O Papa Francisco, Jorge Mario Bergoglio, faleceu aos 88 anos nesta segunda-feira (21), após 12 anos de um papado marcado por transformações na Igreja Católica. O pontífice, o primeiro latino-americano e jesuíta a ocupar o cargo, deixa um legado de pioneirismo e uma história de vida singular, que inclui uma vocação religiosa tardia e um papel controverso durante a ditadura argentina.
Nascido em Buenos Aires em 17 de dezembro de 1936, em uma família de origem italiana, Jorge Mario Bergoglio cresceu no bairro portenho de Flores, onde desenvolveu fortes laços com a cultura argentina e o futebol, torcendo apaixonadamente pelo San Lorenzo de Almagro, clube fundado por um padre.
Sua infância foi marcada pela influência da avó Rosa, com quem frequentava a Basílica de San José de Flores, e pelas notícias da Segunda Guerra Mundial, que o impactaram profundamente. Aos 12 anos, em um internato salesiano, sentiu pela primeira vez a vocação sacerdotal, mas o chamado permaneceu adormecido por muitos anos, até se manifestar definitivamente na década de 1950.
Em sua autobiografia, “Vida – Minha História Através da História”, lançada em abril de 2024, Francisco revela que chegou a ter uma namorada antes de ingressar no seminário. Ele a descreve como “uma menina muito doce, que trabalhava no mundo do cinema e que depois casou-se e teve filhos”.
A guinada em sua vida ocorreu em 21 de setembro de 1953, quando, a caminho de um piquenique com amigos, sentiu um impulso irresistível de entrar na Basílica de Flores. Durante a confissão, ele experimentou uma profunda experiência espiritual, descrevendo-a como um encontro inesperado com Deus. “Eu estava maravilhado por ter encontrado Deus subitamente. Ele estava lá me esperando, antecipou-se a mim”, escreveu em sua autobiografia. “Mais do que um piquenique com os amigos! Eu estava vivendo o momento mais bonito da minha vida, estava me entregando totalmente nas mãos de Deus!”.
Apesar do chamado, Francisco manteve a decisão em segredo até concluir seus estudos. Em 1958, ingressou no noviciado da Companhia de Jesus, graduando-se em Filosofia e Teologia. Ordenou-se padre aos 32 anos e liderou a comunidade jesuíta durante a ditadura militar argentina.
Seu papel durante o regime militar foi objeto de controvérsia. Acusado de omissão e colaboração na prisão de padres jesuítas, Francisco sempre negou as acusações, afirmando ter intercedido pelos religiosos junto aos líderes da ditadura.
Após anos de serviço na Igreja Católica, Bergoglio ascendeu ao papado em 2013, adotando o nome de Francisco. Seu pontificado foi marcado por uma abordagem pastoral voltada para os mais vulneráveis, pela defesa do meio ambiente e por uma busca constante pelo diálogo inter-religioso.
O legado do Papa Francisco é de uma igreja mais aberta e inclusiva, que busca dialogar com o mundo contemporâneo e abraçar a diversidade. Sua trajetória pessoal, marcada por uma vocação tardia e por desafios complexos, o tornou uma figura singular na história da Igreja Católica.
Presidente Lula lamenta morte do Papa Francisco e decreta luto oficial de sete dias no Brasil:
“A humanidade perde hoje uma voz de respeito e acolhimento ao próximo. O Papa Francisco viveu e propagou em seu dia a dia o amor, a tolerância e a solidariedade que são a base dos ensinamentos cristãos. Assim como ensinado na oração de São Francisco de Assis, o argentino Jorge Bergoglio buscou de forma incansável levar o amor onde existia o ódio. A união, onde havia a discórdia. E a compreensão de que somos todos iguais, vivendo em uma mesma casa, o nosso planeta, que precisa urgentemente dos nossos cuidados.
Com sua simplicidade, coragem e empatia, Francisco trouxe ao Vaticano o tema das mudanças climáticas. Criticou vigorosamente os modelos econômicos que levaram a humanidade a produzir tantas injustiças. Mostrou que esse mesmo modelo é que gera desigualdade entre países e pessoas. E sempre se colocou ao lado daqueles que mais precisam: os pobres, os refugiados, os jovens, os idosos e as vítimas das guerras e de todas as formas de preconceito.
Nas vezes em que eu e Janja fomos abençoados com a oportunidade de encontrar o Papa Francisco e sermos recebidos por ele com muito carinho, pudemos compartilhar nossos ideais de paz, igualdade e justiça. Ideais de que o mundo sempre precisou. E sempre precisará.
Que Deus conforte os que hoje, em todos os lugares do mundo, sofrem a dor dessa enorme perda. Em sua memória e em homenagem à sua obra, decreto luto de sete dias no Brasil.
O Santo Padre se vai, mas suas mensagens seguirão gravadas em nossos corações.
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República”
Entre as declarações que ganharam destaque mundial do Papa Francisco, está a abertura ao diálogo com a comunidade LGBTQIA+ foi um ponto crucial. “Se uma pessoa é gay, busca o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”, questionou o pontífice, em uma fala que sinalizou uma mudança de tom na Igreja Católica.
A preocupação com os mais vulneráveis também foi uma constante em seu discurso. “Como eu gostaria de uma Igreja pobre… e para os pobres”, expressou Francisco, evidenciando seu compromisso com a justiça social e a proximidade com os marginalizados.
O papa também abordou temas sensíveis com franqueza, como a questão da natalidade. “Algumas pessoas acreditam que para sermos bons católicos temos que nos reproduzir como coelhos, mas não”, afirmou, demonstrando uma visão realista sobre a vida familiar e a responsabilidade parental.
A luta contra o abuso infantil, uma ferida profunda na Igreja Católica, foi outra prioridade de seu pontificado. “O abuso infantil é uma doença. E precisamos nos esforçar mais para selecionar candidatos que queiram ser padres”, declarou Francisco, demonstrando seu compromisso com a transparência e a proteção das vítimas.
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