e que agridem a relação de consumo, fato comprovado em vários tribunais do país, noticiário e relatos de beneficiários. Outro grande abuso é a transferência da responsabilidade única e exclusiva para os médicos. Alguns médicos são ameaçados de descredenciamento pelas operadoras, o que reduz a competição no setor e leva a negociações mais favoráveis aos planos de saúde. O consumidor é um dos agentes mais lesados porque os médicos se descredenciam das operadoras e ele acaba pagando consultas e outros procedimentos no modelo particular – duplicando assim as despesas com saúde. Atualmente os planos e seguros de saúde não estão preocupados com a qualidade de vida dos seus beneficiários.

O atendimento é precário, os processos de ressarcimento dos serviços são morosos ou não acontecem e a lista de médicos cooperados cada vez mais diminui. A intenção estratégica dessas empresas não condiz com a entrega do serviço e relação verdadeira com seus stakeholders. Segundo Gallo (1996), a cultura de uma organização é resultado de sua história e da interação entre seus membros. Cabe às organizações de planos e seguros de saúde manter um relacionamento adequado com os diferentes grupos de stakeholders. Distintos aspectos devem ser considerados para identificar o grau de atendimento que deverá ser direcionado aos diversos interesses. Diversos autores, entre eles Wood (1990), Weiss (1998) e Frooman (1999), referem-se à definição de stakeholders, sugerida por Freeman (1984) que é amplamente utilizada: “stakeholders são indivíduos ou grupos que podem influenciar ou serem influenciados pelas ações, decisões, políticas, práticas ou objetivos da organização”. A ideia central da abordagem de stakeholders é que o sucesso das organizações depende da forma como gerenciam as relações com os grupos (clientes, fornecedores, comunidades, investidores e outros) que podem afetar a realização de seus objetivo.

Marketing de Serviço
O serviço, por ser intangível, tem de ser experimentado pelo cliente para que ele o conheça. No caso dos planos de saúde a tangibilização/experimentação do serviço passa a ser dolorosa – devido às dificuldades para marcação de consultas/exames, morosidade ou impossibilidade para aprovação de procedimentos médicos, negativa de cobertura ou reembolso, alterações na rede credenciada sem aviso prévio, desrespeitos com idosos e outros clientes-alvos e ausência de uma relação verdadeira com os médicos. As ações de pós-venda é essencial e têm um efeito significativo na fidelização dos clientes.

Berry e Parasuraman (1995) enfatizam que os serviços têm que ser precisos e bem feitos da primeira vez para conquistar a fidelidade do cliente. A confiabilidade é a capacidade de prestar o serviço prometido de modo confiável e com precisão, é o coração do marketing de serviços. Além da confiabilidade, há mais quatro dimensões que determinam a qualidade do serviço na percepção do cliente: 1) a tangibilidade representada pela aparência física de instalações, equipamentos, pessoal e materiais de comunicação; 2) a sensibilidade , marcada pela disposição dos atendentes em ajudar o cliente e proporcionar com presteza o serviço; 3) a segurança adquirida pelo conhecimento e pela cortesia de empregados e 4) a empatia percebida pela atenção e o carinho individualizados proporcionados aos clientes. Para atacar as dificuldades peculiares dos serviços e evitar falhas é preciso desenvolver diversas atividades, divididas em três grandes categorias: 1) propiciar a liderança do serviço; 2) testar e retestar inteiramente o serviço; e 3) alimentar uma infra-estrutura organizacional para o serviço sem erro.

Para Porter (2006), os consumidores, na condição de clientes de planos de saúde e pacientes, deveriam ser os beneficiários finais do valor entregue pelo sistema. Os esforços de vendas e marketing dos fornecedores de saúde são muito mais focados em volume do que em valor para o paciente. Médicos que atendem através de planos de saúde – carregam cada vez mais um serviço focado em atendimentos rápidos, sem uma análise clínica detalhada e com baixa qualidade.

Portanto, os planos de saúde no Brasil continuam praticando um desserviço. Os consumidores necessitam de planos que aceitem responsabilidade pela sua saúde como um todo e assuma uma perspectiva de longo prazo em relação às escolhas de prestadores e tratamentos. Um relacionamento de longo prazo entre o plano e seus membros fomenta esse alinhamento de interesses. Ficamos à mercê de um sistema de serviço de saúde público e privado doloroso e mortal.

BERRY, L.L. & PARASURAMAN A. Serviços de Marketing: competindo pela qualidade. São Paulo: Maltese, 1995.
FROOMAN, Jeff. Stakeholder influence strategies. Academy of Management Review. v.24, n.2, p. 191-205, 1999. WEISS, Joseph W. Business Ethics: a Stakeholder and Issues Management Approach. 2ª. ed. Forth Worth, Texas: Dryden Press, 1998.
FREEMAN, R. Edward; PHILIPS, Robert A. Stakeholder theory: a libertarian defense. Business Ethics Quaterly, v. 12, n. 3, p. 331-349, 2002.
GALLO, Edmundo, VAITSMAN, Jeni, CAMPOS, Antonio C. Gestão Inovadora e Cultura Organizacional. COSTA, N.R. E RIBEIRO. J.M. (org). Política de Saúde e Inovação Institucional. Rio de Janeiro, ENSP/FIOCRUZ, 1996.
PORTER, M. E; TEISBERG, E. O. Repensando a saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. São Paulo: Artmed, Bookman, 2006
WOOD, Donna J. Business and Society. Pittsburgh: Harper Collins, 1990.

A Economia da Experiência

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A margem de lucro que se pode obter na produção e venda de qualquer produto e serviço não depende somente da qualidade e dos custos envolvidos na sua fabricação e comercialização, mas do quanto de valor conseguimos agregar aos produtos e serviços e oferecer aos nossos clientes finais, lembrando sempre que é o valor efetivamente percebido pelo cliente que conta.  Ficar preso à competição via preço é muito perigoso e acaba sendo ruim para todos, diminuindo cada vez mais as margens de lucro no segmento e prejudicando a saúde financeira dos negócios.  Vamos observar como cresce a margem de lucro, à medida que agregamos valor, neste exemplo envolvendo “compra de café”:

 

1) Eu posso comprar café em grão direto do produtor. Neste caso, estarei comprando uma commoditie e o preço é definido pelos brokers (corretores) na Bolsa de Mercadorias & Futuros. A saca de café (do mesmo tipo e qualidade) do produtor A será vendida pelo mesmo preço da do produtor B em um mesmo momento do mercado.

 

2) Eu posso comprar o café industrializado, moído, solúvel, granulado, em pó ou instantâneo, como produto em um supermercado. Eu pago muito mais caro, proporcionalmente, por este produto industrializado do que quando compro café como commoditie. Por quê? Porque o processo de industrialização agregou valor e, ao fazer isso, aumentou a margem de lucro.

 

3) Eu posso comprar café em uma cafeteria ou confeitaria e, neste caso, estou comprando o serviço deste café ter sido preparado e servido para mim. Neste caso, o café custará proporcionalmente mais caro do que quando o compro como produto. Esta empresa agregou valor através do serviço de prepará-lo e servi-lo.

 

4) Eu posso comprar café em uma cafeteria onde existam diferenciais no preparo, um serviço de atendimento superior e uma atmosfera envolvente e memorável. Neste caso, eu estarei comprando uma experiência!

 

Se você pensar que um Cappuccino na Praça de São Marcos, em Veneza, custa em média quinze dólares (quase trinta reais), você perceberá que a margem de lucro aumentou exponencialmente. Você não compra o cappuccino, compra a experiência de tomar cappuccino em Veneza. É o mesmo que ocorre se você comer fondue em Gramado, no inverno, em um aconchegante restaurante no estilo alemão. Você não está comprando e pagando apenas pelo fondue, mas pelo ambiente, pelo serviço, pela experiência de comer fondue em Gramado no inverno, em um ambiente de atmosfera tão especial.  Em todos os segmentos da economia podemos vender qualquer “mercadoria” como commoditie, produto, serviço ou experiência. Tudo depende do seu posicionamento. O mesmo café cappuccino em duas cafeterias diferentes na mesma cidade e até na mesma rua podem apresentar uma diferença de mais de cem por cento no seu preço final. As pessoas não compram sempre apenas o café. Compram o conjunto de benefícios, diferenciais e experiências que compõem comprar este café da sua empresa e não de outra! Seu café deve tornar-se “único”!

 

Quando você encanta seus clientes e agrega mais valor a seus produtos e serviços está garantindo que poderá escapar da prejudicial guerra de preços, vendendo valor.  Se seu único diferencial é preço, então você não tem diferencial nenhum!

 

Claro que na maioria dos casos, agregar mais valor aumenta seus custos, mas lembre-se, a margem de lucro aumenta de maneira mais que proporcional, por isso, vale a pena. Além disso, em muitos casos, para agregar mais valor, melhorando a qualidade do serviço e da experiência, você precisa investir muito mais consciência e atitude que dinheiro.  O grande segredo é oferecer aos seus clientes uma maior percepção de valor, oferecer o maior valor pelo melhor (não menor) preço. Hoje, você não precisa praticar preços minúsculos, precisa oferecer mais valor que a concorrência pelo mesmo preço e, se quiser margens maiores, ofereça uma experiência, um conceito e um posicionamento tão especiais que o cliente tenha orgulho de pagar mais para fazer negócios especificamente com você!

 

Prepare-se para vencer; assim agem os empreendedores. Descubra como agregar mais valor e encantar seus clientes. Tudo pode ser transformado em um acontecimento, em um evento, em uma experiência!

Marketing e Neurociência

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Se existem algumas áreas do conhecimento que devem, por obrigação e vocação conceitual, estar abertas e atentas a todas as outras áreas; marketing está, seguramente, entre elas!  Portanto, Neurociência é do interesse do Marketing. No entanto, ocorre com a primeira o mesmo que ocorreu com a Física Quântica. Há muitos oportunistas de plantão criando pseudoteorias e produtos duvidosos com base em sofismas sobre suas “descobertas”.  No caso da neurociência, isso vem tomando uma proporção muito maior do que a que se verificou com a Física Quântica (embora tenhamos a sensação de que tenha se tentado explicar quase tudo com base em supostas premissas da Física Quântica…).

 

Dentro deste cenário, precisamos utilizar nosso senso crítico para separar ciência e ficção, novas descobertas da validação de antigas descobertas e, suas relações com a esfera do marketing e dos negócios.  Recentemente, vi uma professora universitária (portanto com a chancela acadêmica e, no caso, de uma das maiores universidades do país) dizendo que a neurociência tinha realizado uma fantástica descoberta:

 

“O cérebro não diferencia um fato realmente ocorrido de outro que tenha sido detalhadamente imaginado!”

Bom, isso não é uma nova descoberta e não se deve à atualíssima neurociência; trata-se de uma validação laboratorial de uma antiga descoberta da Psicologia. William James (1842-1910) já afirmava isso no século 19!  A única coisa que a pesquisa mais recente acrescentou foi a possibilidade de verificar laboratorialmente (graças aos exames de imagens do cérebro em tempo real) o que empiricamente já estava demonstrado dois séculos atrás!

 

A mesma coisa se aplica aos mecanismos de recompensa do cérebro, já amplamente abordados e esmiuçados pela Psicologia; mecanismos estes muito importantes na esfera de desenvolvimento de produtos, promoção, merchandising e propaganda em geral, entre outras áreas afins.  Claro que devemos estar abertos e atentos às reais descobertas e validações da neurociência, de onde devemos esperar importantes contribuições para todas as áreas do conhecimento, inclusive para o Marketing. No entanto, é preciso tomar muito cuidado com a proposta de um Neuromarketing que por muitos é apresentado como uma panacéia que mais o aproxima dos embustes de uma Neurolinguística de massa, que das reais contribuições apresentadas por verdadeiros cientistas (em reduzido número) envolvidos com pesquisas sérias sobre o tema.

 

Da mesma forma que uma investigação séria sobre neurolinguística não pode prescindir do estudo de Noam Chomsky (começar em Anthony Robbins, Grinder e Bandler é um equívoco), é mais conveniente ao interessado em Marketing ampliar seus conhecimentos de antropologia e psicologia antes de ficar fascinado por neurociência. É preciso saber discernir o que de fato é uma nova descoberta daquilo que é validação de coisas que já sabíamos e de “lendas urbanas de marketing”, tão ao gosto de uma sociedade de “consumo intelectual” submetida à hiperinformação.

 

Neuromarketing é um estudo viável, interessante, mas ainda recém nascido, onde há muito mais dúvidas que certezas. Cruzar informações de Psicologia do Consumo, Antropologia com as descobertas concretas da atual neurociência é o caminho para aqueles que realmente queiram basear suas carreiras em bases sólidas de conhecimento e não em “amuletos e talismãs”!

Empregado ou empresário? Que tal os dois?

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Empreendedorismo. Eis aqui um exemplo de palavra que muita gente acha que sabe o que significa; Abrir um negócio próprio. No entanto, eu gostaria de propor uma abordagem um pouco mais ampla sobre esta definição.  Todos os dias vemos novos negócios pipocando pela cidade. Igualmente, todos os dias vemos empresas fechando na cidade. Esta é a dura realidade. Para cada 100 novas empresas abertas, 56 não chegam a completar sequer 3 anos de vida, segundo estudo da SEBRAE. Esta alta taxa de mortalidade se deve à má preparação dos tais ‘empreendedores’. A maioria tem até boas idéias, mas não sabe estruturá-las na forma de um plano abrangente, real e eficaz. Outros são bons geradores de idéias mas péssimos administradores. Há ainda os que tem tudo para conduzir um bom negócio, mas carecem dos recursos financeiros para tal empreitada. Somente quem se aventura a iniciar um negócio próprio tem idéia das dificuldades que surgem no caminho. Problemas com sócios, de relacionamento, financeiros, de inadimplência, de decisões erradas por falta de informação e preparo, etc.

 

As dificuldades em ter um negócio próprio nem sempre justificam os benefícios como realizar um sonho, conquistar a independência financeira ou ter mais tempo para o lazer e a família. Muitos empreendedores acabam se arrependendo depois de uma tentativa sem sucesso e voltam para o modelo tradicional de emprego com carteira assinada, na busca de uma maior segurança.   Chegar ao sucesso sendo empresário é hoje tão difícil quanto chegar ao topo das organizações.

 

A maioria das pessoas tem a ilusão de que há mais chances de ser um empresário de sucesso porque acreditam que é um caminho que só depende de sua competência. Em primeiro lugar, esta competência é questionável, uma vez que as habilidades exigidas de um empresário são diferentes das habilidades exigidas em uma função específica no trabalho. A pessoa só vai saber se é competente como empresário quando passar pela experiência. Em segundo lugar, a dependência de outras pessoas aumenta ao invés de diminuir, pois ele passa a depender de clientes, fornecedores, funcionários, governo, contador, advogado, etc.

 

O funcionário também tem dificuldades para fazer bem o seu trabalho. Freqüentemente se vê limitado em muitas situações no exercício de sua função. Ele nem sempre pode implementar suas idéias pois se vê podado nas suas iniciativas. Quando se sobressai parece ameaçar outras pessoas, principalmente o próprio chefe. Na falta de liberdade, este tipo de funcionário acaba saindo da empresa para constituir seu próprio negócio. Por outro lado, comparado com a aventura de ter um negócio próprio, ele tem muitas vantagens: Tem um salário fixo e garantido todo mês, além dos benefícios; pode usar a estrutura da empresa para tocar seus projetos, que inclui máquinas, equipamentos, pessoas e conhecimento; atua num ambiente mais controlável e conhecido.  Diante das vantagens e desvantagens de ser funcionário ou empresário a pergunta que faço é: Qual é a melhor opção de carreira? Empresário ou empregado? Embora cada alternativa tenha suas vantagens, nenhuma delas parece ser ideal, pois ambas têm suas restrições e problemas.

 

E porque não pensar numa alternativa híbrida? Um misto das duas? Não estou querendo dizer que você pode tocar um negócio próprio mantendo o emprego. O que eu digo é: ser empreendedor no seu próprio trabalho. As oportunidades para aproveitar o melhor dos dois mundos estão crescendo em empresas inseridas em mercados competitivos. Abra o caderno de empregos e você constatará o que estou falando. Veja quantos anúncios de emprego pedem candidatos com ‘perfil empreendedor’. Talvez agora faça sentido eu dar minha própria definição de empreendedorismo: Tomar a iniciativa de conduzir um empreendimento qualquer, seja uma empresa, um negócio ou um projeto, assumindo os riscos inerentes em troca de alguma forma de recompensa. O empreendedor, sob este aspecto, pode estar em qualquer lugar, em casa, na escola, no trabalho. A partir do momento que ele decide transformar uma idéia em realidade ele já pode ser considerado empreendedor.  Com isso, entendemos que mesmo em grandes organizações tradicionais há espaço para funcionários com espírito empreendedor. Que chamam para si a responsabilidade de realizar ações de valor agregado para a organização, motivado pela satisfação pelos resultados, pelo reconhecimento ou pelo simples desafio que lhe é imposto.

 

Um dos mais conhecidos intra-empreendedores conhecidos é Art Fry, criador, pela 3M, dos hoje indispensáveis bloquinhos auto-adesivos conhecidos como Post-it. Uma vez fizeram a seguinte pergunta para ele:

‘Porque você, com este talento criativo, suas competências e conhecimento, não saiu da 3M para abrir o seu próprio negócio?’ E ele respondeu: ‘Para quê? Aqui tenho uma equipe de engenheiros e técnicos à minha disposição para testar minhas idéias, tenho toda a infraestrutura necessária para conduzir meus projetos. Porque eu sairia deste ambiente para me aventurar no mundo lá fora? ‘E você? Se você pensa em ter um negócio próprio, o que o levaria a sair da sua empresa para correr estes riscos? Por dinheiro? Pela realização? Pela liberdade? E se a sua empresa lhe oferecesse um pouco de tudo isso, correndo menos riscos? Você continuaria na empresa ou sairia mesmo assim?

Sementes empreendedoras

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Minha filha me mostrou algo que me surpreendeu. Uma pasta cheia de folhas de fichário em branco, mais de 90 folhas diferentes umas das outras, constituindo uma bela coleção parecida com aquelas coleções de papel de carta que as meninas da minha época faziam. Ela começou há apenas 4 semanas, trocando folhas com suas amigas e já tinha um resultado surpreendente, aparentemente a coleção mais variada e completa da classe.

 

Bem, mas como isso pode me surpreender? Todas as meninas da sua idade estavam fazendo esta coleção, é típico da idade e não deveria representar nenhuma novidade, mas o que me surpreendeu foi o seu aprendizado com o processo. Veja algumas lições sobre valor e negociação desta singela brincadeira:

 

1) Folhas grandes valem mais do que folhas pequenas. A troca acontece na proporção de 1 folha grande por duas pequenas. Uma simples definição de valor baseado em tamanho.

 

2) Quanto mais folhas existem do mesmo modelo, menos as amigas querem trocar, por isso, ao comprar, ela pesquisou bastante e escolheu um modelo exclusivo, que ninguém tinha e que despertou interesse imediato.

 

3) Às vezes, quando alguém quer muito uma folha dela, ela barganha por duas da outra, ocasionalmente até mais.

 

4) Ela não se importa de pegar folhas repetidas quando troca, pois sabe que é importante ter variedade para poder negociar melhor.

 

5) No começo, as trocas se limitavam à sua classe, com o tempo, ela aprendeu que suas chances aumentariam se passasse a trocar com amigas da vizinhança, colegas dos irmãos, primos e parentes, etc. Com isso, ela ajudou a disseminar a cultura, aumentando a rede de trocas, popularizando a prática em outras escolas e aumentando a diversidade de folhas no mercado.

 

6) Ela me pediu para comprar um novo bloco de papel com motivos para meninos. Eu estranhei. Porque suas amigas iriam querer trocar por papéis de menino? Ela respondeu que não era para trocar com as meninas e sim com os meninos. Sua meta era clara, assim como os parâmetros de desempenho: Variedade farta, não importa qual seja o tema, as oportunidades advindas da diversificação de mercado.

 

7) Quando seu bloco estava terminando ela parava de trocar para não ficar sem. Mesmo quando eu assegurava que compraria outro, ela manteve as restrições de troca. Suas amigas então atribuíram um valor maior às folhas dela por causa deste comportamento e assim ela acabava obtendo acordos mais favoráveis, um mecanismo de criação de valor, pela atribuição de importância.

 

8) Mesmo tendo sucesso nas trocas com um tema exclusivo, ao renovar seu estoque ela não queria o mesmo modelo, mas outro igualmente exclusivo. No começo, os papéis mais bonitos valiam mais, mas com o tempo, o mercado mudou sua concepção de valor e o que passou a valer foram as folhas diferentes. Ou seja, na hora de comprar para trocar ou ao escolher entre um bonito e um exclusivo, este tinha a preferência.

 

9) A mais recente novidade foi a sua iniciativa de comprar papéis em branco e ela mesma desenhar e pintar as margens decorativas, enriquecendo com furadoras em formato de bichos e adesivos diversos. Cada folha é uma arte única e, quando fica bem desenhado, cada folha exclusiva vale até 5 folhas normais das colegas.

 

Às vezes não nos damos conta do quanto as crianças aprendem sobre empreendedorismo sem nem saber o que é empreendedorismo e muito menos saber que estão aprendendo. Aprender, para eles, é o que eles fazem na sala de aula. Eles ignoram o aprendizado embutido nestas atividades divertidas, lúdicas e interessantes.  Quando aproveitados de forma apropriada, estas experiências podem ser replicadas em outras situações, também dentro da realidade deles e sempre reforçando estes conceitos de atribuição e criação de valor. É o garoto que é chamado para os jogos de futebol porque ele tem a bola, é a menina que reúne sempre as amigas na sua casa e não gasta um tostão com a comido porque as amigas sempre levam um prato porque na casa delas não tem piscina, é o jovem nerd que é sempre chamado nas festas porque ele preparar resumos das aulas para os colegas estudarem, em todas as atividades vemos exemplos de como se cria valor a partir de coisas corriqueiras.

 

As habilidades de negociação também são aprendizados que adquirimos na infância. Quando algo nos interessa muito, fazemos qualquer coisa para obtê-la. Com criatividade, mesmo quem não tem salário, orçamento ou mesada pode oferecer várias coisas no processo de negociação, e assim aprende que, quanto maior o valor percebido da outra parte no que está sendo oferecido, maior o poder de barganha. Não é com teoria que aprendemos isso, é com a prática.

 

Com o orgulho de quem começa a enxergar os primeiros traços empreendedores, eu perguntei à minha filha: ‘E para escrever, o que vocês usam?’ Sua resposta foi lacônica: ‘Caderno’. Claro, que outra resposta poderia esperar dela? Quem vai querer estragar suas ricas e valiosas folhas de fichário para escrever anotações de aula? Este é mais um episódio do meu rico e constante aprendizado sobre empreendedorismo vindo de meus filhos.

Entrevista exclusiva com Enéas Pestana, presidente do Grupo Pão de Açúcar

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O executivo faz um balanço das principais conquistas de 2012, ano de grande crescimento do Grupo Pão de Açúcar, e os maiores desafios para os próximos meses, dentre eles, o objetivo de manter os bons resultados.

1. Resuma os três primeiros anos (2010, 2011, 2012) como líder do maior grupo varejista do país.
Foram três anos intensos em que enfrentei com meu time fortes desafios e mantivemos nosso foco no trabalho. Essa determinação e disciplina resultaram em conquistas significativas. Nesse período, primamos pelo profissionalismo e crescimento do grupo, e os resultados positivos mostram que estamos no caminho certo. Na gestão de pessoas, aprimoramos o ciclo de alta performance por meio da meritocracia, da definição clara de papéis e responsabilidades e da ampliação dos benefícios oferecidos aos colaboradores. Outro passo importante foi a consolidação da sustentabilidade como pilar estratégico da companhia, com a definição de políticas e diretrizes para a área em conexão com todo grupo.

 

2. Liste os principais desafios no período.
No caminho do nosso crescimento, passamos por um complexo desafio que nos rendeu grandes aprendizados. Ser uma empresa multinegócios exige um modelo de gestão e operação que preserve as especificidades de cada formato de negócio e, ao mesmo tempo, possibilite a captura de valor por meio de sinergias decorrentes de um grande grupo. Essa estratégia exige ainda que a consolidação do modelo seja acompanhada e reavaliada constantemente, olhando sempre as partes e o todo de maneira integrada. Outro grande desafio e que eu prefiro chamar de oportunidade, decorre da ascensão da classe C, que nos exigiu repensar nossos formatos/canais de venda. Além da mudança na pirâmide social do país que vem tendo como resultado um aumento no poder de compra da população, estamos diante de um processo de transformação no perfil do consumidor brasileiro, principalmente das classes B e C. Um dos fenômenos que nos chamou atenção especialmente nos últimos dois anos foi o aumento do consumo de produtos com maior valor agregado; aqueles que extrapolam os itens da chamada cesta básica. O consumidor começa a incluir na sua lista um sortimento mais adequado às suas necessidades, promovendo a elevação das vendas de itens que trazem mais praticidade, como congelados, pratos prontos, rotisserie e demais perecíveis, e de produtos de higiene e beleza. Hoje, estamos diante de uma sociedade mais complexa, onde as famílias estão menores e mais pessoas estão morando sozinhas. Há um forte crescimento do uso de redes sociais, o consumidor está mais participativo e preocupado com o futuro dele, da família e do planeta. Ele está mais exigente, com mais pressa e menos fiel às marcas. E tudo isso está redefinindo a maneira como nos relacionamos com nossos clientes em nossos diferentes modelos de negócios. Precisamos olhar com atenção os segmentos minoritários, estamos investindo em múltiplos canais, formatos e no sortimento de produtos. Teremos que nos adaptar à convergência de meios: mobilidade e portabilidade e vamos fortalecer ainda mais os nossos programas de Relacionamento.

3. E as conquistas?
As conquistas foram, de fato, muito significativas porque são resultantes desse novo momento da gestão e do trabalho de um grande time. Como retorno do desafio da operação multinegócios, podemos citar nesses três anos o reposicionamento do Assaí, a reformulação do Minimercado Extra, a conclusão da conversão das lojas CompreBem e Sendas para Extra Supermercado e a consolidação da integração entre Ponto Frio e Casas Bahia. O crescimento da Nova Pontocom e o forte investimento na expansão de todo o grupo também são fatos marcantes. De 2010 para cá, abrimos mais de 140 lojas de todas as bandeiras do grupo e o lucro líquido da companhia vem apresentando crescimento constante e consistente. Mas esses resultados somente foram possíveis porque reunimos um time de alta qualidade e desempenho espetacular. Esta foi a grande conquista do período: liderar uma equipe que hoje soma 160 mil colaboradores focados em suas responsabilidades e conscientes de seu papel. Reforçamos os princípios da meritocracia para que todo o time permaneça engajado e motivado. É um trabalho contínuo e fundamental de ter as pessoas certas nas posições corretas para que o grupo continue crescendo com a referência de alta qualidade nos serviços que oferecemos. Para reunir um time competente e comprometido como o nosso, é preciso ser uma empresa focada em pessoas, que coloque o bem-estar pessoal em equilíbrio com a satisfação profissional, almejando sempre qualidade de vida para todos os colaboradores. Não à toa temos um amplo programa de benefícios para os colaboradores. Em uma companhia com a dimensão do GPA e com a diversidade de formatos de negócio, essa capacidade mostra-se fundamental. Esse é, sem dúvida, uma grande conquista.

4. O que ficou de 2012 (balanço negócios)?
Até a última divulgação de balanço, em setembro, somamos um faturamento de R$ 40,8 bilhões, um crescimento aproximado de 9% em relação ao mesmo período do ano passado. Nos 9 primeiros meses, o lucro líquido do GPA já somava R$ 617 milhões, alta de 90% em relação ao mesmo período de 2011. Vale destacar ainda que fechamos o ano com grande investimento em expansão da rede, com a inauguração de cerca de 80 lojas, com destaque para o Minimercado Extra, que já ultrapassou a marca de 100 unidades, e a criação de mais de 10 mil vagas de trabalho.

5. O que esperar de 2013 (expectativas negócios)?
Temos um plano bem agressivo de expansão para os diferentes formatos de negócio e pretendemos abrir, nos próximos três anos, 500 lojas, criando cerca de 30 mil vagas de trabalho e chegando a praças nas quais ainda não estamos presentes. Em 2013, especificamente, a ênfase de crescimento será nos formatos de atacado, com a bandeira Assaí, e proximidade, com o Mini Mercado Extra, acelerando o ritmo de inaugurações dessas bandeiras, além da expansão orgânica em todos os formatos.

Como implantar um programa de inovação na sua empresa

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Concursos de idéias tem se tornado populares nas empresas. Uma evolução das antigas ‘caixinhas de sugestões’ nas quais os funcionários davam idéias para melhorar operações, processos e produtos da empresa, estes concursos partem do pressuposto que o próprio colaborador é a melhor pessoa para identificar oportunidades de melhoria e de mudanças positivas para a organização.

 

Nestes concursos, executivos da empresa avaliam idéias que são propostas por funcionários de qualquer área, unidade de negócio, departamento, cargo ou localidade, individualmente ou em equipes. As melhores idéias recebem um prêmio, que pode ser uma viagem, um jantar, um bônus em dinheiro ou qualquer outra forma de benefício.  Este tipo de inovação é diferente das inovações técnicas, em produtos ou processos diretamente relacionados com o negócio, que requerem anos de especialização e são conduzidas por áreas específicas dentro das empresas, conhecidas como laboratórios técnicos ou de Pesquisa e Desenvolvimento. Estas inovações tecnológicas dificilmente podem ser originadas pelos funcionários de forma abrangente por exigirem um profundo grau de conhecimento que está, invariavelmente, nas mãos de engenheiros, cientistas e outros especialistas técnicos.

 

A inovação corporativa, por outro lado, é caracterizada por mudanças incrementais de melhoria com baixo ou médio impacto no negócio e com abrangência para todos os funcionários. As organizações investem no desenvolvimento de uma cultura interna aberta às mudanças na esperança de, com o tempo, inserir uma postura voltada para a inovação de forma contínua no DNA organizacional, permeando todos os funcionários indistintamente. Assim, a capacidade de promover mudanças significativas para reduzir custos, melhorar a imagem, aumentar a satisfação do cliente, assim como nos produtos ou processos de negócio, precisam estar ao alcance de todos os funcionários.  A maioria de iniciativas corporativas voltadas para este fim se limita aos já conhecidos programas de idéias. A seguir, passo algumas dicas de como incrementar estes programas para que não fiquem apenas na premiação das melhores idéias, mas que se tornem parte de uma cultura organizacional voltada para a inovação como competência organizacional:

 

1) O ‘dono’ da idéia. De alguma forma é preciso desmistificar a propriedade da idéia. Quem tem o primeiro lampejo da idéia, o insight, a inspiração, não necessariamente é a mesma pessoa que a desenvolverá de forma estruturada em termos de ações para implantá-la, caracterização da oportunidade, levantamento dos recursos necessários, antecipação dos riscos, mensuração dos benefícios e formação da equipe. Tampouco é a mesma pessoa que vai efetivamente transformá-la em realidade, executar o plano e fazer a idéia acontecer efetivamente. A não ser que a pessoa que concebeu a idéia, tenha a intenção e as competências para estruturar a idéia e implantá-la, ela deverá abrir mão da ‘propriedade’ da idéia para que, de forma cooperativa, outras pessoas com as competências necessárias possam trazer seu grau de contribuição para fazer a idéia acontecer. Quando isso não acontece, as idéias acabam morrendo onde nasceram. Quanto maior o grau de complexidade da idéia, maior a chance de fracasso advindo deste ‘medo que roubem a idéia e sua autoria’ por parte do funcionário que originalmente a concebeu.

 

2) A figura do padrinho. Para projetos de certo grau de complexidade, com o envolvimento de várias áreas, prazos longos de implantação, orçamentos robustos ou especificidades técnicas, geralmente é necessário um apoiador com bom trâmite na organização que tenha poder para tirar algumas ‘pedras’ do caminho do funcionário como barreiras burocráticas, interação inter-departamental, apoios institucionais, vontade política, etc. Estas limitações são superadas mais facilmente com a influência positiva de líderes engajados na idéia e dispostos a compartilhar os riscos do projeto.

 

3) Sistema de gestão. É importante que, na medida em que a cultura se espalha pela organização, exista uma boa ferramenta que faça a gestão das idéias em curso, nos seus diversos estágios de maturidade e facilite o controle e a interação das pessoas na formação de equipes, no trabalho colaborativo e na identificação de outras possibilidades. Estes sistemas são abertos, normalmente disponibilizados pelo portal do funcionário na intranet corporativa, unificam idéias inseridas e aceitam contribuições de qualquer pessoa dentro da empresa até mesmo ajudando a desmistificar a ‘paternidade ou o dono da idéia’, conforme foi mencionado anteriormente.

 

4) Fluxo contínuo institucionalizado. O processo deve funcionar mais ou menos da seguinte forma: Primeiro, o funcionário tem uma idéia e a submete a um comitê que fará a primeira avaliação e triagem. Idéias que demonstrem alto potencial de retorno significativo passam para uma segunda etapa em que o funcionário recebe ajuda para montar uma equipe e estruturar sua idéia na forma de um projeto. Estes projetos são avaliados por um comitê executivo que pode ou não dar o aval para que o projeto seja implantado. A partir daí, este projeto é formalizado, incorporado à estratégia do negócio, recebe um orçamento, metas e o apoio de uma equipe de consultoria interna para tudo o que precisar para fazer sua idéia acontecer. O ciclo se encerra quando a equipe colhe os primeiros resultados decorrentes do projeto.

 

5) Treinamento e capacitação. Nenhum funcionário detém todo o conhecimento, habilidades e competências para realizar sua idéia. Uma considerável parte de suas necessidades pode e deve ser suprida a partir de um intenso programa de capacitação, um investimento necessário não só para aumentar as chances de efetivação do projeto como um instrumento de retenção de talentos com perfil empreendedor.

 

6) Estrutura de apoio e suporte. Nem toda a formação requerida pode ser obtida através de programas formais de treinamento e desenvolvimento. Muito do aprendizado destes empreendedores corporativos são obtidos na prática, durante o andamento de seu primeiro projeto. Um ‘escritório de projetos’ que ajude o funcionário a acompanhar o andamento do projeto e fazer uma boa gestão de prazos, orçamentos, pessoas e ações é fundamental para aumentar as chances de sucesso do projeto. Igualmente uma estrutura paralela, formada por profissionais de diversas áreas de staff da organização, como RH, Financeiro, contabilidade, operações, marketing, etc, deve ser montada para dar consultoria e assessoria nas diversas fases do projeto, até mesmo para ajudar o funcionário a conhecer melhor a empresa e seu negócio.

 

7) Modelo de recompensa. Embora a premiação às melhores idéias e resultados seja importante, não pode ser a única forma de recompensa aos funcionários. Em primeiro lugar, a premiação ou qualquer outra forma de recompensa deve ser extensiva a todos os membros da equipe, não importando em que momento eles participaram. Um erro comum é premiar apenas aqueles que implantaram a idéia, esquecendo quem participou antes, na concepção da idéia. Outro ponto importante é compartilhar os resultados diretos do projeto de melhoria ou inovação para toda a equipe, de forma proporcional à contribuição e envolvimento de cada um no projeto, previamente estabelecida. Normalmente esta prática se aplica a resultados mensuráveis, como aumento de receita ou redução de custos.

 

Outras medidas podem ser aplicadas dentro das circunstâncias de cada tipo de negócio, de acordo com o porte e práticas já institucionalizadas.  Estas medidas não substituem a festa da premiação das melhores idéias. Ainda é importante manter a competição como forma de endomarketing, em um processo contínuo de incentivo aos funcionários. Estas sugestões são para empresas que já possuem a prática da competição de idéias institucionalizada e precisam avançar para o próximo passo no caminho em direção da sedimentação de uma cultura interna voltada para a inovação em todos os âmbitos da organização.

Cibridismo: ON e OFF line ao mesmo tempo

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Divulgação

Em meio a tantas tendências que emergem em função da intensa aceleração da penetração de novas tecnologias na sociedade, acredito que a que permeia tudo é a integração do online e do offline. Há dez anos éramos predominantemente OFF. Nos últimos anos, começamos a nos tornar ON. No entanto, até recentemente existia uma separação física necessária entre ON e OFF, pois para estar ON, precisávamos usar um equipamento fixo que nos transportava para o lá. Essa barreira entre ON e OFF foi se dissolvendo aos poucos conforme as tecnologias móveis começaram a popular o cenário social, e muita gente ainda não percebeu que isso já é realidade.

Na última década, ficamos encantados com as novas tecnologias e suas possibilidades, e a atenção estava em tentar entender esse momento mágico, de ser ON. Como bem colocado na terceira lei das previsões, de Arthur Clarke, “toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de mágica”. Essa cauda de magia que cunhou diversos termos como marketing digital, arte digital, vida digital, “blá blá blá” digital de todo tipo, felizmente está se dissolvendo. Apesar de sermos ainda bebês no aprendizado e uso dessa nova parafernália tecnológica que se impõe, estamos nos acostumando com as mudanças diárias, transformações constantes e compreendendo que esse é o novo ritmo, e que o digital não é mais algo separado de nossas vidas – ele também é parte delas, é uma continuação e complementação da nossa vida analógica.

Não somos mais ON ou OFF – somos ON e OFF ao mesmo tempo, simbioticamente, formando um ser maior que o nosso corpo/cérebro biológico nos expandindo para todo tipo de dispositivo e abrangendo outras mentes e corpos. Somos cíbridos e vai se tornar cada vez mais difícil sermos apenas ON ou apenas OFF – nossa essência quer circular livremente, sem rótulos ou presas, para obter uma experiência melhor, uma vida melhor, seja ela ON ou OFF. Não precisamos mais sair de onde estamos para acessar uma máquina que nos leve para o ON. Hoje, e cada vez mais, o ON está com a gente onde quer que estejamos e, em breve, estará conectado direto no nosso cérebro.

Assim, todas as grandes tendências da comunicação e marketing vêm maravilhosamente contaminadas de integração ON e OFF – transmídia storytelling, redes sociais, vídeo, busca, realidade aumentada, cloud computing, crowdsourcing, geo-localização, tempo real, e tudo mais, é uma dança constante entre o ON e OFF que compõem o nosso cotidiano, nossas vidas.

E como aproveitar as oportunidades que essa nova dimensão do ser humano traz para o marketing? Com a estratégia mais antiga e simples possível – causando boas experiências, independente de serem ON ou OFF, em cada momento. No entanto, para que isso aconteça, existe uma palavra mágica: integração! Integração de plataformas, tecnologias, estratégias, conceitos, áreas, pessoas, tudo! Na minha opinião, esse é o maior desafio daqui pra frente.

Se você quiser conhecer um pouquinho mais sobre cibridismo, segue abaixo os slides e vídeos que fiz sobre o assunto no youPIX 2011.

SlideShare: Palestra apresentada por Martha Gabriel (@marthagabriel) no youPIX 2011: clique aqui

O Novo cérebro da GE

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O Novo cérebro da GE é um livro muito significativo para administradores, pois apresenta uma visão dos bastidores de uma das empresas mais admiradas do mundo, seus desafios de transformação, inovação e manutenção do sucesso frente aos novos desafios do século XXI. Paralelamente, o livro permite conhecer melhor o pensamento e as melhores práticas de gestão de Jeff Immelt, que sucede o aclamado Jack Welch (que por sua vez foi aluno e amigo de Peter Drucker) como CEO da empresa.  O livro, escrito com a colaboração de vários executivos da GE e com a colaboração direta do próprio Immelt, foi lançado originariamente nos Estados Unidos pela McGraw-Hill e chegou ao Brasil através da Editora Campus.

 

Fatos relevantes para entender o contexto da obra:

Jeff Immelt nasceu em 1956. Seu pai era funcionário aposentado da GE. Graduou-se em 1978, como bacharel em matemática aplicada, começou a trabalhar na Procter & Gamble e, paralelamente, fez seu MBA em Harvard. Começou a trabalhar na GE em 1982 e, trinta dias após sua entrada, realizou uma apresentação de Marketing frente ao então CEO Jack Welch, que ficou muito impressionado com sua competência, e passou a monitorar seu desempenho na companhia. Deste momento em diante sua carreira começa uma escalada passando por várias divisões da companhia. Já em 1987, seu nome figura entre os 150 talentos considerados para assumir posições de destaque no grupo. Em 1997 ele se torna presidente da então estagnada GE Medical Systems e consegue revitalizar as operações oferecendo serviços avançados para grandes clientes, estabelecendo novas parcerias e investindo em novas tecnologias (que resultaram em produtos como a máquina de mamografia digital, entre tantos outros).

 

Em 3 anos, Immelt conseguiu aumentar as vendas em 75% e promover o crescimento de um resultado de 3,9 bilhões de dólares para 7,2 bilhões de dólares!  Em 2000 Jack Welch o escolhe como novo CEO, frente a outros dois executivos veteranos, altamente cotados para o cargo.  Em setembro de 2001, Jack Welch se retira da GE e Jeff assume como CEO, pouco antes do ataque às Torres Gêmeas do World Trade Center, começando a enfrentar os desafios de suceder um mito moderno da administração e uma série de consequências e crises locais e mundiais.

 

Sua gestão desenvolve-se marcada por um profundo respeito ao capital humano e seu contínuo desenvolvimento. Seus projetos de treinamento incluem todos os executivos e colaboradores da GE em todos os níveis da organização, seus investimentos nestas atividades somam cerca de um bilhão de dólares por ano!  Seu plano de desenvolvimento para a GE é baseado em globalização, mudança, inovação, educação continuada, atendimento focado no cliente, tecnologia, excelência e desenvolvimento contínuo de novos líderes.

 

A GE está preparada para investir 3 trilhões de dólares em países em desenvolvimento!  Com foco na reformulação do modelo de negócios e estratégias de longo prazo da GE, Immelt prioriza a sustentabilidade, pesquisa, desenvolvimento e inovação para eco-products e aquisição de empresas que estivessem de acordo com estes critérios. Neste período, estimasse que a General Eletric tenha feito mais aquisições que qualquer outra empresa, baseado sempre em dois critérios fundamentais: empresas detentoras de produtos líderes de mercado e tivessem potencial para a quebra de paradigmas e inovação; e empresas que contribuíssem com o crescimento orgânico da companhia.  Já em 2008, a GE torna-se líder em 75 eco-products, o que alavanca sua ações na bolsa. Somente a Warren Buffett’s Berkshire Hathaway comprou 3 bilhões de dólares da companhia em ações preferenciais.

Valores e filosofia

Seguindo Welch (que na verdade recebeu esta influência de Drucker), Immelt tratou de pautar sua filosofia em alavancar os pontos fortes da organização ao mesmo tempo em que diminuía os pontos fracos!  Immelt investe 30% do seu tempo em questões de RH!  O Budget de 1 bilhão de dólares/ano em treinamento e desenvolvimento é considerado o maior do mundo e evidencia sua priorização do capital humano!  Immelt atua pessoalmente como coach de seus executivos, incentivando-os a fazer o mesmo para manterem sempre uma visão clara que transforme estratégias em resultados, superando as crises de execução, tão comuns em outras empresas.

 

No período referente aos seus primeiros seis anos na presidência, a receita da GE cresceu de 110 bilhões de dólares para 175 bilhões de dólares. No mesmo período, os lucros cresceram de 10 bilhões para 23 bilhões de dólares!  De olho no futuro, a GE possui uma nova estratégia de expansão global baseada escassez e necessidade. Percebendo que 50% do resultado da GE advém de países emergentes, e que o crescimento oriundo desse mercado foi o dobro do mercado interno, a GE pretende, ao invés de enfatizar a venda de produtos de consumo, fornecer infraestrutura energética para o crescimento destes países emergentes.

 

Seus estrategistas estimam que até 2015 estes países precisarão de 3 trilhões em investimentos de infraestrutura e Immelt acredita que a General Eletric está mais bem preparada que qualquer outra empresa no mundo para aproveitar esta fantástica oportunidade.  A seguinte citação de Immelt sinaliza bem sua visão de futuro para esta companhia fundada por Thomas Edison e sua lâmpada elétrica:

 

“Para a GE o mais importante é o seu futuro hoje, da mesma maneira que a Lâmpada era o futuro da empresa mais de cem anos atrás!”

 

A armadilha da qualidade

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Imagine as seguintes cenas:
O chefe de segurança da linha de produção de uma fábrica comemora cada dia que o deixa mais próximo de bater o próximo recorde de dias sem acidentes;
O supervisor de embalagem exulta-se ao receber os resultados que indicam uma diminuição de 0,3 ponto percentual no índice mensal de defeitos no processo em sua área;
O diretor de um grande banco reúne toda sua equipe para comunicar que o próximo happy hour será patrocinado por sua área para comemorar a incrível melhoria de 29 para 28 dias em média para o processo de abertura de contas correntes corporativas;

 

O engenheiro-chefe de uma empresa de instalações telefônicas envia uma carta elogiando seu fornecedor de equipamentos pela redução das reclamações de seus técnicos de campo sobre o serviço de apoio prestado por eles;
A coordenadora de uma ala de um grande hospital assina um termo de compromisso em que todas as suas enfermeiras se responsabilizam por tentar aumentar a rotatividade de leitos;

 

Uma operadora de call center é eleita a funcionária do mês porque sua média de duração de chamadas atendidas caiu quase 4% no último mês.O que existe em comum em todas estas cenas é a valorização e busca pela melhoria contínua da eficácia operacional, em outras palavras, melhorar a qualidade de seus processos.

 

A ‘onda da qualidade’ surgiu no início da década de 80, depois de popularizada por histórias de sucesso recentes em empresas japonesas que começaram a dominar o cenário internacional. Grandes gurus como Deming, Crosby ou Juran se sobressaíram no que se tornou a nova panacéia organizacional.  De fato, na época, reduzir defeitos, melhorar os processos e baixar os custos representava um novo modelo de competitividade que foi abraçado por todas as grandes organizações e gerou excelentes resultados que beneficiaram toda uma geração de empresas e consumidores.  O grande problema é que o paradigma da qualidade, tão relevante e indiscutível, acabou se virando contra as próprias empresas. O mantra corporativo da melhoria contínua perdeu seu poder de competitividade, mas muitas empresas ainda não perceberam isso.

 

Quando existe muita ‘gordura para queimar’ ou seja, muita ineficiência, práticas de melhoria são importantes e necessárias, mas depois que os processos são organizados é preciso ter a coragem de abandonar o mito de que continuar melhorando gera ganhos, porque estes ganhos são marginais se comparados com os custos necessários para atingir melhorias de alguns poucos pontos percentuais. Empresas que estão despertando para esta realidade são aquelas que já abandonaram a idéia da ‘qualidade a qualquer custo’, pois os custos já não mais compensam os benefícios.

 

Só que o prejuízo é ainda maior e foi observado pelo Professor de Harvard, o conhecido Michael Porter, há mais de 10 anos: A busca da melhoria contínua impede a inovação. Quando você assume que o mais importante é melhorar seus processos cada vez mais, dá pouco espaço para admitir que é preciso mudar o processo para atingir novos patamares de desempenho. O motivo? Mudança significa risco pela incerteza. Toda mudança implica na possibilidade de os indicadores piorarem num primeiro momento, ao invés de melhorarem e isso seria inadmissível.

 

Como exemplo, suponhamos que você tenha uma máquina que gera 10 defeitos nas 1000 peças que ela produz por dia, obviamente você precisa agir para reduzir o número de defeitos. Mas quando o processo gera 0,01 defeito por dia, o importante já não é mais o número de defeitos, mas, às vezes, um máquina que produza 5000 peças por dia, ou até mesmo a necessidade de gerar outro tipo de peça para seu cliente. O problema é que trocar a máquina ou a peça requer um novo processo, com um novo aprendizado, e, conseqüentemente, um novo parâmetro de qualidade. A cultura da melhoria contínua é tão enraizada que você se recusa a mudar e quer continuar a melhorar o índice de defeitos.

 

A obsessão por melhorar os indicadores é a armadilha da qualidade. A cultura corporativa nacional ainda privilegia este modelo e enquanto esta ênfase não mudar nas empresas, a inovação não vai acontecer. Enquanto sustentarmos antigas métricas que levaram nossas empresas ao sucesso, mas muitas vezes nem são mais válidas hoje, estaremos nos cegando às necessidades de abandonar o antigo para dar espaço para o novo. Precisamos parar de fazer bem o que fazíamos antes e começar a tentar fazer o que faremos bem amanhã.

 

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