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Não acredite que os bancos no Brasil praticam Responsabilidade Social Empresarial

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Este artigo pretende confrontar e alertar a sociedade que os discursos socialmente responsáveis dos bancos brasileiros não condizem com suas práticas junto aos seus interessados.

De acordo com Ashley (2002), a responsabilidade social empresarial pode ser interpretada como uma forma de gestão comprometida com o bem estar social, que exige ações em diferentes direções. Almeja um relacionamento ético e transparente da empresa com seu público, por meio de estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sustentável da sociedade. Isto é, desempenho econômico com respeito à diversidade cultural, redução das desigualdades sociais e preservação dos recursos naturais para as gerações futuras.

Para o Instituto Ethos, responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais que impulsionem o desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais. (ETHOS, 2010)

Neste contexto, os conceitos e teorias não são praticados pelas instituições financeiras no Brasil. Essas organizações, por sua vez, carregam uma relação unilateral focada apenas no lucro, não retribuindo à altura os recursos que a sociedade lhe provém para seus ganhos. Os discursos comuns bancários expostos nos filmes publicitários sobre Consumo Consciente do Crédito, Responsabilidade Social e Cidadania Corporativa não são tangibilizados na prática pelos grupos de interesses, em especial, os clientes.

Kotler (2010) reforça que, quando uma marca traz transformações, os consumidores a aceitam, inconscientemente, como parte de seu cotidiano. O cotidiano dos consumidores bancários é de vivenciar filas exorbitantes, juros abusivos, vendas casadas, colaboradores insatisfeitos, gerentes que praticam atendimentos engessados e apenas focados na cartela de clientes que possuem alta ou média movimentação financeira. Um desrespeito ao principal ativo das instituições financeiras e uma afronta à legislação do nosso país.

Podemos compreender, com base nos autores, que a Responsabilidade Social Empresarial está relacionada diretamente com a ética e transparência na gestão dos negócios e deve refletir-se nas decisões cotidianas que podem causar impactos na sociedade, no meio ambiente e no futuro dos negócios. De um modo mais simples, podemos dizer que a ética nos negócios ocorre quando as decisões de interesse de determinada empresa também respeitam o direito, os valores e os interesses de todos aqueles que, de uma forma ou de outra, são por elas afetados.

• As insatisfações dos consumidores em números
Os bancos historicamente carregam uma má imagem e os números registrados nos Órgãos de Defesa do Consumidor respondem claramente pela insatisfação generalizada de seus sofredores clientes.
Segundo balanço do PROCON/ES, os bancos Itaú/Unibanco (24%), Bradesco (22%) e Santander/Real (14%) estão entre as cinco instituições mais reclamadas no Estado. O levantamento realizado em Setembro/2010 aponta como problemas mais frequentes: a cobrança indevida e abusiva (não cumprimento, alteração, transferência, irregularidades e rescisão);
Em São Paulo a situação é pior, no ranking das 50 empresas mais reclamadas no PROCON/SP, 16 delas são instituições financeiras o que representa 22% do total, segundo lugar no geral.

Segundo o PROCON/SP, a lista contém apenas reclamações fundamentadas, ou seja, demandas de consumidores que não foram solucionadas, sendo necessária a abertura de processo administrativo para serem trabalhadas pelo órgão junto aos fornecedores. As demandas que mais se destacaram no setor foram as relativas a cartões de crédito. O maior problema concentra-se na cobrança de tarifa de emissão de boleto, procedimento con¬siderado indevido pelo PROCON/SP e proibido pela Resolução 3693/2009 e pela Carta Circular 3349/2008, ambas do Banco Central. Em razão dessa conduta, as cinco primeiras colocadas foram autuadas pelo PROCON-SP.

Persistem ainda em 2009 as queixas referentes à cobrança de valores não reconhecidos nas faturas de cartões de crédito em caso de roubo/furto, perda/extravio do “plástico”, ou mesmo quando o cartão permanece de posse do consumidor. As instituições recusam a efetuar o estorno alegando que a comunicação da perda, extravio, furto ou roubo do cartão não foi imediato, ou se deu fora do prazo, argumento que desconsidera que é dever e responsabilidade da instituição garantir a segurança do produto que comercializa no mercado.

Ainda no que diz respeito ao sistema bancário, ocorreram situações em que o consumidor deparou-se com lançamentos de serviços que não solicitou, como seguros de vida, contra roubo, de acidente pessoal, etc. E, ainda, ofertas de parcelamento de fatura feita pelas administradoras sem a devida informação sobre as características da oferta: taxa de juros, valor total cobrado, a qual fatura se refere o parcelamento oferecido, entre outras.

Recentemente o Itaú e Unibanco se uniram dando origem ao maior banco privado do país e àquele com o maior número de clientes insatisfeitos. De que adianta ser intitulado de uma grande instituição bancária e não entregar um serviço justo para o seu principal ativo, o cliente?

Decidi escrever este artigo depois de solicitar o cancelamento da minha conta corrente do antigo Banco Real, hoje, Santander. O discurso bancário de “Vamos fazer juntos?” para mim é apenas um slogan figurativo que compõe a marca e que, na prática, carrega um diálogo vazio com os seus clientes. Aquela “fantástica” conta corrente que foi aberta na época de universitário que incluía talões de cheques e papelaria reciclada, campanhas papa-pilha e incentivo a universitários são apenas estratégias de promoção organizacional.

• Filas Exorbitantes
Todas as vezes que precisei do serviço presencial bancário, não passei menos de 45 minutos esperando em uma fila para ser atendido, ou melhor, minha última experiência em uma agência bancária foi para ser ressarcido de cobranças indevidas praticada pelo Banco Santander e simplesmente aguardei 2h07 minutos para ser atendido na “boca” do caixa. Com base no fato, fica visível uma verdadeira agressão a relação de consumo.

Toda empresa tem o dever ético de cumprir a lei, seja ela qual for.

Swift e Zadek delineiam três estágios ou gerações de responsabilidade social corporativa. Para estabelecermos relação com as filas exorbitantes em que os clientes se deparam no sistema bancário, ressaltamos apenas o primeiro estágio, considerado pelos autores como estágio básico. Nele, a empresa considera a responsabilidade social corporativa como mera obrigação de cumprir com as leis referentes a impostos, segurança e saúde, direitos trabalhistas, direitos do consumidor, regulamentação sobre meio ambiente e outras normas vigentes.  O autor acrescenta que, para a empresa ser considerada boa e responsável, ela deve simplesmente atuar de acordo com as regras do jogo. Esse estágio não significa necessariamente uma política de responsabilidade social, e sim o mínimo a se esperar de uma empresa em termos de comportamento moral, pois cumprir as leis não seria necessariamente uma grande virtude, mas o simples exercício de uma cidadania que visa a que suas ações não sejam consideradas criminosas.

Para Oliveira (1984), responsabilidade social é a capacidade de a empresa colaborar com a sociedade, considerando seus valores, normas e expectativas para o alcance de seus objetivos. No entando, o simples cumprimento das obrigações legais, previamente determinadas pela sociedade, não será considerado como comportamento socialmente responsável, mas como obrigação contratual óbvia, aqui também denominada de obrigação social. (OLIVEIRA, 1984, p. 205)

Com base nos autores apresentados, observamos que leis municipais e estaduais que regulam o atendimento bancário parecem não funcionar e o cliente fica à mercê de um sistema moroso e inoperante. Algumas pessoas chegam a passar horas esperando para serem atendidos, incluindo idosos. Um crime que agride qualquer discurso sobre responsabilidade social.

• Cobranças Indevidas

O banco em questão já “empurrou goela abaixo” um seguro de vida e plano de capitalização sem minha autorização. Prática ilegal e caracterizada como venda casada. A venda casada ocorre quando você solicita um produto/serviço, mas é obrigado a levar um segundo como condição para liberação do primeiro. Essa prática é bastante utilizada pelos bancos nos atendimentos eletrônicos e extremamente proibida pelo Artigo 39 do Código de Defesa do Consumidor e Artigo 17 da Resolução 2878 do Banco Central do Brasil (BACEN). Nessa mesma perspectiva indico o artigo do conceituado Prof. Rizzato Nunes, que é mestre e doutor em Filosofia do Direito e livre docência em Direito do Consumidor pela PUC/SP e relatou em seu blog uma angústia semelhante e alertou a sociedade sobre a prática negligente do sistema bancário.

• Tarifas Bancárias e Taxas de Juros elevadíssimas
Quantos milhões de brasileiros já ficaram endividados porque não conseguem arcar com os altíssimos juros bancários? Até que ponto os juros e taxas bancárias são socialmente responsáveis se carregam muitos brasileiros ao endividamento? Será que o discurso bancário de crédito consciente e as orientações praticadas pelos gerentes bancários estão sendo suficientes para entregar produtos/serviços verdadeiros e responsáveis que melhorem a qualidade de vida do povo do nosso país? Através desses questionamentos a pesquisadora Ashley (2002) define a “responsabilidade social como toda e qualquer ação que possa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da sociedade”.

Vivenciamos um sistema bancário que contribui para o endividamento, entregando para seus correntistas “benefícios” como cheque especial, créditos pré aprovados (com apenas um clique fazem crediários automáticos) e rotativos através de cartões, a taxas elevadíssimas, sem ensinar a seus clientes como verdadeiramente utilizar esses recursos.

O governo tem um papel importante nesse cenário e uma grande parcela de culpa. Se o Estado oferecesse taxas menores através dos bancos oficiais, estariam forçando as instituições bancárias privadas a também baixar suas taxas de juros. De acordo com a Fiesp, as taxas de juros praticadas em nosso país é um dos entraves para torná-lo mais competitivo, dificultando as transações econômicas e encarecendo o custo dos produtos brasileiros até no mercado internacional.

Os bancos conseguem obter lucros, através dos juros e das taxas cobradas pelas transações efetuadas pelos seus clientes. Quem nunca abriu seu extrato bancário e teve uma surpresa diferente? Muitas tarifas são cobradas e nunca foram comunicadas junto aos correntistas. É papel das instituições bancárias informarem antecipadamente sobre remuneração pelo serviço que o banco prestou ao cliente. As práticas de responsabilidade social bancária devem estar amparada por uma comunicação aberta e honesta sem distorcer nenhuma informação.

A Febraban tem um sistema de divulgação de tarifas para que os consumidores saibam os valores das tarifas de produtos e serviços praticados pelos bancos e financeiras. Os clientes podem comparar as tarifas individuais padronizadas pelo Banco Central ou os pacotes de tarifas de produtos e serviços bancários, e ainda realizar simulação de valores. Seu gerente já passou essa informação para você? Tenho certeza que nunca! Então, visite o site www.febraban-star.org.br e confira.

• A Praça

Outra realidade próxima são as agências bancárias localizadas nos centros das cidades brasileiras que servem de abrigo para usuários de drogas, mendigos e pessoas que vivem no cenário de pobreza extrema. O cliente fica impossibilitado de realizar qualquer transação num ambiente hostil, desumano e perigoso. Atualmente é notório que governos sozinhos não conseguem solucionar questões crônicas de habitação e educação. É nosso papel atuarmos em conjunto para enfrentarmos os grandes problemas do mundo e os bancos devem contribuir para mudar esse cenário. Davis (1975) afirma que a empresa tem responsabilidade direta e condições para agir em favor da sociedade à medida que seus negócios geram consequências sociais. Segundo o autor, “há uma férrea lei de responsabilidade afirmando que, a longo prazo, quem não usa o poder de um modo que a sociedade considere responsável, tende a perde-lo”.

• ATMs, Internet Banking e Capital Humano
A evolução da tecnologia e informação está norteando estrategicamente os negócios e a sociedade na virada deste século. Isso não poderia ser diferente para a indústria bancária. O Internet Banking é a maneira mais conveniente, rápida e segura para o cliente realizar transações bancárias. Nessa mesma perspectiva, o cliente vivencia diariamente a inoperância e precariedade dos ATMs (Caixas Eletrônicos) que, por diversas vezes, ficam inoperantes ou sem cédulas.

 Recentemente o site da Caixa Econômica ficou fora do ar por mais de uma semana afetando o seu canal de distribuição de serviços bancários online. Devido ao aumento expressivo nos acessos ao ambiente tecnológico a Caixa deixou seus clientes revoltados a ponto de terem que se que dirigir a uma agência ou casa lotérica e enfrentar longas filas. Em tempos de alta tecnologia, é incompreensível este acontecimento. Para Porter (1999), a transformação tecnológica está expandindo os limites das possibilidades das empresas, substituindo o esforço humano por máquinas. No ambiente bancário essas transformações são reais onde pessoas são inseridas nesse contexto complexo e tecnológico sem orientações e estímulos para uso dessas novas ferramentas.

De acordo com Groonroos (1990), o sucesso do self service depende do grau de envolvimento dos usuários e dos benefícios por eles percebidos, devendo estes usuários ser recompensados e motivados por fazerem parte do processo. A partir dessa reflexão podemos dizer que é papel dos bancos oferecer um atendimento humano como suporte e incentivo ao uso do auto atendimento. Na ótica das pessoas, observamos uma filosofia de gestão não humanista, vale ressaltar o “sorriso sem sal” do gerente bancário. Os colaboradores bancários são pessoas que trabalham sob pressão para gerar resultados no curto prazo e que se submetem a condições de trabalho que geram, muitas vezes, doenças ocupacionais graves. Essas pessoas são obrigadas muitas vezes a atingirem metas e acabam “empurrando” produtos/serviços bancários para os seus clientes quebrando qualquer relação de fidelização entre as partes.

Esse é o cenário do discurso social praticado pelos bancos no Brasil
A responsabilidade social empresarial significa uma visão empreendedora que se desenvolve, necessariamente, de dentro para fora das organizações e tem como foco principal uma preocupação como entorno social em que a empresa está inserida. Praticar responsabilidade social é garantir a confiança do consumidor e a percepção da sociedade de que aquela empresa se preocupa com algo maior do que seu próprio lucro. Nesse sentido, ressalto que as instituições bancárias só podem ser consideradas socialmente responsáveis se aplicarem antes do lucro os conceitos de ética, respeito à lei e preocupação ampla dos seus impactos na sociedade. Os filmes dos bancos exibidos nos horários nobres são concepções visuais comoventes e de excelente qualidade que não condiz com as práticas sociais dessas organizações e contrariando os conceitos sobre responsabilidade social expostos nesse artigo.

Enfim, não podemos ser coniventes com atitudes não sustentáveis de instituições financeiras que dizem ser sustentáveis. Ser socialmente responsável significa atender as expectativas sociais, com transparência e coerência entre o discurso e suas práticas. Não há responsabilidade social sem ética nos negócios, é fundamental que haja coerência entre ação e discurso. A partir desses levantamentos é justo questionarmos por onde anda a responsabilidade social dos bancos. Considero louvável a criação e apoio a ONG´s, patrocínios ambientais e culturais, criações de Fundações como uma extensão da marca dos bancos. Mas é necessário que essas organizações entreguem para seus interessados um relacionamento verdadeiro, eduquem seus clientes sobre consumo consciente do crédito, oriente-os sobre orçamento doméstico, ofertem créditos com taxas de juros sociais, ofereçam um atendimento digno, assumam um papel mais amplo perante a sociedade que não somente o de maximização de lucro e incluam a ética como a base para um discurso social.

No livro Marketing 3.0, o autor Philip Kotler destaca que embora o consumidor individualmente seja fraco, seu poder coletivo sempre será maior do que o poder de qualquer empresa. A partir dessa reflexão acredito profundamente nas mídias sociais como uma forma de alertar toda a sociedade sobre discursos vazios e pautados em irresponsabilidade social praticados pelas instituições bancárias em nosso país.

* RSE – Responsabilidade Social Empresarial

Referências

ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002
Brasil sobe uma posição em ranking de competividade, para 36º, diz Fiesp10. Disponível em: Acesso em 20 de dezembro, 2010
DAVIS, Keith. Five propositions for social responsibility. Business Horizons, v.18, June 1975.
ETHOS, Instituto. O que é Responsabilidade Social Empresarial. Disponível em: Acesso em 10 de novembro, 2010
KOTLER, Philip. Administração de marketing: análise, planejamento, implementação e controle. 5.ed São Paulo: Atlas, 1998.
_______________. Marketing 3.0. Rio de Janeiro: Elsevier/Campus, 2010.
GROONROOS, Christian. Service management and marketing: managing the moments of truth in service competition. Massachussetts: Lexington Book, 1990.
OLIVEIRA, José Arimatés de. Responsabilidade social em pequenas e médias empresas. Revista de Administração de Empresas. V.24, no 4, p. 203-210, out/dez 1984
PORTER, Michael E. Competição: estratégias competitivas essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
PROCON/ES. Telefônicas e bancos lideram reclamações no Procon em setembro. Disponível em: Acesso em 10 de novembro, 2010
PROCON/SP. Cadastro de Reclamações Fundamentadas 2009. Disponível em: Acesso em 10 de novembro, 2010.

SWIFT & ZADEK, 2002. Esse estudo foi organizado por The Copenhagen Centre (TCC), centro autônomo de reconhecimento internacional estabelecido pelo governo da Dinamarca, e AccountAbility, organização não-governamental localizada em Londres e uma das primeiras entidades a lidar com a questão da responsabilidade social corporativa. Simon Zadek é diretor-presidente da AccountAbility e Tracy Swift é diretor de Pesquisa dessa organização. 18 Ibid., p. ii.

Marketing e Paixão

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Em tempos tão competitivos é natural que se espere do Marketing estratégias para conquistar, encantar e fidelizar clientes. Ou seja, atribui-se ao marketing a difícil tarefa de desvendar os segredos da paixão e criar um modelo para gerar e manter este estado entre clientes e empresas no ambiente dos negócios.Felizmente o Marketing possui pesquisas, teorias e ferramentas à altura de tal desafio. Além disso, trabalhar com marketing é apaixonante, portanto, o estado de quem de fato se dedica a compreendê-lo é “apaixonado”.

 

Em segundo lugar, quando se fala de fidelização, não estamos falando de outra coisa senão de uma “paixão comercial”.A “escada” que conduz à fidelização começa com o estabelecimento de confiança. Sem ela, nem mesmo a primeira transação comercial pode ser realizada. Todos os esforços iniciais de comunicação, posicionamento, precificação, etc, visam conquistar a confiança dos possíveis clientes (prospects).

 

 

Vencido o primeiro desafio, compreendemos que não basta obter confiança, teremos que fazer a gestão da confiança para que ela se mantenha ao longo do tempo originando credibilidade (aqui entendida como confiança mantida ao longo do tempo). Conquistada a credibilidade, teremos igualmente que fazer a sua gestão, mantendo-a sempre, ao ponto de conquistarmos a admiração de clientes, submetidos a sucessivos “momentos da verdade” positivos.

 

Conquistar a admiração já é um estágio mais avançado na direção da fidelização. A conquista da admiração dos clientes demonstra que já não estamos simplesmente atendendo às suas expectativas, mas superando-as em alguma medida.

 

Esta superação de expectativas terá que ser mantida através de uma política de atendimento, vendas e gestão orientada para o cliente. É a manutenção da admiração com níveis crescentes de satisfação a cada interação que conduz ao próximo estágio: o encantamento.

 

Neste ponto há certa variedade de opiniões entre diferentes autores e pesquisadores: uns apontam para a necessidade de sobreencantar os clientes (superar o encantamento), outros no sentido da manutenção deste nível de encantamento.

 

Qualquer uma das duas posições teóricas mais defendidas visa o mesmo objetivo: tornar o cliente apaixonado pela marca, produto, serviço e empresa!

 

A paixão do cliente é a meta, o topo da montanha, ou se quisermos, o degrau almejado na escalada do sucesso comercial…

 

A paixão é um estado intenso e por esta característica, clientes apaixonados tornam-se defensores e principais divulgadores das razões de sua paixão através do poderoso boca-a-boca; email-a-email; além das redes sociais e etc. Quem está apaixonado sempre defende o objeto de sua paixão.

 

Trabalhar com Marketing é trabalhar com a parte mais humana, intensa, criativa, inovadora e instigante do universo dos negócios. O grande desafio do Marketing é gerar negócios estabelecendo uma ponte entre empresas, marcas, produtos e serviços (também desenvolvidos sob seus critérios) e seu público-alvo. Tudo isso na instável, mutante e enigmática arena dos negócios. Só os apaixonados por marketing conseguem apaixonar seus clientes e os clientes de seus clientes!

 

Quem ainda não pensa assim, ainda não foi apresentado ao Marketing… Paixão e marketing são praticamente uma coisa só. Experimente!

Marketing: o poder do posicionamento

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Assim como a filosofia é a busca sistematizada pela verdade através da razão, podemos entender o marketing como uma busca pela geração de negócios através do posicionamento.  Muitos profissionais de marketing se esquecem desta questão essencial e ficam perdidos nas “periferias” do marketing.  Para utilizar um reducionismo didático, podemos dizer: posicionamento é tudo!

 

Se o desafio do marketing é vencer a batalha das percepções, fica evidente o papel central do posicionamento. Vamos defini-lo de maneira objetiva: Posicionamento é o “local” que você ocupa na percepção dos clientes em função de seus esforços de marketing.

 

Um produto será premium ou “de combate” em função do posicionamento definido. As ações de comunicação também serão eleitas em função do posicionamento, assim como todas as outras ações de marketing.  Como enuncia Jack Trout: “O sucesso ou fracasso se relaciona a todos os problemas e oportunidades percebidos no mercado. E trata-se de entender que as percepções na mente do cliente são o território onde você ganha ou perde.”

 

É fato que a competição intensa em um mundo de tantos entrantes e novos nichos todos os dias tem confundido alguns profissionais de marketing, que ficam perdidos com tanto ruído e se esquecem da essência da mensagem. As especulações em torno do tal “novo consumidor” geram artigos e mais artigos, teorias e mais teorias; surgem conceitos como brandscendence, branding emocional, buzz, brandjam, etc.

 

Porém, muitos autores destas teorias não se dão conta que a essência do consumidor não mudou tanto assim. O cenário mudou. O consumidor hoje tem mais acesso a informação. Sua vida e necessidades se sofisticaram, e ele ficou mais exigente. Apenas isso. A essência do consumidor continua a mesma!

 

Enquanto muitas empresas míopes se perdem em projetos mirabolantes que envolvam todos estes novos conceitos, empresas e profissionais conscientes fazem coisas simples com enorme impacto para os negócios, pois estão focados na essência do posicionamento. O essencial e o óbvio são evidentes quando olhados de trás para frente, mas o desafio dos profissionais do marketing é acioná-los na ordem inversa… Observe que o posicionamento permite que você, ao invés de tentar a inglória batalha contra marcas já estabelecidas na mente dos clientes, estabeleça a sua marca com base nas fraquezas de seus concorrentes. Vale lembrar que os consumidores estabelecem rankings de preferência em suas mentes.

 

É evidente que a maneira mais fácil de alcançar o “top of mind” dos clientes é ser o primeiro a conquistá-lo, mas isto nem sempre é possível. Diante desta impossibilidade você terá que desenhar novas estratégias, criar novas categorias que permitam à sua marca ser percebida como diferente e, preferencialmente, como “única” (incrivelmente diferente e especial, à parte da competição).

 

Marcas vencedoras passam a vida toda reforçando, sofisticando e intensificando o seu posicionamento na mente de seus clientes, adaptando este posicionamento às novas realidades.

 

Mais uma vez, citando Jack Trout: “Para ter sucesso hoje é preciso estar em sintonia com a realidade; e a única realidade que realmente conta é a que já está na mente dos prospects.”A história demonstra que a marca número um na mente dos clientes, possui em média, o dobro do market share da marca que ocupa a posição número dois. Diante disto, o toque de genialidade é a criação de uma nova categoria, onde os clientes criem um “novo ranking”, e possamos ser reconhecidos como número um. Todos os esforços de inovação dos tempos atuais estão, em verdade, na busca desta conquista.

 

Quando entendermos que devemos ter o posicionamento como ponto de partida e que ele não está apenas ligado a comunicação e promoção, estaremos realizando um marketing muito mais efetivo, menos caótico e incrivelmente mais acessível.  Profissionais de marketing que queiram se diferenciar no mercado precisam parar de ser iludidos por tanto ruído, voltar às origens e tornarem-se “gênios” em posicionamento.

 

Quando os modismos afetam os criadores da moda, ninguém mais sabe quais são as tendências. É isso que precisamos evitar no marketing, estamos aqui para encontrar soluções e não intensificar os problemas.  A temática do marketing se resume a entender seres humanos, o restante é cenário! Lembre-se disso.

A Era da Administração e os 45 anos de regulamentação da profissão no Brasil

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A administração completa quarenta e cinco anos de regulamentação no Brasil e comemora a chegada da sabedoria e da maturidade. Os maiores gênios da humanidade realizaram suas maiores contribuições depois dos quarenta e cinco anos. Podemos aplicar esta analogia à ciência da administração, que apesar de uma história repleta de realizações, entra a partir de agora em seu mais fantástico período.

 

É bem verdade que a administração possui juventude extrema para uma ciência, especialmente se comparada com a filosofia, cuja origem remonta ao século VII A.C. com Thales de Mileto. Ocorre que a administração se apoia em várias outras ciências, dentre elas a própria filosofia, e nelas encontra alicerce firme e seguro para avançar em condições exponenciais rumo à sua maturidade. Lembremo-nos que Peter Drucker se autodenominava um filósofo da administração.

 

Assim, paradoxalmente, a administração é uma jovem senhora, jovem na temporalidade, senhora nas conquistas exponenciais já realizadas. É, seguramente, uma das ciências humanas que mais se desenvolveu e produziu conhecimento durante os últimos cinquenta anos.

 

Lembremos que em passado bastante recente, as empresas, ainda presas aos aspectos tangíveis da produção de riqueza e ao paradigma da sociedade industrial, eram comandadas por engenheiros, especialmente os engenheiros de produção. Devemos a estes profissionais o mais profundo respeito, mas é indispensável observar que eles próprios migraram sua área de interesse e busca intelectual para os campos da administração, na certeza que somente o exercício da administração responderia aos múltiplos desafios da era pós-industrial. Os engenheiros foram a primeira categoria de profissionais a lotarem os cursos de pós graduação e MBAs em administração.

 

O avanço da sociedade do conhecimento e os inexoráveis desafios da qualidade, produtividade, competitividade, inovação e sustentabilidade pediam pela urgente ascensão da categoria dos administradores ao topo da hierarquia das decisões, e isso ocorreu!

 

Os profissionais de administração no Brasil possuem uma dívida de gratidão imensa com o CFA e CRAs pela visibilidade, reconhecimento e fiscalização da profissão no Brasil. E assim como fomos um país de engenheiros, um país de advogados, somos hoje e seremos também no futuro, um país de administradores. O avanço da economia do país se deve a um conhecimento mais profundo da ciência da administração e à ascensão desta categoria de pensadores/realizadores que tornaram o intraempreendedorismo palavra de ordem no dia a dia das organizações.

 

Agradeçamos todos nós aos Conselhos de Administração, às faculdades de Administração e seus professores, aos profissionais com registro da categoria e aos pensadores brasileiros e mundiais que transformaram a história dos negócios ao aprofundarem os debates e contribuições em gestão de negócios e gestão de pessoas.  Todos nós temos uma coisa em comum: somos apaixonados pela fantástica ciência da administração – a quem devemos os maiores avanços públicos e privados da história recente do Brasil. Nosso país continua demandando pela excelência do exercício da administração; as melhores gestões públicas do Brasil são as que estão a cargo de administradores.

 

Agradecemos aos sociólogos, engenheiros, advogados, economistas e demais profissionais, mas almejamos ver o Brasil governado por administradores de carreira e não políticos de carreira; quando isso ocorrer mostraremos ao mundo a que viemos…

 

Parabéns administradores brasileiros. O Brasil e o mundo agradecem sua contribuição e lhes abre passagem para a Era da Administração – a saída do berço esplêndido para um futuro de magnas realizações.  Que a categoria encontre os caminhos necessários de intercâmbio de conhecimento, geração de novos conhecimentos, unidade e sintonia para escrevermos a história que todos desejamos ler. Afinal, como dizia Peter Drucker: “Não se pode administrar mudanças, é preciso estar à frente delas!”

Planejamento, Sim ou Não?

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Eis um tema que sempre gera longos debates. Planejamento de vendas, planejamento estratégico, plano orçamentário, planejamento de capacidade, planejamento de pessoal, plano operacional, plano financeiro, cronograma de projeto, enfim, são inúmeras as formas de se aplicar o simples exercício de pensar à frente no tempo para antecipar dificuldades e se precaver contra incertezas. Várias pesquisas indicam que a falta de planejamento é um dos principais motivos que levam as empresas nascentes a fecharem prematuramente. Livros de administração, cursos e consultorias vendem diversas formas de solução baseados em ferramentas que auxiliem no processo de planejamento.

 

Por outro lado, muitos empreendedores, hoje bem sucedidos, já declararam com bastante convicção que se tivessem baseado o negócio deles em um planejamento prévio, detalhado e abrangente, já teriam desistido do negócio antes mesmo de começar. Exageros à parte, a verdade é que existe um fundo de verdade neste raciocínio. Onde está a explicação por trás desta contradição?

 

O planejamento requer uma certa dose de adivinhação, ou seja, antecipar-se a coisas que podem acontecer no futuro. No caso do cenário econômico brasileiro, este é um exercício um tanto quanto desafiante, dados a instabilidade e o dinamismo do ambiente, no qual as variáveis que podem gerar algum impacto no negócio são tão diversas que é uma ilusão considerar que as condições mais relevantes para o negócio possam ser antecipadas para a elaboração de um plano eficaz e acurado. Não sabemos qual vai ser o comportamento do concorrente ou do cliente. Não temos como descobrir o impacto de certas mudanças na legislação sobre o nosso negócio. É praticamente impossível conceber todos os agentes externos que podem gerar alguma influência sobre o negócio.

 

A verdade é que todos os planejamentos são mera adivinhação. E se assim for, então porque planejar? Porque gastar tempo e esforço para se dedicar algo que pode não servir para nada? A resposta é que, mesmo sendo mera adivinhação, os bons planos são aqueles cuja adivinhação está o mais próximo possível da realidade. Portanto, só vale a pena planejar se este planejamento estiver embasado em dados concretos, em estudos bem feitos e numa boa dose de experiência do empreendedor no negócio ou setor.

 

O segundo elemento de um bom planejamento é a capacidade de adaptação do plano. Um mal plano estabelece o que deve ser feito com todos os detalhes possíveis previamente estabelecidos. Um bom plano, por outro lado, considera que os pressupostos sobre os quais o planejamento foi construído, podem mudar, e portanto, o plano deve ser flexível o suficiente para acomodar mudanças conforme novas circunstâncias forem surgindo.

 

O terceiro elemento de um bom plano é a capacidade de efetivamente mudar o futuro. Embora muitas variáveis estejam fora do controle do empreendedor, o bom plano é aquele que se baseia em ações do empreendedor que possam condicionar a realidade para se adequar às prescrições estabelecidas no plano. Quanto mais o plano for dependente de variáveis fora de controle, menos relevante ele se torna.

 

O quarto elemento é o horizonte de tempo. Quanto mais longo for o prazo das ações previstas no plano, maior é a chance de não acontecer o que foi previsto, pois pequenas mudanças que ocorrem no curto prazo geralmente levam a caminhos muito distintos no futuro mais distante, tornando as previsões do plano completamente irrelevantes. Bons planos são detalhados no curto prazo, quando as variáveis são mais previsíveis e controláveis, e mais abrangentes no longo prazo, servindo apenas como indicadores de direção, com poucas ações operacionais. Na medida em que o tempo avança e o empreendedor vai adquirindo mais informações sobre o ambiente, ele pode ir revisando e adequando seu plano, incorporando detalhes que antes ele não teria como colocar.

 

Não se esqueça, entretanto, que o bom empreendedor também sabe ler o momento e reconhecer quando esquecer o árduo esforço de planejar feito anteriormente para deixar seu negócio navegar livremente ao sabor do vento de vez em quando para ver, se no local onde aportar, existirão novas oportunidades a serem aproveitadas. Ter o espírito e a mente aberta para o desconhecido, para o pioneirismo e o desbravamento de novos horizontes é o caminho daqueles que escolhem a inovação como fator que diferencia seu negócio dos concorrentes.

O Paradoxo da Inovação

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O enorme crescimento da competição fruto da globalização e do salto tecnológico e, uma maior maturidade do capitalismo criou nas empresas um comportamento obsessivo que requer atenção.

 

Hoje, os maiores interessados em tornar nossos produtos obsoletos somos nós mesmos; e devemos fazer isto antes que a concorrência o faça. Com o avanço da tecnologia ficou cada vez mais fácil fazer benchmarking e engenharia reversa, possibilitando a oferta de produtos tecnicamente parecidos, a preços semelhantes no mercado.

 

Frente a esta realidade, torna-se indispensável a criação contínua de novos diferenciais competitivos. Redescobrindo o poder da sedução dos consumidores pelo novo, as empresas se lançaram em uma busca nem sempre refletida de inovações.

 

Ainda que a inovação seja uma premissa atual, ela tende a ser, por outro lado, cada vez mais difícil e onerosa de manter-se ao longo do tempo. E é exatamente nisto que consiste o paradoxo da inovação:

 

“Quanto mais inovamos mais difíceis se tornam as próximas inovações e, portanto, a manutenção de uma estratégia competitiva baseada apenas na inovação”.

 

A implantação de cada inovação tende a custar mais que a anterior porque para inovar são necessários novos aportes financeiros para pesquisa, desenvolvimento, planejamento, produção, marketing e comercialização. Eis o risco de cada inovação; se o mercado assimilar como valor este “novo” que estamos ofertando, todo nosso dispêndio terá sido investimento. Se não responder desta maneira, nosso dispêndio transforma-se imediatamente em custo!

 

Todo produto possui um ponto “ótimo”, a partir do qual as novas modificações (inovações) começam a agregar um valor percebido cada vez menor. Partindo da clássica visão de marketing onde quem compra uma furadeira não precisa dela e sim dos furos, vemos que enquanto algumas empresas estão insistindo em inovar furadeiras (inovação redundante), outras podem investir em um novo paradigma para obter furos (inovação consistente).

 

A inovação ingenuamente conduzida pode estar na contramão de outra característica da competitividade atual: a redução de custos. Como lidar com estas ambiguidades?

 

O primeiro desafio é justamente vencer o comportamento obsessivo de fazer as coisas compulsiva e repetidamente sem a devida reflexão sobre suas repercussões no curto, médio e longo prazo. Ao adotar tal comportamento, as empresas se esquecem de perguntar qual é realmente a melhor estratégia para chegar ao resultado esperado.

 

Considerar apenas os aspectos positivos da estratégia centrada na inovação é equivalente a idealizar ingenuamente a diferenciação como o remédio para todos os males.   A inovação não traz apenas benefícios, assim como o aumento do crédito e das exportações também não; é difícil encontrarmos no mundo algo que traga somente benefícios!

 

É fundamental observarmos a inovação dentro do contexto geral do negócio e não isoladamente; o vício de isolar uma só variável é a causa de muitas lacunas nas estratégias empresariais.  Esta não é apenas a era da inovação, mas também a da inclusão, da redução de custos, das margens estreitas, da concorrência globalizada, da análise do risco, da busca de clusters, da inteligência competitiva, etc.

 

Cada uma destas variáveis altera as repercussões de cada inovação que introduzimos no mercado e seus efeitos sobre o nosso negócio.  Ainda que teoricamente as possibilidades de inovar sejam ilimitadas, há um momento em cada mercado onde uma inovação adicional não compensa os esforços necessários para introduzi-la.

 

Veja este exemplo envolvendo a IBM, Apple e Intel. A Apple sempre foi reconhecida por seu foco em inovação e performance. Como a Apple já representava uma parcela pequena dentro dos negócios da IBM, tornou-se desinteressante para a IBM continuar investindo nas inovações solicitadas pela Apple na fabricação de processadores.

 

Para a Apple fazia-se necessária uma redução no custo de produção dos chips para ofertar seus computadores a preços competitivos no mercado, aumentando sua base de clientes. Como a Intel disponibiliza chips de excelente qualidade a preços muito competitivos, vimos uma grande mudança de paradigmas na fabricação do Macintosh, que passou a contar com chips da Intel.

 

Por que a IBM optou por não continuar investindo nas inovações solicitadas pela Apple?

 

A IBM, possuindo outras oportunidades de mercado muito mais lucrativas e com maior participação no seu negócio, percebeu que obteria melhores resultados abrindo mão de inovar esta linha de chips demandada apenas pela Apple e focando seus esforços nos negócios que realmente lhe são mais lucrativos. Como vimos, às vezes, não insistir na inovação de determinados produtos pode ser uma estratégia alternativa.

 

Outro grande perigo da inovação compulsiva é o aumento do estresse da decisão de compra.

 

Há no mercado muitas variações para um mesmo produto. Diante de, por exemplo, oitenta opções de creme dental, um consumidor sente uma ansiedade de decisão (decidir custa tempo) e, por mais que seja um experimentador nato, ele tende a buscar diminuir o estresse elegendo uma marca/opção e, uma vez obtendo satisfação, acaba fidelizando sua escolha. No longo prazo este fenômeno faz com que o perfil dos experimentadores torne-se gradativamente mais conservador.

 

Assim, quanto maior o volume de inovações em um curto espaço de tempo, mais difícil ficará a partir de um determinado momento que os consumidores queiram tão intensamente o novo em função do estresse de decisão de compra e de uma racionalidade de compra crescente. Cada inovação, a partir daí, terá que ser muito significativa e para consegui-las teremos que investir corretamente em P&D.

 

Peter Drucker disse com sua sabedoria de sempre:

“A inovação depende, ao mesmo tempo, de concepção e percepção. A inovação produtiva e sistemática começa com a análise das oportunidades”.

 

Precisamos analisar se estamos ampliando ou diminuindo as oportunidades futuras introduzindo inovações de pequena relevância, que possuem ciclos de vida cada vez mais curtos, e custam cada vez mais caro. Isso pode funcionar no curto prazo, mas impossibilitar estratégias de médio e longo prazo.

 

Estratégias não são como o vinho, ao contrário, são como as uvas e possuem sua época própria. Consumi-las fora de época e sem refletir sobre o futuro é ingenuidade e falta de planejamento. Nosso foco é obter resultados crescentes para o negócio e não apenas a diferenciação dos produtos e serviços. O futuro do negócio, para algumas empresas, pode significar abandonar absolutamente estes produtos e serviços e até migrar para outros mercados transformando a própria natureza do negócio. No capitalismo, o capital migra sempre para onde estão as maiores oportunidades de lucratividade.

 

A grande questão não é inovar, mas sim quando e como inovar e, quando buscar outra estratégia. A busca obsessiva e irrefletida pela inovação pode significar miopia estratégica.

 

O foco da inovação excessivamente centrada no produto não condiz com a era pós-industrial. Enquanto insistem em inovar seus produtos, muitas empresas não percebem que seria melhor inovar seu marketing, seu estilo de gestão, sua imagem institucional e demais estratégias frente ao mercado.

 

Nosso foco deve ser resultado e para obtê-lo devemos considerar que o custo dos erros de um projeto hoje em dia comparado com o de dez anos atrás é exponencialmente maior. Errar tornou-se infinitamente mais caro e inadmissível. Portanto a decisão de inovar deve ser amplamente refletida e não apenas um impulso frente à tendência atual.

 

Encontre, especificamente para a sua empresa e o seu negócio quais são as melhores estratégias. Inovação é apenas uma delas!

Recomendação de Leitura:

PORTER, Michael E. – Competição: Estratégias Competitivas Essenciais. São Paulo: Campus, 1999.

COLLINS, James e PORRAS, Jerry – Building Your Company’s Vision: Harvard Business Review, 2000.

KOTLER, Philip – Administração de Marketing, 10a Edição. São Paulo, Pearson, 2000.

Ser empreendedor ‘demais’ não é bom

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Muito se fala sobre empreendedorismo hoje, sobretudo enaltecendo a figura do empreendedor como sendo uma pessoa repleta de qualidades invejáveis como inovador, líder, arrojado, seguro, assertivo, otimista, persistente, entre várias outras que contribuíram para se construir um mito de que o empreendedor é um grande herói. Hoje muitos se comparam a este perfil, querem ser empreendedores, enfatizam suas competências empreendedoras. Cada vez mais anúncios de emprego listam a atitude e o comportamento empreendedor como qualidade desejável. Todos querem ser reconhecidos por esta qualidade, embora poucos na verdade a possuam.

 

Bem, na semana retrasada, recebi um email de um ex-aluno que reconheço como um verdadeiro empreendedor. É pró-ativo, dinâmico, super ativo, inteligente, com grande capacidade cognitiva, traços de liderança, criativo e influente. Ele me contou que participou de um processo seletivo para uma vaga em uma grande multinacional e suas competências empreendedoras o ajudaram a avançar por todas as etapas do processo, até que chegou na entrevista com aquele que seria seu futuro chefe. Não passou! Segundo o entrevistador, o candidato era empreendedor demais. ‘Empreendedor demais!!!!`, quase ouço meu aluno gritando no email, como alguém pode ser ‘empreendedor demais’ escreve inconformado.

 

Como tudo na vida em excesso não é bom, ser empreendedor, a despeito de tudo de bom que se fala, em excesso também não é bom. Deixe-me citar algumas explicações por meio das mais conhecidas competências empreendedoras:

 

a) Ser inovador demais significa que a pessoa não tem constância, não termina o que começa, vive tendo idéias, uma atrás da outra, o que compromete a capacidade de realização, pois sempre vai surgir uma idéia melhor do que a que ele está realizando;

 

b) Ser pró-ativo demais significa que a pessoa pode tomar decisões por conta própria sem a experiência e o conhecimento suficientes para uma boa decisão e assim acabar sendo precipitado e escolher caminhos inadequados;

 

c) Assumir riscos demais significa que a pessoa pode estar comprometendo recursos à toa, pode estar colocando muita coisa a perder, e pode estar expondo demais pares, clientes e seu supervisor;

 

d) Ser persistente demais significa que a pessoa pode estar usando parâmetros errados que o levem a insistir demais em coisas que não valem mais a pena, podendo facilmente se tornar mera teimosia;

 

e) Ter autonomia demais significa que a pessoa pode ter dificuldade para trabalhar em equipe, dividir responsabilidades, confiar em outras pessoas. Tem menos paciência para lidar com pessoas menos capazes do que ele;

 

f) Ser auto-confiante demais significa que a pessoa pode ter uma visão distorcida da realidade, apoiar suas decisões demasiadamente em suas próprias intuições e se fechar às influências externas que o contradigam.

 

Além disso, é importante ressaltar que nem todas as empresas precisam de empreendedores em todos os cargos e funções, é como dizer que todas as posições de um time de futebol precisam ser preenchidas por craques como Kaká. Cada posição requer um perfil diferente e nem todos precisam ter empreendedores.

 

Por isso, digo ao meu ex-aluno que, o fato de o futuro chefe ter dito isso traz indícios de que ele não se sente à vontade com um funcionário muito empreendedor em sua equipe. Convenhamos, não é fácil ser chefe de um empreendedor. Empreendedores são difíceis de se lidar, são ousados, arrogantes, auto-suficientes, querem ir sempre além do limite, esquecem regras e hierarquia com facilidade, estão sempre sonhando alto, têm dificuldade em realizar tarefas burocráticas, rotineiras e de controle, acabam se metendo em mais coisas do que são capazes de entregar, são enfim, pessoas que podem trazer mais prejuízos do que benefícios e não é qualquer um que gostaria de enfrentar o desafio de ‘segurar’ ou ‘domar’ funcionários com perfil empreendedor.

 

Ouso ainda afirmar que muitas pessoas se sentem ameaçadas por subordinados empreendedores. Muitos chefes que não são muito seguros de si não suportam alguém sob seu comando que brilhe mais do que eles. Pode parecer surpreendente, mas muitas pessoas com atitude empreendedora perdem o emprego justamente por aquela que deveria ser visto como sua grande qualidade. Já presenciei vários casos de funcionários empreendedores discriminados pelos colegas que relatavam críticas a este perfil para disfarçar a inveja por não deterem estes traços.

 

Portanto, vamos tratar de desmistificar esta idéia de que verdadeiros empreendedores são necessários e valorizados em qualquer lugar. Não me surpreendo se meu aluno for melhor sucedido em uma outra oportunidade semelhante se ele ‘esconder’ algumas de suas características empreendedoras.

50 anos de Miopia em Marketing

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Textos clássicos são aqueles cujas contribuições permanecem ao longo do tempo, abrindo espaço para reflexões progressivas. Dentre os textos clássicos de Marketing, “Miopia de Marketing” de Theodore Levitt (Harvard Business Review, 1960) que comemora seus 50 anos de existência, é uma evidência de contribuição atemporal, uma vez que seus desdobramentos continuam a impactar aqueles que realmente pensam a realidade dos negócios.

 

Levitt chamou a atenção sobre o foco equivocado (miopia) na produção e comercialização de bens, alertando que o foco deveria estar nas percepções de valor do mercado, ou seja, na satisfação dos clientes. Esta reflexão é um importante divisor de águas que contribui para a criação e evolução do conceito “customer lifetime value”, evidenciando que o foco não deve estar nas vendas de curto prazo, mas na satisfação, fidelização e relação de longo prazo com os clientes.

 

Ainda hoje, muitos gestores continuam submetidos a miopias de marketing, como a de acreditar que a tarefa essencial do Marketing é convencer prospects (possíveis clientes) que a empresa possui o melhor produto ou serviço, ao invés de investirem em um posicionamento de unicidade na percepção de seus clientes. Al Ries, profundo pesquisador do tema, propõe em vários de seus livros e artigos que a tarefa essencial do marketing é encontrar ou “criar” uma nova categoria em que a empresa possa ser reconhecida como a número um.

 

Unindo as contribuições de Levitt e Ries, apenas para citar dois autores, fica evidente que marketing não é uma batalha entre produtos e serviços, é uma batalha de percepções. E para vencer esta batalha, o melhor caminho é ser percebido como único, à parte da competição, pois a batalha de marketing é vencida dentro da mente dos clientes e prospects.

 

Clientes e prospects assumem a superioridade dos produtos e serviços oferecidos por empresas reconhecidas como únicas, evidenciada pelo seu amplo reconhecimento no mercado.  Conquistas como “top of mind” (estar no top da mente do cliente), “share of mind” (possuir um lugar na mente do cliente) e “slice of heart” (conquistar um espaço no coração do cliente) – são incrivelmente mais fáceis de serem atingidas ao estabelecermos uma “nova categoria” onde possamos liderar. Muitas vezes, isso não requer grandes investimentos em P&D – idéias simples são as que conquistam mais rápido a mente e o coração dos clientes.

 

Sempre há oportunidades para desenvolver uma “nova categoria”. Agregar valor não significa sempre oferecer mais. Na aviação, por exemplo, o modelo da South West Airlines – que inspirou a estratégia low-cost no Brasil – foi exatamente assim. Ao invés de oferecer mais que a concorrência, as empresas low-cost passam a oferecer algo diferente, mais simples e mais barato, porém com a mesma funcionalidade no que tange ao serviço essencial. Assim são muitas das estratégias low-cost, low-rate.

 

Em alguns casos, criar uma nova categoria implica a introdução de novos produtos. Qual era efetivamente o potencial do mercado de “bebidas esportivas” antes da Gatorade?
Em outras situações, criar uma nova categoria, não significa necessariamente o desenvolvimento de novos produtos. Novas formas de comercialização também podem originar uma nova categoria. Qual era o mercado de computadores pessoais vendidos diretamente ao consumidor, sem o uso de canais tradicionais de venda antes de Michael Dell iniciar a sua companhia?

 

Empresas e gestores não devem se permitir a miopia contida em idéias pré-concebidas do tipo “não há mercado para isso”.
As empresas estão sempre repletas de novas idéias que permitem a criação de novas categorias, aguardando por implementação. Ries propõe, sempre com muito humor, que nas pequenas empresas as idéias e o entusiasmo de uma pessoa podem iniciar uma nova categoria e, que as mesmas idéias, em uma grande empresa permanecerão em comitês e reuniões por meses, até que esfrie o entusiasmo.
Levitt continua up to date, as miopias permanecem, com e sem variações… Ries também tem razão, a batalha das percepções continua demandando vitória.
É necessário revisitarmos os clássicos. Esta reflexão comprova que, em níveis aparentemente mais sutis, empresas continuam a cometer os mesmos equívocos motivadas por miopias semelhantes ou derivadas da tão bem enunciada por Levitt.
Afinal, não constitui miopia a prática de utilizarmos equivocadamente benchmarking para copiar ações da concorrência?

 

Seguem as miopias…
Obrigado Theodore Levitt por levantar, cinquenta anos atrás, esta questão extremamente significativa, que extrapola o ambiente de marketing e sensibiliza a reflexão em todas as áreas de gestão das empresas e da sociedade.

Lições da copa: Dunga é Líder ou Chefe?

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A Copa acabou e vida voltou ao normal. Ouso juntar-me ao time dos especialistas que tentam explicar as razões do fracasso, porém, desconhecendo futebol, minha abordagem será sobre o papel de líder desempenhado pelo nosso técnico. Nesta análise, gostaria de sugerir dois pontos de vista para avaliar o desempenho de um líder: O da equipe de liderados e da organização a qual o líder pertence. A equipe de liderados, seja a seleção brasileira ou uma equipe de trabalho, pode julgar seu líder como ótimo por diversos motivos.

 

Neste caso, pela postura adotada perante a equipe, pelo clima de confiança e respeito mútuo que cria, pela empatia gerada por compartilhar os mesmos sacrifícios e defender os mesmos valores, por valorizar a dedicação, cumprir o combinado e pela coerência de fazer o que se prega. Sob este ponto de vista, Dunga foi um líder exemplar, admirado e respeitado por todos os seus liderados, que se sujeitavam a grandes sacrifícios e privações porque acreditavam nele e na sua visão de que a disciplina e o rigor representavam os ingredientes para a receita de sucesso que ele havia traçado para a conquista maior de suas carreiras. Sem dúvida nenhuma, seu relacionamento com a equipe foi totalmente inverso do seu colega que estava à frente da seleção francesa, que, por outro lado, semeou a discórdia, impôs condições unilateralmente, gerou desconfiança, desrespeitou valores e compromissos e expôs a fragilidade de sua liderança publicamente.

 

Bem, se apenas isso contasse, a história não teria acabado como acabou. Falta analisarmos o outro ponto de vista, aquele que é representado pela instituição a quem este líder responde ou aos clientes a quem este líder serve, no caso, a população brasileira. Havia uma meta estabelecida, uma expectativa altíssima gerada, uma confiança enorme depositada no desempenho desta equipe que simplesmente não foi cumprida a contento, a despeito de todos os esforços da equipe e de todos os recursos e liberdade dados de forma quase incondicional, numa demonstração de confiança irrestrita, depositada em uma única pessoa, o líder Dunga.

 

Os resultados obtidos demonstram que não basta ter uma equipe comprometida, unida e engajada para atingir os objetivos propostos. Ao contrário do que muitos pensam, isso não é suficiente para enfrentar as dificuldades impostas por um ambiente altamente competitivo no qual os mínimos detalhes diferenciam grandes equipes de equipes medíocres. Comprometimento, disciplina e motivação, embora requisitos importantíssimos a qualquer equipe não substituem um detalhe fundamental: o talento. O que faltou à nossa equipe foi talento.
Antes que o leitor interrompa a leitura por achar que este é mais um clichê que a imprensa e os analistas já cansaram de publicar deixe-me tomar este caso como um exemplo da diferença entre um líder e um chefe, já antecipando que Dunga não atuou como líder e sim como chefe. Explico.

 

Lembremos o que especialistas alertaram desde o anúncio da convocação dos ‘escolhidos’ por Dunga. Nomes que, a despeito da qualidade e talento amplamente reconhecidos, foram preteridos pelo técnico. A justificativa? As mais diversas, mas a maioria em torno do espírito de equipe e disciplina exigidos pelo técnico. Algumas pessoas trazem para a equipe os nomes que eles QUEREM, quando na verdade, deveriam escolher os nomes de talentos que eles PRECISAM. Dunga optou por trazer os nomes de confiança, aqueles que ele conseguiria lidar melhor, que estivessem mais alinhados com o seu pensamento e crenças, mas não necessariamente os nomes que ele precisava para compor todas as posições do time. Trazer as pessoas mais parecidas com você torna o seu trabalho de gestão de pessoas mais fácil, mas não necessariamente facilita o cumprimento de suas metas.

 

O caminho mais difícil, e por isso mesmo rejeitado pela maioria das pessoas, incluindo Dunga, é trazer pessoas que não necessariamente tenham o mesmo comprometimento, nem a mesma garra ou a mesma disciplina, mas cujo talento é necessário para a posição, talentos cujas habilidades são indispensáveis na composição do time. O verdadeiro líder precisa trazer as pessoas necessárias e enfrentar a árdua tarefa de despertar neles a paixão, obter o compromisso deles, exigir disciplina e comprometimento com o grupo. O que importa é que a composição das habilidades dos talentos escolhidos aumente as chances de atingir os objetivos. Entre uma pessoa talentosa, mas problemática e outra mediana, mas confiável, os líderes preferem a primeira, enquanto meros chefes optam pela segunda.

 

Trazer pessoas que não sejam exatamente o exemplo que o líder espera para então trabalhar para extrair o que falta nelas é assumir riscos e algumas pessoas, como Dunga não querem correr este risco. Assim como os chefes, ele prefere estar à frente de uma equipe mediana, porém comprometida e aderente com a sua visão e ficar na zona de conforto, um luxo que os líderes de hoje não podem mais ter. Já dizia Mário Andretti, corredor da fórmula Indy: ‘Se você sentir que está tudo sob controle é porque não está correndo riscos o suficiente’.

 

Dunga cometeu um erro muito comum no meio empresarial: achar que a falta de talento pode ser compensada com espírito de equipe. Seu exemplo mostrou que ter uma equipe mediana porém engajada não é mais importante do que ter uma equipe com talentos, mas com dificuldade para trabalhar em time. Criar o espírito de equipe e comprometimento é o papel do líder, mas despertar talento em quem não tem é tarefa impossível.
Em um mundo em que a competição é tão acirrada e os talentos tão escassos, cabe ao verdadeiro líder a responsabilidade de lidar com estas diferenças.

 

Se o seu foco for a inovação, por exemplo, isso se torna mais real ainda, pois a inovação implica em promover a diversidade na formação das equipes. É a diversidade que permite a observação de pontos de vistas diferentes sobre a mesma questão, ampliando as opções e facilitando a criatividade e identificação de oportunidades. Esta diversidade porém é uma diversidade com alto grau de complexidade de gestão, pois requer pessoas que pensam diferente, que possuem padrões de raciocínio diferentes, contextos profissionais e de vida diferentes uns dos outros, e conciliar este tipo de diversidade em torno de causas comuns é uma árdua tarefa que apenas líderes conseguem cumprir. Esta é a diferença entre líder e chefes. O chefe escolhe o caminho mais fácil, o líder escolhe o caminho necessário, mesmo que seja o mais difícil. E quem falou que é fácil ser líder?

Franquias e empreendedorismo

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Esta semana estive no evento promovido pela Revista PEGN que premiou as melhores franquias do Brasil. Foi uma grande festa, com muita alegria entre os premiados em uma demonstração de como este modelo de negócios tem crescido no país e gerando impacto na economia. Resolvi então adotar este tema para minha coluna deste mês. Muitos me fazem perguntas sobre a relação que existe entre franquia e empreendedorismo e a verdade é que não existe uma resposta simples para esta questão. Deixe-me explicar porque.

 

Em primeiro lugar, vamos separar dois personagens importantes: O franqueado e o franqueador. O franqueador é o dono do negócio original, que detém direitos sobre a marca, sobre o produto ou sobre o processo. Diante de um negócio bem sucedido, este empreendedor resolve crescer e, dentre as várias estratégias de crescimento, ele resolve franquear o seu negócio, permitindo que outras pessoas possam replicar unidades do seu negócio em outras localidades, sob regras e condições pré-estabelecidas e compartilhando os resultados. Não é qualquer tipo de negócio que pode adotar esta estratégia e não vou discorrer neste espaço sobre estes critérios, até porque existe no mercado farto material e vários especialistas sobre o tema que poderão falar melhor do que eu.

 

Já o outro personagem é o franqueado, ou seja, aquele sujeito que quer abrir um negócio próprio e escolhe uma franquia para reduzir os riscos da incerteza e inexperiência. O franqueado quer aproveitar um modelo bem sucedido, uma marca conhecida, um processo já estruturado, uma cadeia de valor já estabelecida ou qualquer outra vantagem que uma rede de franquias proporciona. Ele compra então uma franquia e reúne o seu sonho de ter um negócio próprio com o sonho do franqueador de crescer rápido. Um casamento de interesses bastante conveniente para as partes.

 

Muito bem, isso posto, vamos falar agora sobre empreendedorismo. Existem várias definições de empreendedorismo, então vamos começar com o conceito bastante popular que diz que empreender é começar um novo negócio. Neste sentido, o franqueado é empreendedor, pois ele está começando o seu negócio do zero, com algumas vantagens, é certo, mas ele tira o negócio do chão, bem dentro do conceito de empreendedorismo. Neste mesmo sentido, o franqueador não é empreendedor, necessariamente, pois ele não está mais começando o seu negócio, está em outra etapa, fazendo ele se expandir. Não existe uma unanimidade em torno do uso da palavra ‘crescimento’ em definições de empreendedorismo e por isso podemos dizer que o franqueador empreendeu no passado, quando começou o seu negócio, mas não agora, para fazer o negócio prosperar.

 

Bem, se fosse só isso estava fácil, mas agora vamos ver o perfil empreendedor. Para uma pessoa ser considerada empreendedora, é preciso que cumpra com três condições: Tenha alguma inovação, assuma algum grau de risco ou exerça alguma forma de autonomia nas suas ações. Isso posto, o franqueador é um empreendedor, pois ele assume tudo isso quando resolve adotar este modelo de negócio para crescer. Adotar um modelo de franquia é uma grande mudança para o negócio, os riscos são altíssimos em função do comprometimento de recursos sem garantia de sucesso e o grau de autonomia também é alto, uma vez que é uma decisão apenas do franqueador e de seus sócios. Não há dúvidas que o franqueador é empreendedor.

 

Já no caso do franqueado, vejamos: Se ele quer começar com uma franquia, um dos grandes motivos é reduzir o grau de incerteza que cerca novos empreendimentos. Com um processo já testado, com uma marca já conhecida, com um produto já definido, com uma estrutura de valor já estabelecida, os riscos são bem menores, ou seja, o franqueado é, supostamente, mais avesso ao risco do que o empreendedor. Uma das coisas que o franqueado admite quando adquire uma franquia é que as decisões sejam compartilhadas com a administradora da franquia, portanto, autonomia reduzida. Por último, a grande vantagem da franquia é a adoção de um modelo padronizado, no qual há pouco ou nenhum espaço para fazer coisas diferentes, há pouco espaço para criar e inovar. Podemos dizer então que o franqueado não é empreendedor.

 

Resumindo, expansão de um negócio por meio de franquias não é empreendedorismo, mas a abertura de uma franquia é empreendedorismo, ao mesmo tempo, o franqueador é empreendedor, mas o franqueado não.

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