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Empreendedores são visionários

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Visão de futuro é uma das características comuns em empreendedores bem sucedidos. A capacidade de vislumbrar um futuro no qual o empreendedor e seu empreendimento estarão dentro de alguns anos é uma competência que poucos dominam de verdade. A maioria confunde visão de futuro com sonho ou com objetivos. Visão não é nem uma coisa nem outra.

 

Sonhos são desejos, quimeras, são distantes e inalcançáveis, não têm finalidade prática para o empreendedor. Uma jovem sonha em encontrar seu artista favorito, uma criança sonha em conhecer a Disney, um trabalhador do campo sonha em ficar rico, uma solterona sonha em se casar com um galã de cinema. Os sonhos, invariavelmente, navegam pelas águas do impossível, da utopia, do irrealizável.

 

Objetivos, por outro lado, são, vejamos… objetivos! São concretos, bem definidos, fáceis ou difíceis de se atingir, mas todos são atingíveis, são factíveis. Objetivos bem definidos estão relacionados com prazos, são quantificáveis e posicionados dentro de um contexto de planejamento, fazendo parte de um objetivo estratégico e composto por uma ou mais métricas de desempenho que atuam como metas intermediárias que, uma vez alcançadas, caracterizam os objetivos alcançados.

 

A visão de futuro se situa entre estes dois conceitos. Podemos dizer que visão é um sonho realizável, um sonho em que se pode vislumbrar sua realização, sua factibilidade. Uma visão se forma quando uma pessoa consegue enxergar a possibilidade real de transformar seu sonho em realidade. Porém não chega a ter a estrutura concreta de um objetivo. A visão permeia o reino do etéreo, da subjetividade, de um futuro ainda difuso e incerto. A visão, ao invés de traçar um caminho claro rumo ao futuro como o objetivo, serve apenas para dar um senso de direção, indicando para qual lado seguir.
Uma metáfora interessante para entender a visão é um farol.

 

Os faróis se situam na orla do mar, geralmente nos pontos mais extremos de terra para que sejam a primeira coisa que os tripulantes de uma embarcação vejam ao se aproximar vindos do mar. Os faróis ajudam a orientar o caminho das embarcações, ora para impedir que os barcos se choquem contra as pedras, ora para indicar o caminho em casos de nevoeiro, noite ou tempestade. Os marinheiros não vêem o farol como um objetivo, eles não querem alcançar o farol, mas o usam como guia, como um indicador de qual direção tomar, sobretudo se estiverem perdidos e não souberem para onde ir.

 

Empreendedores são bons em formular visões de futuro. Eles imaginam seus negócios daqui a 10, 20, 30 anos. Eles visualizam em sua mente como eles estarão, enxergam o dia-a-dia de sua empresa, imaginam quantos funcionários terão, que produtos fabricam e comercializam, onde estarão, como serão as instalações, em quantos países estarão presentes. Eles imaginam clientes elogiando seus serviços, funcionários trabalhando felizes, jornais o procurando para dar entrevistas, recebendo convites para dar palestras em universidades, com um excelente padrão de vida para sua família, tudo de bom.
Estudos comprovam que pessoas com clara visão de seus futuros são normalmente mais bem sucedidos do que pessoas que não conseguem ou não querem pensar em suas vidas no longo prazo.

 

Quanto mais clara sua visão de futuro, maior será sua determinação em realizá-la, mais eficaz será seu planejamento, mais fácil e ágil será seu processo de tomada de decisões estratégicas, mais eloqüente será seu discurso de motivação dos funcionários, mais efetivos serão seus objetivos e metas. Uma visão forte fortalece também o empreendedor, dando-lhe segurança e auto-confiança.  As visões também podem mudar com o tempo, pois o contexto geral do ambiente de negócios pode mudar também. Além disso, o empreendedor passa por experiências que o ajudam a contextualizar melhor sua visão e até outras coisas que ele não havia considerado passam a influenciar sua visão de futuro. Nada de errado nisto, só não pode ter dúvidas sobre o que está construindo com seu empreendimento.

 

Fecho com uma parábola que ilustra bem o conceito e o papel da visão do futuro no nosso desenvolvimento. Uma vez um rapaz passava na rua e viu um garoto atirando pedras. “o que está fazendo rapaz?” perguntou ele. “Jogando pedras na Lua” respondeu o menino. “Ora garoto, você enlouqueceu? Você já tem idade para saber que a Lua está muito distante, você nunca vai acertá-la com pedras. Sabe disso, não?”. O garoto respondeu que sabia, mas que tentaria mesmo assim, e continuou lá, atirando pedras na direção da Lua a noite toda.

 

E então, você acha que ele algum dia conseguiu acertar a Lua? Claro que não. Mas na cidade dele, nenhum outro garoto atirava pedras tão longe quanto ele! Assim é a visão, uma poderosa ferramenta para seu auto-desenvolvimento, um grande e eficaz motivador e, acima de tudo, uma inspiração que leva todos os empreendedores a adquirir força para sobrepujar os desafios mais difíceis e perseverar a cada queda ou ao enfrentar cada barreira que se coloca no seu caminho. Gaste algum tempo construindo sua visão de futuro.

As 7 razões do sucesso do Twitter

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Quando criado, por Biz Stone (@biz) e Evan Williams (@ev), em 2006, o Twitter propunha que as pessoas respondessem a uma simples pergunta: “What are you doing?” (O que você está fazendo?), em 140 caracteres. Daí surgiu o conceito microblogging – um blog enxuto, algo que se assemelhasse a um diário de anotações rápidas, em que as pessoas escrevessem o que estavam fazendo, pensando, ou onde estavam naquele momento. Mas isto seria muito pouco para fazer do Twitter o fenômeno mundial que é hoje. Desde sua criação até sua popularização, diversos fatos sucederam-se para transformá-lo nesta verdadeira febre digital.

 

O principal motivo do sucesso do Twitter é atribuído ao fato dele ser o que muitos denominam de um serviço “incompleto”, sem finalidade definida e que, portanto, está sendo diariamente inventado, ou seja, aberto à criatividade dos usuários e programadores.  Mas ainda há os que defendem que se o Twitter promove o relacionamento entre as pessoas, ele é apenas mais uma rede social, dentre tantas outras.

 

Não. O Twitter é muito mais do que isso. É uma extensa rede de relacionamentos, notícias, informações, um canal fantástico de comunicação, que dissemina ideias, forma opiniões e liga pessoas do mundo inteiro, em tempo real.  Este artigo vai ajudá-lo a compreender porque o Twitter se tornou este fenômeno mundial, e mais do que isto, levará você a refletir que os mesmos fatores que levaram o Twitter ao sucesso, podem e devem ser considerados em seu negócio.

 

Dentre diversos motivos para o sucesso do Twitter, destaquei alguns, que exponho a seguir:

1 – É inovador: Conexões unilaterais e valor agregado
Nas redes sociais anteriores ao Twitter, para que fosse estabelecida uma conexão entre duas pessoas, ambas precisavam aceitar o vínculo. O Twitter inovou ao permitir links unilaterais. Assim, você não precisa ser amigo do comunicador Marcelo Tas (@marcelotas), ou dos empresários Abílio Diniz (@abilio_diniz) e Eike Batista (@eikebatista) para se conectar com eles. Você escolhe quem deseja seguir, e passa a ser informado das atualizações que esta pessoa faz. E não são apenas pessoas – Revistas, Jornais, Entidades de Classe, Empresas, Órgãos públicos, Ongs, todos aderiram ao uso da ferramenta. Você tem a possibilidade de filtrar as informações que deseja e ficar com o que realmente agrega valor!

 

Enquanto nas redes anteriores o que vigorava era a conversa cotidiana, o contato entre amigos, o Twitter veio definitivamente para agregar valor. Assim, para ser seguido, você precisará oferecer um conteúdo relevante. Quem se interessar pelo que você tem a dizer, passará a segui-lo e será atualizado sobre as suas postagens, suas ideias, atividades e projetos. Eu, por exemplo, em meu Twitter (@carloshilsdorf), não escrevo como foi o meu café da manhã, ou se meu vôo está atrasado, como fazem muitas celebridades. Isto não tem a menor importância para quem acompanha meu twitter. Busco oferecer conteúdo significativo para profissionais que desejam aprimorar suas competências, desenvolver habilidades, crescer na carreira. Dou dicas sobre Administração, Marketing, negócios, carreira e comportamento. Procuro atender a uma condição fundamental: agregar valor, oferecer conteúdo significativo àqueles que acompanham meu perfil.

 

2 – É rápido: Notícias e Informações relevantes na velocidade da luz
Lembra quando você estava em frente à TV e a programação era interrompida por um Plantão de Notícias? Você pensava “alguma coisa importante acabou de acontecer.” Pois é. Mas o fato já tinha acontecido há algum tempo. A emissora precisou enviar uma equipe ao local, o editor montar o texto, o âncora, entrar ao vivo…
Com o Twitter, a palavra “imediata”, ganhou seu real significado. As fontes das notícias passaram a ser as mais diversas, qualquer pessoa pode notificar um fato extraordinário, imediatamente. Para que se tenha idéia, apenas para citar um acontecimento recente, o terremoto de 2010 no Chile foi noticiado primeiramente por pessoas da região em seus perfis no Twitter (antes mesmo das maiores redes de TV do mundo inteiro, e dos órgãos responsáveis pela monitoração de abalos sísmicos da região). Em questão de 10 minutos o assunto já era um dos mais falados no mundo inteiro, nos famosos Trending Topics (os tópicos mais falados do momento).

Assim, assuntos ligados ao jornalismo ocupam boa parte do conteúdo das mensagens. Um grande número de jornalistas e estudantes de jornalismo adotou o Twitter como ferramenta de trabalho. Os profissionais de Marketing e Publicidade também estão com forte presença no Twitter, conectando-se às associações e órgãos ligados à categoria, agências de publicidade, e a portais de conteúdo, como o @Cidademarketing, para o qual tenho o prazer de escrever artigos como este. O mesmo vem ocorrendo com profissionais da Administração e de outras áreas.

 

3 – É prático: 5 comandos para dominar a ferramenta.

O segredo está na simplicidade! São poucos comandos para o usuário utilizar a ferramenta por completo. Posts com 140 caracteres, envio de mensagens direcionadas, mensagens privadas, seguir um perfil, montar uma lista de contatos. Seu uso é praticamente intuitivo. Isto faz com que as pessoas tenham menos resistência à sua utilização.

4 – Estreita relacionamentos

Passada a euforia de se conectar às pessoas que você conhece, aos famosos, às revistas que você gosta de ler, você descobre que muitas das empresas com as quais você se relaciona também estão no Twitter para te ouvir. Aproveite a oportunidade. Companhias aéreas, redes de livraria, montadoras de automóveis, redes de fast food, todas descobrindo mais um canal de relacionamento com clientes. Lembrando que este canal de relacionamento tem a vantagem de ser verdadeiramente real time, o que permite às empresas que monitoram as opiniões de seus clientes pelo Twitter, agir imediatamente em uma situação emergencial que coloque em risco a imagem da organização. Melhor que qualquer resposta fornecida por uma assessoria de imprensa pelas mídias convencionais, que ocorre sempre com muita defasagem de tempo. O Twitter permite uma ação imediata. Esta mesma particularidade favorece monitorar oportunidades, realizar promoções, veicular campanhas relâmpago frente a um movimento favorável de opinião ou questionamento do mercado. A prospecção já muito utilizada pelas redes sociais adquire possibilidades adicionais com o Twitter!

5 – É avassalador: O poder viral do Twitter
O Twitter demonstrou em diversas ocasiões ser a rede mais poderosa na disseminação de informações. Lembra da Copa do Mundo de 2010, quando internautas fizeram uma campanha criativa “Save the Galvao Birds”? Uma brincadeira bem humorada com o narrador esportivo Galvão Bueno tornou-se um verdadeiro fenômeno de popularidade no twitter, e espalhou-se por todo o planeta em minutos, chegando ao ponto do próprio Galvão Bueno comentá-la ao vivo, durante uma transmissão de um jogo de futebol da Copa do Mundo.
Outro momento histórico em que o Twitter provou sua força de comunicação foi a campanha presidencial dos Estados Unidos, em que a equipe de Barack Obama soube utilizar-se brilhantemente da ferramenta para fortalecer o famoso “Yes, we can.” A opinião de todos os analistas é unânime em reconhecer a importância do uso do Twitter na eleição que consagrou Barack Obama como o 44º presidente dos Estados Unidos.

Hoje, centenas de empresas utilizam técnicas semelhantes e geram muito barulho no Twitter com campanhas e promoções, sempre utilizando mecânicas que ampliem a exposição dentro desta mídia e fazendo com que a repercussão da ação extrapole as fronteiras digitais.

6 – É revolucionário: O surgimento de novos formadores de opinião

A revolução é tão grande que, além das celebridades do mundo real, que também possuem centenas de milhares de seguidores no Twitter, há alguns perfis de ilustres desconhecidos que se tornaram fenômenos de popularidade digital. Pessoas que desenvolveram um conteúdo interessante, atrativo, alguns com caráter de notícias, outros com tom de humor, e que são hoje um grande sucesso no Twitter. Isto nos leva a impressionante conclusão que uma pessoa com cerca de 100.000 seguidores no Twitter e alguns RTs pode ser mais influente que muitos veículos de comunicação.

 

7 – É inclusivo, flexível, expansível em suas aplicabilidades

Como mencionei no início do artigo, um dos motivos do sucesso do Twitter é o fato dele ser um serviço, em si, incompleto. Não tardou para que outros aplicativos completassem as funcionalidades do Twitter (apenas para citar alguns: Twitcam, Twitpic, Tweetdeck. Twitvid), oferecendo a possibilidade de utilizar a webcam em tempo real, inserir fotos, programar postagens para horários em que você não está disposto a postar. Isso sem falar na mobilidade proporcionada pela utilização dos celulares, smartphones, tablets, que ampliam ainda mais as possibilidades de interação, permitindo acompanhar as novidades sem precisar estar no computador.

 

E o seu negócio? É ágil? Agrega valor? Está pensado de forma inovadora? Gera experiências que estreitam o relacionamento de sua empresa com clientes e prospects? Monitora tendências e movimentos de seus clientes, antecipando ofertas e sincronizando a comunicação em real time?  Reflita sobre princípios de gestão e marketing que estão por trás do sucesso do Twitter e veja o que você pode aplicar hoje mesmo em seu negócio, na empresa em que você trabalha e até mesmo em sua carreira!

 

O Twitter responde a um anseio profundo do ser humano – comunicar e compartilhar suas ideias, impressões e opiniões ao maior número possível de interessados. Este anseio é comum às empresas que dependem da comunicação para serem vistas, ouvidas, reconhecidas, valorizadas e desejadas…  Em tempo: o antigo slogan do Twitter em 2006 “O que você está fazendo?”, transformou-se em 2009 para “Compartilhe e descubra o que está acontecendo neste momento, em qualquer lugar do mundo”, e hoje evoluiu para “A melhor forma de descobrir o que há de novo no seu mundo”.  Reflita sobre este fenômeno, e é claro, aproveite isso tudo em favor do sucesso do seu negócio e carreira.

 

Aguardo seus comentários sobre estas reflexões e as oportunidades que você visualiza através deste revolucionário microblog que faz do imediatismo e da síntese a grande sensação do momento. Nos vemos no Twitter.

 

Drummond e o Novo Marketing

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Acelerado, incerto, mutável, complexo, exigente, inteligente. Estes adjetivos são, no mínimo, alguns aos quais podemos recorrer para definir os mercados em que pretendemos vencer. Para fazer frente às particularidades destes mercados em mutação acelerada, precisamos de um marketing ainda mais inteligente e ousado.

 

Um marketing arquitetado sob uma plataforma estratégica inovadora e consistente, que seja capaz de combinar o rigor analítico da era dos algoritmos com a criatividade radical das manifestações underground da arte e da cultura. Estamos falando de um marketing maduro, que compreende que embora a essência do Homem continue, em síntese a mesma, suas manifestações variam a cada segundo e, portanto, também variam os produtos, serviços e a comunicação que a ele se destinam.

 

Todos sabemos que o salto tecnológico é irreversível, mas é incrível o número de profissionais e clientes ainda apegados a formas tradicionais de marketing (apenas como dado, considere que 54% dos consumidores norte-americanos baniram o telemarketing de suas vidas).

 

Cada época tem suas particularidades e as melhores empresas e profissionais introduzem o futuro antecipando-se às tendências. Eu e outros colegas estamos sinalizando há bastante tempo sobre a revolução do geomarketing, um marketing extremamente customizado que se vale de tecnologias como a localização por satélite, um bom database, telecomunicação móvel massificada e, por que não, ferramentas de biometria, hoje muito acessíveis.

 

Como propôs o especialista em estratégia, Michael Kami: “Seu destino não está em suas mãos; está nas mãos do consumidor, da sociedade. As mudanças nas necessidades, desejos e demandas deles lhe dirão para onde você deve ir.”.
A era do Minority Report chegou, mas alguns ainda insistem em “pintar as porteiras de fazendas”…

 

Realidade aumentada, leitura biométrica com cruzamento de database por afinidade, promoções relâmpago lançadas via torpedo para o seu celular envolvendo geomarketing são assuntos que devem estar em nosso foco de trabalho. No ano passado, a empresa NEC Corporation lançou um protótipo de publicidade digital capaz de apresentar propagandas personalizadas a cada cliente que se aproxima de uma vitrine, arara ou gôndola de loja. Os clientes são reconhecidos por uma câmera digital que processa uma leitura biométrica, reconhece sua idade, sexo e histórico de compras no estabelecimento e seleciona a propaganda mais apropriada caso a caso. Experiências de sucesso com displays acoplados em vitrines que apresentam roupas mais apropriadas ao biótipo dos clientes prometem uma grande revolução no vitrinismo.

 

A popularização destes sistemas começa agora em 2011 e já há agências brasileiras super plugadas nestas oportunidades de negócios. Embora ainda exista muita polêmica acadêmica sobre o tema, o fato é que em breve você estará entrando em uma loja, sabendo o que seus amigos de redes sociais estão comprando e recebendo promoções personalizadíssimas.

 

Segundo o especialista em comportamento de consumidores Herb Sorensen, os clientes já não são mais efetivamente atingidos por anúncios estáticos que se incorporam ao layout dos centros de compras, eles estão em busca de algo mais efetivo e sob medida. Nosso celular será um fantástico canal de vendas na era do geomarketing. Empresas maravilhosas como a Editora Abril também estão avançadas em propostas para esta nova era.

 

Ah! E você me pergunta onde entra Drummond em tudo isso? Bem, é ele quem propõe a reflexão aos que querem continuar saudosistas em termos de marketing nos seguintes trechos de José:

 

JOSÉ
Carlos Drummond de Andrade

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José ?

[…]

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora ?

Não acredite que os bancos no Brasil praticam Responsabilidade Social Empresarial

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Este artigo pretende confrontar e alertar a sociedade que os discursos socialmente responsáveis dos bancos brasileiros não condizem com suas práticas junto aos seus interessados.

De acordo com Ashley (2002), a responsabilidade social empresarial pode ser interpretada como uma forma de gestão comprometida com o bem estar social, que exige ações em diferentes direções. Almeja um relacionamento ético e transparente da empresa com seu público, por meio de estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade. Isto é, desempenho econômico com respeito à diversidade cultural, redução das desigualdades sociais e preservação dos recursos naturais para as gerações futuras.

Para o Instituto Ethos, responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. (ETHOS, 2010)

Neste contexto, os conceitos e teorias não são praticados pelas instituições financeiras no Brasil. Essas organizações, por sua vez, carregam uma relação unilateral focada apenas no lucro, não retribuindo à altura os recursos que a sociedade lhe provém para seus ganhos. Os discursos comuns bancários expostos nos filmes publicitários sobre Consumo Consciente do Crédito, Responsabilidade Social e Cidadania Corporativa não são tangibilizados na prática pelos grupos de interesses, em especial, os clientes.

Kotler (2010) reforça que, quando uma marca traz transformações, os consumidores a aceitam, inconscientemente, como parte de seu cotidiano. O cotidiano dos consumidores bancários é de vivenciar filas exorbitantes, juros abusivos, vendas casadas, colaboradores insatisfeitos, gerentes que praticam atendimentos engessados e apenas focados na cartela de clientes que possuem alta ou média movimentação financeira. Um desrespeito ao principal ativo das instituições financeiras e uma afronta à legislação do nosso país.

Podemos compreender, com base nos autores, que a Responsabilidade Social Empresarial está relacionada diretamente com a ética e transparência na gestão dos negócios e deve refletir-se nas decisões cotidianas que podem causar impactos na sociedade, no meio ambiente e no futuro dos negócios. De um modo mais simples, podemos dizer que a ética nos negócios ocorre quando as decisões de interesse de determinada empresa também respeitam o direito, os valores e os interesses de todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são por elas afetados.

• As insatisfações dos consumidores em números
Os bancos historicamente carregam uma má imagem e os números registrados nos Órgãos de Defesa do Consumidor respondem claramente pela insatisfação generalizada de seus sofredores clientes.
Segundo balanço do PROCON/ES, os bancos Itaú/Unibanco (24%), Bradesco (22%) e Santander/Real (14%) estão entre as cinco instituições mais reclamadas no Estado. O levantamento realizado em Setembro/2010 aponta como problemas mais frequentes: a cobrança indevida e abusiva (não cumprimento, alteração, transferência, irregularidades e rescisão);
Em São Paulo a situação é pior, no ranking das 50 empresas mais reclamadas no PROCON/SP, 16 delas são instituições financeiras o que representa 22% do total, segundo lugar no geral.

Segundo o PROCON/SP, a lista contém apenas reclamações fundamentadas, ou seja, demandas de consumidores que não foram solucionadas, sendo necessária a abertura de processo administrativo para serem trabalhadas pelo órgão junto aos fornecedores. As demandas que mais se destacaram no setor foram as relativas a cartões de crédito. O maior problema concentra-se na cobrança de tarifa de emissão de boleto, procedimento con¬siderado indevido pelo PROCON/SP e proibido pela Resolução 3693/2009 e pela Carta Circular 3349/2008, ambas do Banco Central. Em razão dessa conduta, as cinco primeiras colocadas foram autuadas pelo PROCON-SP.

Persistem ainda em 2009 as queixas referentes à cobrança de valores não reconhecidos nas faturas de cartões de crédito em caso de roubo/furto, perda/extravio do “plástico”, ou mesmo quando o cartão permanece de posse do consumidor. As instituições recusam a efetuar o estorno alegando que a comunicação da perda, extravio, furto ou roubo do cartão não foi imediato, ou se deu fora do prazo, argumento que desconsidera que é dever e responsabilidade da instituição garantir a segurança do produto que comercializa no mercado.

Ainda no que diz respeito ao sistema bancário, ocorreram situações em que o consumidor deparou-se com lançamentos de serviços que não solicitou, como seguros de vida, contra roubo, de acidente pessoal, etc. E, ainda, ofertas de parcelamento de fatura feita pelas administradoras sem a devida informação sobre as características da oferta: taxa de juros, valor total cobrado, a qual fatura se refere o parcelamento oferecido, entre outras.

Recentemente o Itaú e Unibanco se uniram dando origem ao maior banco privado do país e àquele com o maior número de clientes insatisfeitos. De que adianta ser intitulado de uma grande instituição bancária e não entregar um serviço justo para o seu principal ativo, o cliente?

Decidi escrever este artigo depois de solicitar o cancelamento da minha conta corrente do antigo Banco Real, hoje, Santander. O discurso bancário de “Vamos fazer juntos?” para mim é apenas um slogan figurativo que compõe a marca e que, na prática, carrega um diálogo vazio com os seus clientes. Aquela “fantástica” conta corrente que foi aberta na época de universitário que incluía talões de cheques e papelaria reciclada, campanhas papa-pilha e incentivo a universitários são apenas estratégias de promoção organizacional.

• Filas Exorbitantes
Todas as vezes que precisei do serviço presencial bancário, não passei menos de 45 minutos esperando em uma fila para ser atendido, ou melhor, minha última experiência em uma agência bancária foi para ser ressarcido de cobranças indevidas praticada pelo Banco Santander e simplesmente aguardei 2h07 minutos para ser atendido na “boca” do caixa. Com base no fato, fica visível uma verdadeira agressão a relação de consumo.

Toda empresa tem o dever ético de cumprir a lei, seja ela qual for.

Swift e Zadek delineiam três estágios ou gerações de responsabilidade social corporativa. Para estabelecermos relação com as filas exorbitantes em que os clientes se deparam no sistema bancário, ressaltamos apenas o primeiro estágio, considerado pelos autores como estágio básico. Nele, a empresa considera a responsabilidade social corporativa como mera obrigação de cumprir com as leis referentes a impostos, segurança e saúde, direitos trabalhistas, direitos do consumidor, regulamentação sobre meio ambiente e outras normas vigentes.  O autor acrescenta que, para a empresa ser considerada boa e responsável, ela deve simplesmente atuar de acordo com as regras do jogo. Esse estágio não significa necessariamente uma política de responsabilidade social, e sim o mínimo a se esperar de uma empresa em termos de comportamento moral, pois cumprir as leis não seria necessariamente uma grande virtude, mas o simples exercício de uma cidadania que visa a que suas ações não sejam consideradas criminosas.

Para Oliveira (1984), responsabilidade social é a capacidade de a empresa colaborar com a sociedade, considerando seus valores, normas e expectativas para o alcance de seus objetivos. No entando, o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia, aqui também denominada de obrigação social. (OLIVEIRA, 1984, p. 205)

Com base nos autores apresentados, observamos que leis municipais e estaduais que regulam o atendimento bancário parecem não funcionar e o cliente fica à mercê de um sistema moroso e inoperante. Algumas pessoas chegam a passar horas esperando para serem atendidos, incluindo idosos. Um crime que agride qualquer discurso sobre responsabilidade social.

• Cobranças Indevidas

O banco em questão já “empurrou goela abaixo” um seguro de vida e plano de capitalização sem minha autorização. Prática ilegal e caracterizada como venda casada. A venda casada ocorre quando você solicita um produto/serviço, mas é obrigado a levar um segundo como condição para liberação do primeiro. Essa prática é bastante utilizada pelos bancos nos atendimentos eletrônicos e extremamente proibida pelo Artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor e Artigo 17 da Resolução 2878 do Banco Central do Brasil (BACEN). Nessa mesma perspectiva indico o artigo do conceituado Prof. Rizzato Nunes, que é mestre e doutor em Filosofia do Direito e livre docência em Direito do Consumidor pela PUC/SP e relatou em seu blog uma angústia semelhante e alertou a sociedade sobre a prática negligente do sistema bancário.

• Tarifas Bancárias e Taxas de Juros elevadíssimas
Quantos milhões de brasileiros já ficaram endividados porque não conseguem arcar com os altíssimos juros bancários? Até que ponto os juros e taxas bancárias são socialmente responsáveis se carregam muitos brasileiros ao endividamento? Será que o discurso bancário de crédito consciente e as orientações praticadas pelos gerentes bancários estão sendo suficientes para entregar produtos/serviços verdadeiros e responsáveis que melhorem a qualidade de vida do povo do nosso país? Através desses questionamentos a pesquisadora Ashley (2002) define a “responsabilidade social como toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade”.

Vivenciamos um sistema bancário que contribui para o endividamento, entregando para seus correntistas “benefícios” como cheque especial, créditos pré aprovados (com apenas um clique fazem crediários automáticos) e rotativos através de cartões, a taxas elevadíssimas, sem ensinar a seus clientes como verdadeiramente utilizar esses recursos.

O governo tem um papel importante nesse cenário e uma grande parcela de culpa. Se o Estado oferecesse taxas menores através dos bancos oficiais, estariam forçando as instituições bancárias privadas a também baixar suas taxas de juros. De acordo com a Fiesp, as taxas de juros praticadas em nosso país é um dos entraves para torná-lo mais competitivo, dificultando as transações econômicas e encarecendo o custo dos produtos brasileiros até no mercado internacional.

Os bancos conseguem obter lucros, através dos juros e das taxas cobradas pelas transações efetuadas pelos seus clientes. Quem nunca abriu seu extrato bancário e teve uma surpresa diferente? Muitas tarifas são cobradas e nunca foram comunicadas junto aos correntistas. É papel das instituições bancárias informarem antecipadamente sobre remuneração pelo serviço que o banco prestou ao cliente. As práticas de responsabilidade social bancária devem estar amparada por uma comunicação aberta e honesta sem distorcer nenhuma informação.

A Febraban tem um sistema de divulgação de tarifas para que os consumidores saibam os valores das tarifas de produtos e serviços praticados pelos bancos e financeiras. Os clientes podem comparar as tarifas individuais padronizadas pelo Banco Central ou os pacotes de tarifas de produtos e serviços bancários, e ainda realizar simulação de valores. Seu gerente já passou essa informação para você? Tenho certeza que nunca! Então, visite o site www.febraban-star.org.br e confira.

• A Praça

Outra realidade próxima são as agências bancárias localizadas nos centros das cidades brasileiras que servem de abrigo para usuários de drogas, mendigos e pessoas que vivem no cenário de pobreza extrema. O cliente fica impossibilitado de realizar qualquer transação num ambiente hostil, desumano e perigoso. Atualmente é notório que governos sozinhos não conseguem solucionar questões crônicas de habitação e educação. É nosso papel atuarmos em conjunto para enfrentarmos os grandes problemas do mundo e os bancos devem contribuir para mudar esse cenário. Davis (1975) afirma que a empresa tem responsabilidade direta e condições para agir em favor da sociedade à medida que seus negócios geram consequências sociais. Segundo o autor, “há uma férrea lei de responsabilidade afirmando que, a longo prazo, quem não usa o poder de um modo que a sociedade considere responsável, tende a perde-lo”.

• ATMs, Internet Banking e Capital Humano
A evolução da tecnologia e informação está norteando estrategicamente os negócios e a sociedade na virada deste século. Isso não poderia ser diferente para a indústria bancária. O Internet Banking é a maneira mais conveniente, rápida e segura para o cliente realizar transações bancárias. Nessa mesma perspectiva, o cliente vivencia diariamente a inoperância e precariedade dos ATMs (Caixas Eletrônicos) que, por diversas vezes, ficam inoperantes ou sem cédulas.

 Recentemente o site da Caixa Econômica ficou fora do ar por mais de uma semana afetando o seu canal de distribuição de serviços bancários online. Devido ao aumento expressivo nos acessos ao ambiente tecnológico a Caixa deixou seus clientes revoltados a ponto de terem que se que dirigir a uma agência ou casa lotérica e enfrentar longas filas. Em tempos de alta tecnologia, é incompreensível este acontecimento. Para Porter (1999), a transformação tecnológica está expandindo os limites das possibilidades das empresas, substituindo o esforço humano por máquinas. No ambiente bancário essas transformações são reais onde pessoas são inseridas nesse contexto complexo e tecnológico sem orientações e estímulos para uso dessas novas ferramentas.

De acordo com Groonroos (1990), o sucesso do self service depende do grau de envolvimento dos usuários e dos benefícios por eles percebidos, devendo estes usuários ser recompensados e motivados por fazerem parte do processo. A partir dessa reflexão podemos dizer que é papel dos bancos oferecer um atendimento humano como suporte e incentivo ao uso do auto atendimento. Na ótica das pessoas, observamos uma filosofia de gestão não humanista, vale ressaltar o “sorriso sem sal” do gerente bancário. Os colaboradores bancários são pessoas que trabalham sob pressão para gerar resultados no curto prazo e que se submetem a condições de trabalho que geram, muitas vezes, doenças ocupacionais graves. Essas pessoas são obrigadas muitas vezes a atingirem metas e acabam “empurrando” produtos/serviços bancários para os seus clientes quebrando qualquer relação de fidelização entre as partes.

Esse é o cenário do discurso social praticado pelos bancos no Brasil
A responsabilidade social empresarial significa uma visão empreendedora que se desenvolve, necessariamente, de dentro para fora das organizações e tem como foco principal uma preocupação como entorno social em que a empresa está inserida. Praticar responsabilidade social é garantir a confiança do consumidor e a percepção da sociedade de que aquela empresa se preocupa com algo maior do que seu próprio lucro. Nesse sentido, ressalto que as instituições bancárias só podem ser consideradas socialmente responsáveis se aplicarem antes do lucro os conceitos de ética, respeito à lei e preocupação ampla dos seus impactos na sociedade. Os filmes dos bancos exibidos nos horários nobres são concepções visuais comoventes e de excelente qualidade que não condiz com as práticas sociais dessas organizações e contrariando os conceitos sobre responsabilidade social expostos nesse artigo.

Enfim, não podemos ser coniventes com atitudes não sustentáveis de instituições financeiras que dizem ser sustentáveis. Ser socialmente responsável significa atender as expectativas sociais, com transparência e coerência entre o discurso e suas práticas. Não há responsabilidade social sem ética nos negócios, é fundamental que haja coerência entre ação e discurso. A partir desses levantamentos é justo questionarmos por onde anda a responsabilidade social dos bancos. Considero louvável a criação e apoio a ONG´s, patrocínios ambientais e culturais, criações de Fundações como uma extensão da marca dos bancos. Mas é necessário que essas organizações entreguem para seus interessados um relacionamento verdadeiro, eduquem seus clientes sobre consumo consciente do crédito, oriente-os sobre orçamento doméstico, ofertem créditos com taxas de juros sociais, ofereçam um atendimento digno, assumam um papel mais amplo perante a sociedade que não somente o de maximização de lucro e incluam a ética como a base para um discurso social.

No livro Marketing 3.0, o autor Philip Kotler destaca que embora o consumidor individualmente seja fraco, seu poder coletivo sempre será maior do que o poder de qualquer empresa. A partir dessa reflexão acredito profundamente nas mídias sociais como uma forma de alertar toda a sociedade sobre discursos vazios e pautados em irresponsabilidade social praticados pelas instituições bancárias em nosso país.

* RSE – Responsabilidade Social Empresarial

Referências

ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002
Brasil sobe uma posição em ranking de competividade, para 36º, diz Fiesp10. Disponível em: Acesso em 20 de dezembro, 2010
DAVIS, Keith. Five propositions for social responsibility. Business Horizons, v.18, June 1975.
ETHOS, Instituto. O que é Responsabilidade Social Empresarial. Disponível em: Acesso em 10 de novembro, 2010
KOTLER, Philip. Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5.ed São Paulo: Atlas, 1998.
_______________. Marketing 3.0. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2010.
GROONROOS, Christian. Service management and marketing: managing the moments of truth in service competition. Massachussetts: Lexington Book, 1990.
OLIVEIRA, José Arimatés de. Responsabilidade social em pequenas e médias empresas. Revista de Administração de Empresas. V.24, no 4, p. 203-210, out/dez 1984
PORTER, Michael E. Competição: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
PROCON/ES. Telefônicas e bancos lideram reclamações no Procon em setembro. Disponível em: Acesso em 10 de novembro, 2010
PROCON/SP. Cadastro de Reclamações Fundamentadas 2009. Disponível em: Acesso em 10 de novembro, 2010.

SWIFT & ZADEK, 2002. Esse estudo foi organizado por The Copenhagen Centre (TCC), centro autônomo de reconhecimento internacional estabelecido pelo governo da Dinamarca, e AccountAbility, organização não-governamental localizada em Londres e uma das primeiras entidades a lidar com a questão da responsabilidade social corporativa. Simon Zadek é diretor-presidente da AccountAbility e Tracy Swift é diretor de Pesquisa dessa organização. 18 Ibid., p. ii.

Marketing e Paixão

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Em tempos tão competitivos é natural que se espere do Marketing estratégias para conquistar, encantar e fidelizar clientes. Ou seja, atribui-se ao marketing a difícil tarefa de desvendar os segredos da paixão e criar um modelo para gerar e manter este estado entre clientes e empresas no ambiente dos negócios.Felizmente o Marketing possui pesquisas, teorias e ferramentas à altura de tal desafio. Além disso, trabalhar com marketing é apaixonante, portanto, o estado de quem de fato se dedica a compreendê-lo é “apaixonado”.

 

Em segundo lugar, quando se fala de fidelização, não estamos falando de outra coisa senão de uma “paixão comercial”.A “escada” que conduz à fidelização começa com o estabelecimento de confiança. Sem ela, nem mesmo a primeira transação comercial pode ser realizada. Todos os esforços iniciais de comunicação, posicionamento, precificação, etc, visam conquistar a confiança dos possíveis clientes (prospects).

 

 

Vencido o primeiro desafio, compreendemos que não basta obter confiança, teremos que fazer a gestão da confiança para que ela se mantenha ao longo do tempo originando credibilidade (aqui entendida como confiança mantida ao longo do tempo). Conquistada a credibilidade, teremos igualmente que fazer a sua gestão, mantendo-a sempre, ao ponto de conquistarmos a admiração de clientes, submetidos a sucessivos “momentos da verdade” positivos.

 

Conquistar a admiração já é um estágio mais avançado na direção da fidelização. A conquista da admiração dos clientes demonstra que já não estamos simplesmente atendendo às suas expectativas, mas superando-as em alguma medida.

 

Esta superação de expectativas terá que ser mantida através de uma política de atendimento, vendas e gestão orientada para o cliente. É a manutenção da admiração com níveis crescentes de satisfação a cada interação que conduz ao próximo estágio: o encantamento.

 

Neste ponto há certa variedade de opiniões entre diferentes autores e pesquisadores: uns apontam para a necessidade de sobreencantar os clientes (superar o encantamento), outros no sentido da manutenção deste nível de encantamento.

 

Qualquer uma das duas posições teóricas mais defendidas visa o mesmo objetivo: tornar o cliente apaixonado pela marca, produto, serviço e empresa!

 

A paixão do cliente é a meta, o topo da montanha, ou se quisermos, o degrau almejado na escalada do sucesso comercial…

 

A paixão é um estado intenso e por esta característica, clientes apaixonados tornam-se defensores e principais divulgadores das razões de sua paixão através do poderoso boca-a-boca; email-a-email; além das redes sociais e etc. Quem está apaixonado sempre defende o objeto de sua paixão.

 

Trabalhar com Marketing é trabalhar com a parte mais humana, intensa, criativa, inovadora e instigante do universo dos negócios. O grande desafio do Marketing é gerar negócios estabelecendo uma ponte entre empresas, marcas, produtos e serviços (também desenvolvidos sob seus critérios) e seu público-alvo. Tudo isso na instável, mutante e enigmática arena dos negócios. Só os apaixonados por marketing conseguem apaixonar seus clientes e os clientes de seus clientes!

 

Quem ainda não pensa assim, ainda não foi apresentado ao Marketing… Paixão e marketing são praticamente uma coisa só. Experimente!

Marketing: o poder do posicionamento

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Assim como a filosofia é a busca sistematizada pela verdade através da razão, podemos entender o marketing como uma busca pela geração de negócios através do posicionamento.  Muitos profissionais de marketing se esquecem desta questão essencial e ficam perdidos nas “periferias” do marketing.  Para utilizar um reducionismo didático, podemos dizer: posicionamento é tudo!

 

Se o desafio do marketing é vencer a batalha das percepções, fica evidente o papel central do posicionamento. Vamos defini-lo de maneira objetiva: Posicionamento é o “local” que você ocupa na percepção dos clientes em função de seus esforços de marketing.

 

Um produto será premium ou “de combate” em função do posicionamento definido. As ações de comunicação também serão eleitas em função do posicionamento, assim como todas as outras ações de marketing.  Como enuncia Jack Trout: “O sucesso ou fracasso se relaciona a todos os problemas e oportunidades percebidos no mercado. E trata-se de entender que as percepções na mente do cliente são o território onde você ganha ou perde.”

 

É fato que a competição intensa em um mundo de tantos entrantes e novos nichos todos os dias tem confundido alguns profissionais de marketing, que ficam perdidos com tanto ruído e se esquecem da essência da mensagem. As especulações em torno do tal “novo consumidor” geram artigos e mais artigos, teorias e mais teorias; surgem conceitos como brandscendence, branding emocional, buzz, brandjam, etc.

 

Porém, muitos autores destas teorias não se dão conta que a essência do consumidor não mudou tanto assim. O cenário mudou. O consumidor hoje tem mais acesso a informação. Sua vida e necessidades se sofisticaram, e ele ficou mais exigente. Apenas isso. A essência do consumidor continua a mesma!

 

Enquanto muitas empresas míopes se perdem em projetos mirabolantes que envolvam todos estes novos conceitos, empresas e profissionais conscientes fazem coisas simples com enorme impacto para os negócios, pois estão focados na essência do posicionamento. O essencial e o óbvio são evidentes quando olhados de trás para frente, mas o desafio dos profissionais do marketing é acioná-los na ordem inversa… Observe que o posicionamento permite que você, ao invés de tentar a inglória batalha contra marcas já estabelecidas na mente dos clientes, estabeleça a sua marca com base nas fraquezas de seus concorrentes. Vale lembrar que os consumidores estabelecem rankings de preferência em suas mentes.

 

É evidente que a maneira mais fácil de alcançar o “top of mind” dos clientes é ser o primeiro a conquistá-lo, mas isto nem sempre é possível. Diante desta impossibilidade você terá que desenhar novas estratégias, criar novas categorias que permitam à sua marca ser percebida como diferente e, preferencialmente, como “única” (incrivelmente diferente e especial, à parte da competição).

 

Marcas vencedoras passam a vida toda reforçando, sofisticando e intensificando o seu posicionamento na mente de seus clientes, adaptando este posicionamento às novas realidades.

 

Mais uma vez, citando Jack Trout: “Para ter sucesso hoje é preciso estar em sintonia com a realidade; e a única realidade que realmente conta é a que já está na mente dos prospects.”A história demonstra que a marca número um na mente dos clientes, possui em média, o dobro do market share da marca que ocupa a posição número dois. Diante disto, o toque de genialidade é a criação de uma nova categoria, onde os clientes criem um “novo ranking”, e possamos ser reconhecidos como número um. Todos os esforços de inovação dos tempos atuais estão, em verdade, na busca desta conquista.

 

Quando entendermos que devemos ter o posicionamento como ponto de partida e que ele não está apenas ligado a comunicação e promoção, estaremos realizando um marketing muito mais efetivo, menos caótico e incrivelmente mais acessível.  Profissionais de marketing que queiram se diferenciar no mercado precisam parar de ser iludidos por tanto ruído, voltar às origens e tornarem-se “gênios” em posicionamento.

 

Quando os modismos afetam os criadores da moda, ninguém mais sabe quais são as tendências. É isso que precisamos evitar no marketing, estamos aqui para encontrar soluções e não intensificar os problemas.  A temática do marketing se resume a entender seres humanos, o restante é cenário! Lembre-se disso.

A Era da Administração e os 45 anos de regulamentação da profissão no Brasil

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A administração completa quarenta e cinco anos de regulamentação no Brasil e comemora a chegada da sabedoria e da maturidade. Os maiores gênios da humanidade realizaram suas maiores contribuições depois dos quarenta e cinco anos. Podemos aplicar esta analogia à ciência da administração, que apesar de uma história repleta de realizações, entra a partir de agora em seu mais fantástico período.

 

É bem verdade que a administração possui juventude extrema para uma ciência, especialmente se comparada com a filosofia, cuja origem remonta ao século VII A.C. com Thales de Mileto. Ocorre que a administração se apoia em várias outras ciências, dentre elas a própria filosofia, e nelas encontra alicerce firme e seguro para avançar em condições exponenciais rumo à sua maturidade. Lembremo-nos que Peter Drucker se autodenominava um filósofo da administração.

 

Assim, paradoxalmente, a administração é uma jovem senhora, jovem na temporalidade, senhora nas conquistas exponenciais já realizadas. É, seguramente, uma das ciências humanas que mais se desenvolveu e produziu conhecimento durante os últimos cinquenta anos.

 

Lembremos que em passado bastante recente, as empresas, ainda presas aos aspectos tangíveis da produção de riqueza e ao paradigma da sociedade industrial, eram comandadas por engenheiros, especialmente os engenheiros de produção. Devemos a estes profissionais o mais profundo respeito, mas é indispensável observar que eles próprios migraram sua área de interesse e busca intelectual para os campos da administração, na certeza que somente o exercício da administração responderia aos múltiplos desafios da era pós-industrial. Os engenheiros foram a primeira categoria de profissionais a lotarem os cursos de pós graduação e MBAs em administração.

 

O avanço da sociedade do conhecimento e os inexoráveis desafios da qualidade, produtividade, competitividade, inovação e sustentabilidade pediam pela urgente ascensão da categoria dos administradores ao topo da hierarquia das decisões, e isso ocorreu!

 

Os profissionais de administração no Brasil possuem uma dívida de gratidão imensa com o CFA e CRAs pela visibilidade, reconhecimento e fiscalização da profissão no Brasil. E assim como fomos um país de engenheiros, um país de advogados, somos hoje e seremos também no futuro, um país de administradores. O avanço da economia do país se deve a um conhecimento mais profundo da ciência da administração e à ascensão desta categoria de pensadores/realizadores que tornaram o intraempreendedorismo palavra de ordem no dia a dia das organizações.

 

Agradeçamos todos nós aos Conselhos de Administração, às faculdades de Administração e seus professores, aos profissionais com registro da categoria e aos pensadores brasileiros e mundiais que transformaram a história dos negócios ao aprofundarem os debates e contribuições em gestão de negócios e gestão de pessoas.  Todos nós temos uma coisa em comum: somos apaixonados pela fantástica ciência da administração – a quem devemos os maiores avanços públicos e privados da história recente do Brasil. Nosso país continua demandando pela excelência do exercício da administração; as melhores gestões públicas do Brasil são as que estão a cargo de administradores.

 

Agradecemos aos sociólogos, engenheiros, advogados, economistas e demais profissionais, mas almejamos ver o Brasil governado por administradores de carreira e não políticos de carreira; quando isso ocorrer mostraremos ao mundo a que viemos…

 

Parabéns administradores brasileiros. O Brasil e o mundo agradecem sua contribuição e lhes abre passagem para a Era da Administração – a saída do berço esplêndido para um futuro de magnas realizações.  Que a categoria encontre os caminhos necessários de intercâmbio de conhecimento, geração de novos conhecimentos, unidade e sintonia para escrevermos a história que todos desejamos ler. Afinal, como dizia Peter Drucker: “Não se pode administrar mudanças, é preciso estar à frente delas!”

Planejamento, Sim ou Não?

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Eis um tema que sempre gera longos debates. Planejamento de vendas, planejamento estratégico, plano orçamentário, planejamento de capacidade, planejamento de pessoal, plano operacional, plano financeiro, cronograma de projeto, enfim, são inúmeras as formas de se aplicar o simples exercício de pensar à frente no tempo para antecipar dificuldades e se precaver contra incertezas. Várias pesquisas indicam que a falta de planejamento é um dos principais motivos que levam as empresas nascentes a fecharem prematuramente. Livros de administração, cursos e consultorias vendem diversas formas de solução baseados em ferramentas que auxiliem no processo de planejamento.

 

Por outro lado, muitos empreendedores, hoje bem sucedidos, já declararam com bastante convicção que se tivessem baseado o negócio deles em um planejamento prévio, detalhado e abrangente, já teriam desistido do negócio antes mesmo de começar. Exageros à parte, a verdade é que existe um fundo de verdade neste raciocínio. Onde está a explicação por trás desta contradição?

 

O planejamento requer uma certa dose de adivinhação, ou seja, antecipar-se a coisas que podem acontecer no futuro. No caso do cenário econômico brasileiro, este é um exercício um tanto quanto desafiante, dados a instabilidade e o dinamismo do ambiente, no qual as variáveis que podem gerar algum impacto no negócio são tão diversas que é uma ilusão considerar que as condições mais relevantes para o negócio possam ser antecipadas para a elaboração de um plano eficaz e acurado. Não sabemos qual vai ser o comportamento do concorrente ou do cliente. Não temos como descobrir o impacto de certas mudanças na legislação sobre o nosso negócio. É praticamente impossível conceber todos os agentes externos que podem gerar alguma influência sobre o negócio.

 

A verdade é que todos os planejamentos são mera adivinhação. E se assim for, então porque planejar? Porque gastar tempo e esforço para se dedicar algo que pode não servir para nada? A resposta é que, mesmo sendo mera adivinhação, os bons planos são aqueles cuja adivinhação está o mais próximo possível da realidade. Portanto, só vale a pena planejar se este planejamento estiver embasado em dados concretos, em estudos bem feitos e numa boa dose de experiência do empreendedor no negócio ou setor.

 

O segundo elemento de um bom planejamento é a capacidade de adaptação do plano. Um mal plano estabelece o que deve ser feito com todos os detalhes possíveis previamente estabelecidos. Um bom plano, por outro lado, considera que os pressupostos sobre os quais o planejamento foi construído, podem mudar, e portanto, o plano deve ser flexível o suficiente para acomodar mudanças conforme novas circunstâncias forem surgindo.

 

O terceiro elemento de um bom plano é a capacidade de efetivamente mudar o futuro. Embora muitas variáveis estejam fora do controle do empreendedor, o bom plano é aquele que se baseia em ações do empreendedor que possam condicionar a realidade para se adequar às prescrições estabelecidas no plano. Quanto mais o plano for dependente de variáveis fora de controle, menos relevante ele se torna.

 

O quarto elemento é o horizonte de tempo. Quanto mais longo for o prazo das ações previstas no plano, maior é a chance de não acontecer o que foi previsto, pois pequenas mudanças que ocorrem no curto prazo geralmente levam a caminhos muito distintos no futuro mais distante, tornando as previsões do plano completamente irrelevantes. Bons planos são detalhados no curto prazo, quando as variáveis são mais previsíveis e controláveis, e mais abrangentes no longo prazo, servindo apenas como indicadores de direção, com poucas ações operacionais. Na medida em que o tempo avança e o empreendedor vai adquirindo mais informações sobre o ambiente, ele pode ir revisando e adequando seu plano, incorporando detalhes que antes ele não teria como colocar.

 

Não se esqueça, entretanto, que o bom empreendedor também sabe ler o momento e reconhecer quando esquecer o árduo esforço de planejar feito anteriormente para deixar seu negócio navegar livremente ao sabor do vento de vez em quando para ver, se no local onde aportar, existirão novas oportunidades a serem aproveitadas. Ter o espírito e a mente aberta para o desconhecido, para o pioneirismo e o desbravamento de novos horizontes é o caminho daqueles que escolhem a inovação como fator que diferencia seu negócio dos concorrentes.

O Paradoxo da Inovação

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O enorme crescimento da competição fruto da globalização e do salto tecnológico e, uma maior maturidade do capitalismo criou nas empresas um comportamento obsessivo que requer atenção.

 

Hoje, os maiores interessados em tornar nossos produtos obsoletos somos nós mesmos; e devemos fazer isto antes que a concorrência o faça. Com o avanço da tecnologia ficou cada vez mais fácil fazer benchmarking e engenharia reversa, possibilitando a oferta de produtos tecnicamente parecidos, a preços semelhantes no mercado.

 

Frente a esta realidade, torna-se indispensável a criação contínua de novos diferenciais competitivos. Redescobrindo o poder da sedução dos consumidores pelo novo, as empresas se lançaram em uma busca nem sempre refletida de inovações.

 

Ainda que a inovação seja uma premissa atual, ela tende a ser, por outro lado, cada vez mais difícil e onerosa de manter-se ao longo do tempo. E é exatamente nisto que consiste o paradoxo da inovação:

 

“Quanto mais inovamos mais difíceis se tornam as próximas inovações e, portanto, a manutenção de uma estratégia competitiva baseada apenas na inovação”.

 

A implantação de cada inovação tende a custar mais que a anterior porque para inovar são necessários novos aportes financeiros para pesquisa, desenvolvimento, planejamento, produção, marketing e comercialização. Eis o risco de cada inovação; se o mercado assimilar como valor este “novo” que estamos ofertando, todo nosso dispêndio terá sido investimento. Se não responder desta maneira, nosso dispêndio transforma-se imediatamente em custo!

 

Todo produto possui um ponto “ótimo”, a partir do qual as novas modificações (inovações) começam a agregar um valor percebido cada vez menor. Partindo da clássica visão de marketing onde quem compra uma furadeira não precisa dela e sim dos furos, vemos que enquanto algumas empresas estão insistindo em inovar furadeiras (inovação redundante), outras podem investir em um novo paradigma para obter furos (inovação consistente).

 

A inovação ingenuamente conduzida pode estar na contramão de outra característica da competitividade atual: a redução de custos. Como lidar com estas ambiguidades?

 

O primeiro desafio é justamente vencer o comportamento obsessivo de fazer as coisas compulsiva e repetidamente sem a devida reflexão sobre suas repercussões no curto, médio e longo prazo. Ao adotar tal comportamento, as empresas se esquecem de perguntar qual é realmente a melhor estratégia para chegar ao resultado esperado.

 

Considerar apenas os aspectos positivos da estratégia centrada na inovação é equivalente a idealizar ingenuamente a diferenciação como o remédio para todos os males.   A inovação não traz apenas benefícios, assim como o aumento do crédito e das exportações também não; é difícil encontrarmos no mundo algo que traga somente benefícios!

 

É fundamental observarmos a inovação dentro do contexto geral do negócio e não isoladamente; o vício de isolar uma só variável é a causa de muitas lacunas nas estratégias empresariais.  Esta não é apenas a era da inovação, mas também a da inclusão, da redução de custos, das margens estreitas, da concorrência globalizada, da análise do risco, da busca de clusters, da inteligência competitiva, etc.

 

Cada uma destas variáveis altera as repercussões de cada inovação que introduzimos no mercado e seus efeitos sobre o nosso negócio.  Ainda que teoricamente as possibilidades de inovar sejam ilimitadas, há um momento em cada mercado onde uma inovação adicional não compensa os esforços necessários para introduzi-la.

 

Veja este exemplo envolvendo a IBM, Apple e Intel. A Apple sempre foi reconhecida por seu foco em inovação e performance. Como a Apple já representava uma parcela pequena dentro dos negócios da IBM, tornou-se desinteressante para a IBM continuar investindo nas inovações solicitadas pela Apple na fabricação de processadores.

 

Para a Apple fazia-se necessária uma redução no custo de produção dos chips para ofertar seus computadores a preços competitivos no mercado, aumentando sua base de clientes. Como a Intel disponibiliza chips de excelente qualidade a preços muito competitivos, vimos uma grande mudança de paradigmas na fabricação do Macintosh, que passou a contar com chips da Intel.

 

Por que a IBM optou por não continuar investindo nas inovações solicitadas pela Apple?

 

A IBM, possuindo outras oportunidades de mercado muito mais lucrativas e com maior participação no seu negócio, percebeu que obteria melhores resultados abrindo mão de inovar esta linha de chips demandada apenas pela Apple e focando seus esforços nos negócios que realmente lhe são mais lucrativos. Como vimos, às vezes, não insistir na inovação de determinados produtos pode ser uma estratégia alternativa.

 

Outro grande perigo da inovação compulsiva é o aumento do estresse da decisão de compra.

 

Há no mercado muitas variações para um mesmo produto. Diante de, por exemplo, oitenta opções de creme dental, um consumidor sente uma ansiedade de decisão (decidir custa tempo) e, por mais que seja um experimentador nato, ele tende a buscar diminuir o estresse elegendo uma marca/opção e, uma vez obtendo satisfação, acaba fidelizando sua escolha. No longo prazo este fenômeno faz com que o perfil dos experimentadores torne-se gradativamente mais conservador.

 

Assim, quanto maior o volume de inovações em um curto espaço de tempo, mais difícil ficará a partir de um determinado momento que os consumidores queiram tão intensamente o novo em função do estresse de decisão de compra e de uma racionalidade de compra crescente. Cada inovação, a partir daí, terá que ser muito significativa e para consegui-las teremos que investir corretamente em P&D.

 

Peter Drucker disse com sua sabedoria de sempre:

“A inovação depende, ao mesmo tempo, de concepção e percepção. A inovação produtiva e sistemática começa com a análise das oportunidades”.

 

Precisamos analisar se estamos ampliando ou diminuindo as oportunidades futuras introduzindo inovações de pequena relevância, que possuem ciclos de vida cada vez mais curtos, e custam cada vez mais caro. Isso pode funcionar no curto prazo, mas impossibilitar estratégias de médio e longo prazo.

 

Estratégias não são como o vinho, ao contrário, são como as uvas e possuem sua época própria. Consumi-las fora de época e sem refletir sobre o futuro é ingenuidade e falta de planejamento. Nosso foco é obter resultados crescentes para o negócio e não apenas a diferenciação dos produtos e serviços. O futuro do negócio, para algumas empresas, pode significar abandonar absolutamente estes produtos e serviços e até migrar para outros mercados transformando a própria natureza do negócio. No capitalismo, o capital migra sempre para onde estão as maiores oportunidades de lucratividade.

 

A grande questão não é inovar, mas sim quando e como inovar e, quando buscar outra estratégia. A busca obsessiva e irrefletida pela inovação pode significar miopia estratégica.

 

O foco da inovação excessivamente centrada no produto não condiz com a era pós-industrial. Enquanto insistem em inovar seus produtos, muitas empresas não percebem que seria melhor inovar seu marketing, seu estilo de gestão, sua imagem institucional e demais estratégias frente ao mercado.

 

Nosso foco deve ser resultado e para obtê-lo devemos considerar que o custo dos erros de um projeto hoje em dia comparado com o de dez anos atrás é exponencialmente maior. Errar tornou-se infinitamente mais caro e inadmissível. Portanto a decisão de inovar deve ser amplamente refletida e não apenas um impulso frente à tendência atual.

 

Encontre, especificamente para a sua empresa e o seu negócio quais são as melhores estratégias. Inovação é apenas uma delas!

Recomendação de Leitura:

PORTER, Michael E. – Competição: Estratégias Competitivas Essenciais. São Paulo: Campus, 1999.

COLLINS, James e PORRAS, Jerry – Building Your Company’s Vision: Harvard Business Review, 2000.

KOTLER, Philip – Administração de Marketing, 10a Edição. São Paulo, Pearson, 2000.

Ser empreendedor ‘demais’ não é bom

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Muito se fala sobre empreendedorismo hoje, sobretudo enaltecendo a figura do empreendedor como sendo uma pessoa repleta de qualidades invejáveis como inovador, líder, arrojado, seguro, assertivo, otimista, persistente, entre várias outras que contribuíram para se construir um mito de que o empreendedor é um grande herói. Hoje muitos se comparam a este perfil, querem ser empreendedores, enfatizam suas competências empreendedoras. Cada vez mais anúncios de emprego listam a atitude e o comportamento empreendedor como qualidade desejável. Todos querem ser reconhecidos por esta qualidade, embora poucos na verdade a possuam.

 

Bem, na semana retrasada, recebi um email de um ex-aluno que reconheço como um verdadeiro empreendedor. É pró-ativo, dinâmico, super ativo, inteligente, com grande capacidade cognitiva, traços de liderança, criativo e influente. Ele me contou que participou de um processo seletivo para uma vaga em uma grande multinacional e suas competências empreendedoras o ajudaram a avançar por todas as etapas do processo, até que chegou na entrevista com aquele que seria seu futuro chefe. Não passou! Segundo o entrevistador, o candidato era empreendedor demais. ‘Empreendedor demais!!!!`, quase ouço meu aluno gritando no email, como alguém pode ser ‘empreendedor demais’ escreve inconformado.

 

Como tudo na vida em excesso não é bom, ser empreendedor, a despeito de tudo de bom que se fala, em excesso também não é bom. Deixe-me citar algumas explicações por meio das mais conhecidas competências empreendedoras:

 

a) Ser inovador demais significa que a pessoa não tem constância, não termina o que começa, vive tendo idéias, uma atrás da outra, o que compromete a capacidade de realização, pois sempre vai surgir uma idéia melhor do que a que ele está realizando;

 

b) Ser pró-ativo demais significa que a pessoa pode tomar decisões por conta própria sem a experiência e o conhecimento suficientes para uma boa decisão e assim acabar sendo precipitado e escolher caminhos inadequados;

 

c) Assumir riscos demais significa que a pessoa pode estar comprometendo recursos à toa, pode estar colocando muita coisa a perder, e pode estar expondo demais pares, clientes e seu supervisor;

 

d) Ser persistente demais significa que a pessoa pode estar usando parâmetros errados que o levem a insistir demais em coisas que não valem mais a pena, podendo facilmente se tornar mera teimosia;

 

e) Ter autonomia demais significa que a pessoa pode ter dificuldade para trabalhar em equipe, dividir responsabilidades, confiar em outras pessoas. Tem menos paciência para lidar com pessoas menos capazes do que ele;

 

f) Ser auto-confiante demais significa que a pessoa pode ter uma visão distorcida da realidade, apoiar suas decisões demasiadamente em suas próprias intuições e se fechar às influências externas que o contradigam.

 

Além disso, é importante ressaltar que nem todas as empresas precisam de empreendedores em todos os cargos e funções, é como dizer que todas as posições de um time de futebol precisam ser preenchidas por craques como Kaká. Cada posição requer um perfil diferente e nem todos precisam ter empreendedores.

 

Por isso, digo ao meu ex-aluno que, o fato de o futuro chefe ter dito isso traz indícios de que ele não se sente à vontade com um funcionário muito empreendedor em sua equipe. Convenhamos, não é fácil ser chefe de um empreendedor. Empreendedores são difíceis de se lidar, são ousados, arrogantes, auto-suficientes, querem ir sempre além do limite, esquecem regras e hierarquia com facilidade, estão sempre sonhando alto, têm dificuldade em realizar tarefas burocráticas, rotineiras e de controle, acabam se metendo em mais coisas do que são capazes de entregar, são enfim, pessoas que podem trazer mais prejuízos do que benefícios e não é qualquer um que gostaria de enfrentar o desafio de ‘segurar’ ou ‘domar’ funcionários com perfil empreendedor.

 

Ouso ainda afirmar que muitas pessoas se sentem ameaçadas por subordinados empreendedores. Muitos chefes que não são muito seguros de si não suportam alguém sob seu comando que brilhe mais do que eles. Pode parecer surpreendente, mas muitas pessoas com atitude empreendedora perdem o emprego justamente por aquela que deveria ser visto como sua grande qualidade. Já presenciei vários casos de funcionários empreendedores discriminados pelos colegas que relatavam críticas a este perfil para disfarçar a inveja por não deterem estes traços.

 

Portanto, vamos tratar de desmistificar esta idéia de que verdadeiros empreendedores são necessários e valorizados em qualquer lugar. Não me surpreendo se meu aluno for melhor sucedido em uma outra oportunidade semelhante se ele ‘esconder’ algumas de suas características empreendedoras.

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